2024/01/31

O pecado e ela

 


O pecado rendilhava-se. Sorrateiramente, por trás de uma sombra que, travessa, brincava com a porta daquele palácio perdido no tempo. Ela era a virtude falsa. O desejo sublimado em desníveis de razão. E ela recompunha-se, à medida que fugia da luz, e entrava na escuridão controlada daquele sítio onde nunca tinha estado. Mas do qual aprendia já a gostar. Fixou, durante algum tempo, o olhar num trilho empedrado, que a poderia conduzir a uma nova porta. O rumor de que aquele local estava mergulhado em histórias feias, sem dono e sem idade, parecia atraí-la a coisas que não sabia descrever. Mas que queria experimentar. Até agora, tudo era silêncio. Tinha-se despedido do som, com ligeiros rumores de pássaros que pareciam engendrar um plano para continuar a observá-la. Esperar o que aquela aventura poderia vir a dar. Ela despediu-se das horas. E depois dos minutos, dos segundos, e ao transpor uma nova porta, foi a mulher que sempre quis. Disseminada por todo o lado, e sem estar em lado nenhum. Isso fê-la querer pecar, mesmo sem ter ninguém ali com quem o fazer. Fazer coisas erradas, que não viessem nos livros nem fossem solução para nada. Mas não tinha ainda vivido para transformar-se num ser de caleidoscópio. Por isso sentou-se, no escuro. Sem olhos que usar, cruzou as pernas, apoiou o queixo nos nós dos dedos. E pensou. Pensou tanto, que sentiu a cabeça a esvaziar-se. Seria a melhor parcela de si, enquanto ali aguentasse estar….


2024/01/30

A forma negava

 


Vendia o que fosse preciso,

Tinha o suficiente para perceber que estava a mais,

Uma flor,

As unhas quebradiças,

Comer mais do que a vontade exigia,...


Não havia mais,

O amor ponderava,

Decidia,

E ele ia vendendo,...


A forma negava,

O que o conteúdo ia insistindo em procurar 

2024/01/29

Relva áspera do jardim

 


Os homens não sabiam,

Acreditava piamente nisso,

E talvez com essa ideia se deitou na relva áspera do jardim de todos os dias,

E pôs a mão no ombro de quem,

Ao seu lado,

Fazia o mesmo,....


Inspirou dolosamente,

Com a intenção clara de ferir as vias respiratórias,

E tentou aperceber-se,.. 


Havia um fumo de cheiro desiludido no ar,

E deu por si a inocentar pecados,

Reconsiderar as distâncias do céu ao ponto ínfimo onde estava,...


Perguntou ao inocente que esperava a seu lado,

E o silêncio fê-lo concluir,...


Os homens não sabiam de nada

2024/01/28

...anjos provocadores da desordem

Este é o mundo certo,
o que desejávamos,
o que temos aos poucos,
em frasquinhos sem etiqueta,
dispostos inutilmente em prateleiras sem fim,…

 

E ar,
ar sem fim respirado aos bochechos,
por imberbes idiotas que nos observam,
a ti e a mim,
como os anjos provocadores da desordem


2024/01/27

...chocarreiras,e macambúzias

 


Dava por si própria a vir de um sítio onde não se explicavam as ausências,

Em que as pessoas,

Se dividiam entre chocarreiras,

E macambúzias,...


Regressava por isso desanimada,

Consciente das vicissitudes de um mundo aborrecido,

Em que só a confiança na plenitude de uma noite que destapa o dia,

E num dia que invoca a profissão do amor,

No que a solidão deixa quando chega e parte,...


