2019/03/31

Absolutamente Maria sem nome

maria,
por equívoco,
refugiada estava
num quebrado mutismo,...

sem parecer,
nem contra senso perto
de qualquer coisa arredondada,
abandonada estava na
lateral infetada da solidão,...

inscrita na escrita,
perecia num qualquer
verso que lhe lembrava o amor,
os braços perdidos de quem
lhe foi guarida em noites sem nome,...

e hoje lá longe a deixa banhada
no esquecimento,
talvez merecido,...

e por fim o abrir
o Novo Testamento da
longa noite que custa
a passar,
recuperando a Maria,
sozinha,
de pleno direito


2019/03/30

Sem título (74)

não sabia que ao escrever-te cartas,
deixaria de saber escrever,
que o mundo me seria estranho,
com fios de tempo pendidos dos olhos,
e a cegueira,
na quentura dos momentos,
encaminhando-me para o redondo do não ter
para onde ir,....

prefiro a ilusão,
a feroz carga neutra de nem saber esquecer,
ter de comer o seco do que,
no sexo dos segundos gastos,
perfumar lados frescos de um quadrado
onde não me saberia ter,...

ao lado de tudo isto,
a frase amarga de não ter
o que escrever,
o que viver


2019/03/29

Definir um personagem

este personagem não vai falar português,
de uma fome atroz de conhecimento,
reconheco-lhe outras latitudes no olhar,
e a ti,
sem que lhe percebas propósito ou senso comum para os atalhos escuros da vida,
explico-te que na Europa onde nunca estivemos,
talvez haja a neve literária onde se dê melhor,...

com um amor sem pernas para viver,
e o arredondar do tempo naqueles olhos esvaziados,
que se vão dando a conhecer enquanto come sentado numa sala vazia,
com um amor morto a olhar para si,
sem que repare,...

vai dormir a ouvir música este personagem,
e sonhar com muitos livros anónimos escritos sem que as pessoas percebam onde está a poesia,
e só vejam a bestialidade das notas humanas do desprezo,...

por enquanto não te sei explicar melhor este personagem,
achas que lhe chame José?,
português não será,
já to disse,
talvez um mudo que prefere o silêncio à inconsequência da vida furada de sentido,
é uma hipótese


2019/03/28

Sem título (75)

quisesse eu um resto assim,
desnorteado de aconchego,
e esperava aqui que os
chapéus da noite se entortassem,
para que a madrugada entrasse de mansinho,
pelos resvalos do teu cabelo,...

e assim adormeceria nos teus
braços,
encostado ao som,
mudo,
que a proximidade do
teu querer me dispõe,
num envelhecer tranquilo,
e conformado 

2019/03/27

...desta porra triste

nada nos safa desta porra triste,
de mãos a deslizarem pelo corpo presas,
e condenadas ao degredo da injustiça,...

e de chorar,
e de revoltar quando nem se come,
para nos recusarmos a que a luz
se acenda nesta estrofe rota de vida,...

se souberes como nos safar desta porra triste,
ouvir-te-ei,
acho eu,
caso ainda tenha ouvidos,
e capacidade de um riso atávico só para
provar que me importo,
e dois olhos que brilhem o suficiente
antes de que o fio do tempo os esgane,...

até que haja mar para nos
trazer de volta,
cantaremos logo mais,
antes de dormir de lonjura
na alma



2019/03/26

Alto

parecia tudo tão simples,
nos resquícios do frio
do nosso respirar,
sem moribunda lonjura,
na lassidão do afastar do toque,...

que quando nos precisávamos
a nós mesmos,
o tempo parava,
o frio desenhava
o medo no lastro do
caminhar trôpego,...