Estava para ficar,

Com o botão do pensamento amedrontado sempre,

A ligar e desligar

2024/01/26

....tomar banho nas cinzas

 


Que queimaremos,
faremos nossa a possibilidade de ruína,
um minuto transformado em dores de parto,
excruciantes desejos por depreciação,
prazer onírico e irreal,…

Queríamos a vontade,
mas vamos queimá-la,…

e tomar banho nas cinzas

2024/01/25

Mala de odores

com os cheiros todos
reunidos,
uma solução,
o barulho assustava,....

buzinavam para abrir caminho,
o terror dominava-me,
a mala fechada
com o féretro,
o teu perfume,
as lembranças porfiadas
da infância,
insistia em querer abrir-se,...

anoitece,
não há razão para o
medo,
um quarto inundado de impressões
oníricas de vida

2024/01/24

Interestelar

 


Desculpa, passou algum tempo,..
E realmente não sei isto de estar a falar para nada. Para um tempo e um espaço que não está lá ...
Foste embora há tantas manhãs. Deixei de saber os contornos de ti, a cor da tua pele, a forma como acordas, e o que me habituei a chamar de névoa que te envolvia a adormeceres.
Não tenho intenção de escrever para o espaço sideral. Até porque a espera dobra-se, como a constante espaço-tempo.
Não tenho inteligência para me armar em einstein. Só escrevo no fio da navalha, sem muito mais manta para me tapar que a espera me possa dar.
Dou-te o escuro como uma prenda. A escrita como uma chave. E a possibilidade de levitar. O verbo que melhor recito ao adormecer,....
Quando a espera me derrota, e me deixa quase morto. 

2024/01/23

Toalha de linho na mesa de casa

 


José Manuel, 25 anos, tenta equilibrar uma toalha de linho na mesa de casa. Ainda mora com os pais, mas não por uma razão normal de gestão familiar. Zezinho para os que o amam, não sabe tomar conta de si próprio. Geme quando é contrariado, ri-se dos próprios falhanços. Não sabe cuidar do corpo quando este pede, e a alma,...

Bem, essa é a melhor de zezinho. Dedicou-se aos outros quase desde que reteve controlo no corpo débil. Amava de forma muito própria. Exaustiva, dedicada, quase feroz. Parecia guardar uma lista mental do que fazer a cada dia. A primeira coisa era sempre estender uma toalha de linho na mesa da sala. Ninguém lho pedia. A mãe virava a cara sempre que o fazia. Era dedicada à gestão doméstica de forma intensa. E aquilo perturbava-a. Mas tolerava tudo a zezinho, porque era o seu menino. Quase morrera quando o teve. O corpo deslizou até ao limite, até muito perto da morte. Mas segurou-se porque zezinho era diferente. Os olhos amendoados, o corpo envolto numa pele aleitada, branca como as nuvens...

2024/01/22

Um anátema de dor estranho

 No fundo são muito poucas as palavras,

Um pai uma mãe,

O desespero em números fantasmas,

Uma casa de ilusão presa a secar ao sol,...


Dois loucos empertigados com mais que uma memória de amor,

Eu que subo e desço a rua dos últimos dias,

Porque me dói o corpo,

Um anátema de dor estranho,

Quase como uma mulher que pede sexo,

E depois adormece,...


Sublinho serem poucas palavras,

Mas talvez muitas flores ressequidas com o tempo

2024/01/21

Papel secundário

 


Ela era apenas a rapariga naquele filme,

Ele sentava-se despreocupado à beira de água,

Conversando consigo mesmo,

As pedrinhas de várias formas saltavam-lhe de mão em mão,

E acabavam a descontinuar o espelho de cristal liquido que repousava à sua frente,...


O papel dela era secundário,

Apenas confirmava que o tempo de nada contava ali,

Já que quando a sua presença se contava em Frações etéreas,

O espaço parecia refletir a singularidade de uma relação,

Que sobrevivia sem precisa medida de qualquer desespero


2024/01/20

...há pouco tempo

 há pouco tempo, quando as coisas corriam no momento certo, e eram deixadas intocáveis pelo afã inocente e devorador das pessoas, a verdade sabia a pouco. As frases começavam por lentidão, e não tinham fim. A voz era um apoio, e o movimento ingénuo um perdão.Quase um perdão infindo. E tudo foi há pouco tempo

                                                                    Tirado daqui

Passagem para a ilusão

 É meu, é teu,

O dia já perdeu perfeição,

Circunscreve as falhas da madrugada,

Como se de tudo pudesse sobrar apenas o tempo Esmiuçado,

E os nomes das pessoas espalhados nos sitios onde,

Ainda não houve gritos,....


Funciona como se fosse uma segunda pele,

Não há dor,

Litros de água invisivel que atenuem a ausência,

Não há uma parede que nos separe do óbvio,...


Esta será a passagem para a ilusão

2024/01/19

...e folheia-se

 


Há um caminho,

Aberto à braçada e ao pontapé,
Por entre gritos de insultos suezes e agressões violentas,...

Copos de vinho anulados ajudam a passada,
Vistas novas pessoas como ajuda a qualquer coisa,
O livro muda de página,...

E ressurge a covardia dos destinos traçados,
Das mortes preconcebidas e preconceituosas,...

E folheia-se e folheia-se,
Até um nascer do sol desdobrar e agitar as coisas,
Sem que nada de novo surja

2024/01/18

...os ossos estalam

 


Querer tanto mas tanto,

Que os ossos estalam,

O perto deixa de ser um conceito,

E desvanece-se no que resta da criação,...


Querer mais que a virtude,

Uma boca fixada como morte,

E por isso exala revolta,...


Querer,

Vender crença a preços depauperados e rotundos,...


Querer sem perceber,

Que a crença acaba,

Muito antes de o tempo se debruçar no vetusto sorriso do espaço 

2024/01/17

Lição monetária

 


Dava valor ao dinheiro. Apoucava-se mesmo como pessoa. Sentia os olhos a berlindar, como dizia, as mãos encovavam como se procurassem ajudar no designio de obter cada vez mais. E ela preparava-se a si própria para se oferecer a tudo o que obtivesse, e nunca o contrário.

O trabalho não contava. Qualquer um servia desde que pago em notas e moedas que falassem em sons de silêncio. Anotava o que ganhava, e deambulava sobre o que queria fazer com o que ainda viesse a ganhar.

E dizia ao primeiro, ao segundo, ao terceiro que falava todos os dias. Havia de um dia ter tanto, que deixaria de precisar de falar. Os sorrisos, os gestos de pouca monta, mas de muito auto-valor,seriam suficientes para si. O que viesse depois, mesmo que esse depois fosse o nada sem cores,forma,peso ou conteúdo, não faria mal.

2024/01/16

Força inconstante

 

O ĵúnior. Um cachorrinho simpático e curioso que encontrei por aí...


Põe a tua mão no meu peito. Sentes-me ofegante. Assoberbado,

Inquieto e incapaz de explicar que,

Preciso de quebrar a linha,

Desenhar rostos invisiveis em muitos papéis,

Que ao sorrirem-me inequivoca e tranquilamente,

Farão de mim uma melhor pessoa,...


Não sei quando nem por quanto a noite se vai atirar ao chão,

Sei que é escuro nos meus olhos,

A força inconstante do meu coração sente-se no ar,

E sou eu,

O cacto seco de mim,

O que aqui tens

2024/01/15

Caleidoscópio

 A cozinha parecia preparar-se para uma manhã alegre. O sol matizava-se num caleidoscópio de cores insinuantes, filtrando se pelos vidros das janelas amplas e alegres. O cheiro dos condimentos espalhados em peças de loiça tradicional espalhadas por vários cantos, pedia mantimentos fartos. Eram odores acres, misturados com o tradicionalismo das virtudes portuguesas na cozinha. E passamos agora a descrever quem se responsabilizava por este circo de alegria. Deolinda era uma mulher neutra. No seu âmago achava-se assim. A primavera da vida já lhe tinha escapado, e com ela a voragem do tempo tido como um obstáculo, e não como era agora:um simples e escorreito copo do mais puro dos vinhos. Jogava bem os sinais do envelhecer, com a necessidade de nadar no lago revolto da condição feminina.

2024/01/14

Copo de água rachado

 

A verdade,

Um copo de água rachado e apodrecido,

A verdade,

Ambos sem rumo na quinta avenida,

Empobrecidos e amargurados pelo desgosto,...


A verdade,

Tantas presunções de fim,

Mal tomadas e por concretizar,

A verdade,

Queremos sem conseguir dar as mãos,

E o sol cai sobre uma cidade de féretro

2024/01/13

Rosa nua e emudecida

 


As oliveiras de canteiro vivas por um fio,

O terreiro de trigo em sentido ao estio macilento de setembro a entrar,

Uma familia de andorinhas que baila feliz,

Esquecendo ter de partir em breve,...