e tudo pára quando
assim brincam as crianças


2019/03/25

Escrita em todas as faces da vida

Quando Joana escrevia, arredondava as letras o melhor que podia. A mão falhava-lhe, os olhos tremeluziam quando lá fora chovia, e a luz entrava, retalhada, pelos vidros foscos da janela da sala, obrigando a que se defendesse das lágrimas que lhe pareciam tapar a clarividência, e impedir que das pontas dos dedos saíssem sentimentos reprimidos. Sabia o que os reprimia. Conhecia o bichinho. Preferia não dizer o nome dele. Quando ele lhe subia pelo peito acima, e parecia querer sair pelos orifícios naturais que todos temos, escolhia sempre escrever. Arredondar os Os, estender os emes para que de uma folha branca nascesse, quem sabe, uma estrada de azulejos amarelos em que só ela pudesse andar. Um dia inventou um parceiro de azedume. Chamava-se João, para que até no nome fosse parecido com ela. Gostava de música clássica ouvida baixinho, de comer sopa de um dia para o outro, e de se sentar descalço à beira mar, esgravatando em busca de qualquer coisa que da água misturada com a areia pudesse sair.
Um dia, com o João até quis casar. O João planeou dar-lhe muitos filhos. Encaracolava os 'efes' de propósito, e misturava-os com 'esses' insinuantes, que se fechasse os olhos com a intensidade certa, lhe davam uma eletrificação nos lábios, dada pelo bem querer de um João que se habituava a sentir cada vez mais seu. Mas o João nunca saiu do papel. Às vezes, quando a calma tepidez do sol vinha lá pelos inícios das tardes, fazendo com que Joana se sentisse una com as folhas brancas que salpicava de redações irregulares, ele parecia quase ganhar forma. Entravam pela porta da cozinha insinuantes nuvens de um pó sem cor, que vistos do prisma certo, se arredondavam nas formas indecorosas de um ser humano cativante.
Nunca passou disso. Joana é hoje amiga do bichinho, porque parou de escrever. Dá-lhe uma tristeza companheira, e a jovem que um dia quase conseguiu fazer sair das folhas brancas uma criação carnal, com lábios reais, e olhos risonhos, e sentimentos carnudos como as faces de uma maçã, é hoje uma velha antes de tempo. Já não tem folhas brancas em casa.


2019/03/24

Boa descoberta


Auto retrato de um Silva

por mais pequenos passos que desse,
era um desiludido senhor desatento,
irresponsável,
que usava o tempo como penduricalho,
numa lapela gasta pelo desleixo,...

chamava-se Silva,
como podia ser Santos,
ou até nada,
se os passos que desse servissem para se afastar das frustrações que lutava por fazer passar como dislates,..

lembro-me da tabacaria de Álvaro de Campos sempre que o vejo,
de cabeça pendida,
a fugir à propria sombra que o oersegue disformemente,...

ora fuma,
ora só lamenta em surdina as formas irregulares das árvores com quem gostava,
um dia,
de dançar à média luz do entardecer,...

não encontrei mais nada intterressante para escrever hoje,
que este auto retrato falho de percepção e Sol iludido

2019/03/23

O meu dia mundial da poesia, dois dias depois

quando cagas poesia.
e em reagentes de desilusão
esperas um potro de luz,
na qualquer sombra devolvida
ao sol em que se afunda o teu
reverso,...

deixa-me pois em paz,
pois que me desilude o celeiro que me
auto transformou o conformismo,
e esperar assim a fulcral maneira desalento,
desfaz o amor a uns pequenos versos

2019/03/22

e iremos morrer esfolados

dizem-nos sempre que despida de versos,
a pele floresce,
as nossas entranhas inventam paises que ainda nem ha,
acabando com a porcaria dos pobres,
e os miudos que se deitam e acordam com a meninice vazia,
por terem fome,
e o rosto sem os bons dias do amor,
e as boas noites da devoção até à morte,..

ca para mim há um ricardo reis em tudo isto,
a caminhar de bracos cruzados atrás dos quadris,
e a entrar nos Prazeres achando que nada disto faz sentido,
e depois a sentar-se entregue à eternidade una com o outro que lhe deu à luz, ...

com a lua por cima,
fazendo a sífilis brotar do sangue,
nada disto faz realmente sentido,
a pele nunca ira florescer,
e iremos morrer esfolados,
sem noticia que valha o sono a quem cá ficar


2019/03/21

Dia Mundial da Poesia

josé de almada negreiros / se é dever dizer o que




Se é dever dizer o que
sem mestre aprendi da
vida digo:
a natureza tem tudo
mas cada coisa de
sua vez.
É simultânea como o
conhecimento:
sabe-se bem uma coisa
por causa de várias
que se sabem mal.
E tive paz quando
soube que antigos
me tinham deixado
isto mesmo.



josé de almada negreiros
poemas
assírio & alvim
2017

Sem título (76)

e no entanto à noite,
parecia a sorte
o que tracejava os halos
fosforescentes dos velhos andrajosos,
que vinham repisar o mesmo chão
onde tinham perdido os três,
e aprendido a ler a maledicência da vida