Tudo escrito à revelia do tempo,

O tempo que para nós dois pende de um crucifixo abandonado,...


O tempo que por aqui tem espinhos,

Faz de rosa nua e emudecida,

E nunca permitirá que vivamos em colheita

2024/01/12

Rio taciturno

 


Uma coisa é não haver palavras,

E gemidos,

Nada a ocorrer sobre a morte,

E os lindos desejos da vida incendiados,

Quando deles nada queremos,...


Outra são os barcos,

O que sonhamos a estender-se por um rio taciturno,

Em parte nenhuma do mundo,

E que nos devolve sentimentos, engordados pela desaceleração da vontade de viver,...


Não fazem sentido disfunções como estas,

Mas da perfeição fujamos pausadamente 


2024/01/11

CIDADE ASFIXIA

 


A cidade fala com uma língua desconhecida. As pessoas defendem-se de ofensas, fazem o que podem por si e por aquilo que é seu. Mas a cidade ofende. Há quem jure que a vê caminhar em sapatos de sola gasta, a espezinhar os restos de felicidade que lhe escaparam na última caminhada. E entretanto morrem pessoas na cidade, duas, três por hora. Esperam o momento certo, e simplesmente desistem de se comprometer com o ser e o ter. Inspiram ar poluido, e desenganam-se de exalar. Acontece, e a cidade nada faz. Há um horizonte enegrecido em roda da cidade. Os livros abrem-ae sozinhos, numa dança sem música com o vento que irrompe pelas janelas. E quem observa, como quem aqui escreve, sente-se vazio. Incapaz de resistir. O tempo passa, E A CIDADE ASFIXIA. O MAIS pequeno pormenor representa uma evolução celular. Que, antecipa-se, nada representará nos presentes mortais de futuro que a cidade deixa espalhados pelos seus próprios limites.

2024/01/10

noite da minha vontade

 


vim aqui querer,
não simplesmente pavonear
a razão,...

desprezar artigos,
incentivar a ladroagem
que leve ao silêncio,...

não,
vim aqui fazer-me
notado,
quero amainar desejos,
mexer o café sempre
para o mesmo lado,
e ver as horas,
em relógios de cuco,....

vim querer,
porque já não planeio,
não executo,
espero só
que uma nuvem assente arraiais,
e o resto seja noite,....

noite da minha vontade,
de cores apagadas

2024/01/09

Homem disforme

 


As ruas,

As ruas poderão abrir-se de par em par ,

E ele,

O dos olhos sem cor e de roupa ataviada,

Virá amedrontado ,...


Comfundido com os dizeres politicos do passado ,

E chegará em silêncio,

Como expectável,...


Era e ainda é o homem disforme,

Sem nada para dizer,

E que por vezes se limita a andar por entre os intervalos do vento,

Anónimo e incompleto 

2024/01/08

Conversa inútil do que deixa os outros com fome

 


Não tenho segredos em mim,
o vidro desembacia-se quando falo,…

a recordar sou o mais falhado dos exequentes,
o que consegue fazer coisas,
abrir buracos sem ser engolido pela terra,…

mas depois,
depois falha sempre o átomo,
as conversas são depauperadas,
enquanto o cerne das questões fica
com fome,
é isso,
deixo os outros com fome quando
se relacionam comigo,….

e assim os segredos não vão querendo
nada comigo,
há a ponte,
e para lá da ponte estarei quando
o conseguir,….

antes disso é melhor que
me sente,
à sombra perfeita do Sol enlameado


2024/01/07

Janela apodrecida

 


Poderia a ilusão ter vivido mais que um gesto,

Que o desenho desabrido de rostos pelo ar,

Invisivel mas trágico,...


Poderia a questão gritada a vozes frias,

Que perderam o calor e a vontade,

Ter contado como comida,

Enquanto para nós só a água fazia de cama nos dias quentes,...


Poderia tanta coisa quando todas as certezas estavam mortas,

E era dia pelo buraco estreito da janela apodrecida do quarto

2024/01/06

Encontrei um auto-retrato. É só substituir o espanhol pelo português...