2019/03/20

O homem que tinha fobia de Marx

o homem que tinha a fobia de marx,
vivia assoberbado em contas,
vegetava numa casa que nao
conseguia pagar,
lambia facilmente as gotas de água que em carreiro desciam as paredes,
porque as torneiras estavam secas com as contingencias da pobreza,
e estava a mentalizar-se de que comer é inútil,...

lamentava haver barbas brancas no mundo,
desprezava a igualdade,
lia todos os dias a bula dos  medicamentos,
porque odiava as pessoas a ponto de se sentir doente,...

e como fobias são uma doença como outra qualquer,
escolheu ter medo da filosofia,
enquanto isso pinta quadros com o estuque de uma casa a desfazer-se

2019/03/19

Mancharei o teu nome

mancharei o teu nome quando já não houver
mais luz para pensar,
nem caminho para perceber os erros,
restando reescrever a sorte.
com diferentes
tracejados irregulares,...

só me resta deixar de entender os momentos
que me deste,
a frase percepcionada,
os segundos deitados no chão,
esfumando-se como a chuva
breve do fim do Verão,...

mancharei o teu nome para te
dizer que lamento,
riscos por toda a parte
em que pisaste,
para partir


2019/03/18

Laços

até porque já nada havia mais por que nos abraçarmos.  Por que dizer que os dias sabem melhor quando os desenhamos para se poderem apagar,  e desfazer erros.  Corrigir insatisfações,...
Já nada sobrava de momentos indisfarcavrlmente perturbadores como os que vivemos desde que do sol subtraímos esta sombra anónima onde nos achávamos perturbados,...
num silêncio encoberto pelas nuvens.  que nos lia como romances sem nome onde a tragédia sucumbe aos números da morte sorridente,
descobri que,  tal como eu,  falavas melhor com as marcas que o tempo te tinha encastrado no corpo.  Sem sorrisos,  mas de olhos paralisados pela certeza do dizer adeus.  se efetiva fosse a dor de escrever com letra capitular,  afirmavam se aqui os despojos de qualquer coisa 

2019/03/17

Praça de malucos

imagino como era o
lamento,
no meio daqui
tudo em desalento,
frase fútil,
janela de esperança,
 não, não sou inútil,
talvez um complemento,...

sem que nada fosse o fomento,
resumido a rimas
indesejadas e frias,
de tudo que quando resumias,
se desconsiderava do tempo,
amedrontado,
sem invento,...

e por fim o que nos diziam
que unia,
reordenava,
com o maluco que tinia,
na praça solta,
tudo acabava


2019/03/16

Carta à solidão


Caríssima solidão, aqui me tens porventura calmo. De certeza insuficiente nas agruras que cada dia se esforça em ter, para passar diferente do anterior, e o mais parecido possível com o que virá no fim de tudo isto. Estou vestido de transparências, a minha pele já nem no lamento protege. Acima das minhas expectativas, estarão as minhas decepções. Abaixo do que me dói, está o que consigo perceber no silêncio falante de cada segundo das noites em que me afundo numa loucura indesejada. Aqui me tens inteiro. Apercebendo-me do que não infiro nas palavras de todos os dias de todos os que quem nem consigo estar.
Magoa-me que desprezes o que te escrevi, em verso real.  Talvez em todas as prosas infindas do que sabemos existir, me entendas o suficiente para de mim fazeres o juízo que nunca fizeste. Por enquanto, despeço-me com a ingratidão que me devotas. Nada mais sei dizer-te, que lugares comuns desfeitos e irreais. Por isso, até quando queiras. Eu por cá continuarei, lamentavelmente insonoro. E infindamente sem lamentos.
Escuridão, fim dos tempos.