 Roubado daqui

Blas de Otero

 Notícias de todo o mundo



Aos quarenta e sete anos da minha idade
dá medo dizê-lo, sou só um poeta espanhol
(dão medo os anos, isto de poeta, e Espanha)
de meados do século XX. E é tudo.
Dinheiro? Carinho é o que desejo,
diz a copla. Aplausos? Sim, mas não o ensejo.
Saúde? A suficiente. Reputação?
Má. Mas cabelo sem moderação.
Dá medo pensá-lo, no entanto apenas me lêem
os analfabetos, não os trabalhadores, ou
as crianças.
Mas já me leram. Agora ando a aprender
a escrever, mudei de classe,
precisava de uma máquina de fazer versos,
perdão, de uns versos para a máquina
e, sobretudo, paz,
preciso de paz para continuar a lutar
contra o medo,
para brindar no meio da praça
e abrir o porvir de par em par,
para plantar uma árvore
no meio do mundo,
para dizer "bom dia" sem enganar ninguém,
"bom dia, carteiro", e que me entregue uma carta
em branco, de onde voe uma pomba.

Duas nações

 


Duas nações pomposa e cavalheirescamente sentaram-se à mesa,

Havia conflitos por resolver,

Dissidências avaliadas,...


Apesar de as expetativas serem poucas,

Os representantes optaram por desenhar um mundo de traçado irregular,

Com fogo visível nos extremos,

E no centro da mesa estava um livro,...


A louvar um principio de acordo,

Vários homens foram homens,

Admitiram erros,

Içaram um cálice agnóstico,

E despediram-se com gestos subtis de firmeza,

Até à próxima manifestação de insegurança do mundo

2024/01/05

Poesia opulenta

 Tentei lembrar-me de uns versos que em tempos decorara,

Afloravam-se como luz em prados oniricos,

Falavam de água,

Frases de água em chão de pedra gasto,...


Versos de todas as cores,

Que usei na lapela e na pele,

Versos que foram de sexo e brotaram vivos,

Da despedida arrependida que se seguiu,...


E houve paz anotada tremulamente,

Como retorno de uma memória boa

2024/01/04

Amores irreais de palco

 


Mas podia ser desses amores irreais de palco,

Um desejo indefeso,

Teatral e para sempre um mito,...


Podia ser quem soletrasse o seu nome em voz baixa,

Sem pânico,

Braços distendidos e descomprometidos,

E um corpo que aceitasse a diferença,

Esboroada a relutância de uma aura de desejo,...


Podia ser o final de um ato,

E a calma vontade de fazer melhor,

Para quem assiste

2024/01/03

Socializar

 Não tremia quando chegava a altura de escolher. Mentalizado estava, desde sempre, que nunca seria bafejado com um daqueles amores de cinema:

Sem medida, sem idade, só com virtudes, despido de roupas e preconceitos.

E por isso ia pelo coração. A pessoa, homem ou mulher, que lhe parecesse mais humana. O cenário era de um autêntico mercado de gado. As possibilidades estavam dispostas irregularmente pelos cantos do pavilhão de educação física. Onde as pessoas se refugiavam toscamente, de peito aberto, à espera de cumprir o designio da raça humana. Socializar. E ele procurava mesmo com o coração. Fê-lo várias vezes ao longo da juventude. E nunca de forma irrefletida. Sempre sentiu que se proporcionava a si próprio noites agradáveis. Era neutro sexualmente, algo que só percebeu muitos anos depois. Naquele tempo era só uma.pessoa em busca de compreensão, alívio fisico, satisfação de sentimentos. Ensinou-se a si próprio a ser adulto, e quando optou por terminar com esta prática, sentia que já era conhecedor da natureza humana...

2024/01/02

Entardecer em Tóquio

 


Os que a desprezavam mediam distâncias,

Aprofundavam ilusões relativas a um corpo perfeito,
A uma vontade inexpressiva,
E a uma medida de proveito sobrehumana,...

Não era deste mundo,
Costumava dizer que abraçava o nascer do sol na galáxia do canto,
Enquanto a sua pele era de entardecer em Tóquio,
E assim continuava,
Zelosa da noite que a acompanhava

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