2019/03/15

Escrever a razão em silêncio

tanto insistes que conheces a razão,
que não tens medo das noites
em que ela te destapa,
e te encrusta a pele com
desnecessários fogos de artifício,...

eu acho que não conheces,
troveja quando to digo,
bebemos goles de chá de
olhares afastados,
até que uma flor morre na rua,
e isso nada muda na desfaçatez
de achar que tudo se sabe,...

almejo só um pouco mais de tranquilidade
depois de tudo isto acabar,
por isso talvez pouso as maos
secas no colo
e digo-te quero escrever,
escrever um livro,
dar azo a que as pessoas falem mal
de mim,
e considerem arte os intervalos dos meus silêncios,
e lixo o choro dos personagens enfadonhos que farei questão de criar,...

apouca tudo isto que basicamente criámos com estes silêncios,
vou levantar-me sem dizer palavra


2019/03/14

Pisca um cursor (contributo para o blogue 'Páginas Partilhadas' de abril de 2019)

...o chá arrefecia. Não havia mais açúcar em casa. Era preciso sair, amarrar o sol, e seguir em frente, para que a vida continuasse. Vontade era pouca, ou nenhuma. Entardecia a uma velocidade inesperadamente mais rápida que o habitual, e isso notava-se no sol tímido que não conseguia vencer a barreira que as vidraças definiam entre um mundo condicionado, e a selvajaria do exterior. O chá continuava a arrefecer. Havia também um cão velho, assustadoramente desesperado, mas que o escondia num sono mal disfarçado.

Chamo-me qualquer coisa. Não interessa o meu nome. Tenho a idade suficiente para perceber que o que ficou para trás já não conta, para que o que ainda está para vir tenha interesse suficiente para que se prossiga este caminho sem desvios. Por isso, está um computador aberto à minha frente, assente numa mesa que desvirgina a solidão desta sala onde exala o podre de um branco já sem idade. Olho para o cursor que pisca, e sinto o campo de visão a apertar lentamente. Talvez cegue. Talvez continue a ver. Apetece-me um gole de chá azedo, quanto mais azedo melhor. Com a poesia, tudo se acondiciona sem sentido. E, como sempre, o que busco é a desordem. Um ponto perigoso de quase não retorno, em que o traço da loucura é pisado, para depois tudo voltar à rotina deprimente dos dias. Desta vez, queria aventurar-me pelo amor não explorado. Sem personagens. Só com enleios difíceis de explorar, e que levem a lado nenhum.
Mas o cursor continua a piscar. Levanto-me, amanso o pânico do cão, e apetece-me dormir.... Já chove mais que na minha alma alguma vez fez sol.

Blogue ‘Páginas Partilhadas’

2019/03/13

Três

das dores enumeradas,
com a cabeça decisivamente gasta,
e os dedos alongados em espera
nos redondéis desconhecidos do teu corpo,...

não percebo estas tardes que
correm inusitadas,
sem propósito,
desnoveladas e decididas,
a partir daqueles momentos deixo
de perceber o tempo,
apreendendo apenas a lassidão da
chuva que lambe
os vidros que nos separam
da dor,...

afinal haveria mais frases diferentes
deste silêncio de opereta,
e menos esforço para continuar
o desmoronar indiferente,
de tudo quanto já houve,
e parou de haver,....

num momento de passado,
resta o felizmente há luar 

2019/03/11

Um

...de resto o dia não passa como
o crepitar de um comboio
ao entardecer,
qualquer coisa que se escreva
em contrário,
pesará tanto como um mau poema



2019/03/10

Este não sei se continuo,....

A roupa estava arrumada em montes simétricos, disposta em cima do quadriculado da colcha de renda de bilros. Os sapatos, já gastos e a precisar de renovação, alinhados aos pés da cama. Havia uma mala antiga, com dois fechos presos por clips de papel, assente num cadeirão antigo de napa. O sol entrava, desdobrado em pequenos guardanapos amarelados que pareciam alisar a parede. Ela suava, apressada para sair. Vestia duas camisolas, uma amarelo desmaiado, e a outra branca. Tinha sido a mãe a dar-lhe as duas, havia já um bom par de anos, e costumava chamar-lhe a roupa da pressa. Sempre que havia qualquer coisa que precisava de ser feita, sentia a compulsão de vestir aquelas camisolas. Quase como se ao suar, se sentisse una com dois pedaços de tecido. Esquisito, e impossível de se explicar neste momento. Um gato pulula por cima do parco mobiliário do quarto. Olha e ronrona para ela, mas não obtém resposta. Tudo parece estar pronto para sair, amansadamente, de casa. Mas o telefone toca. É um ronco irritante. Nota mental: mudar aquele toque. 

2019/03/09

Mão de mármore

talvez haja uma mão 
de mármore, 
que enegreça a parede 
do que nos resta 
de solidão,...

a mesma onde usas a  veia
 cava do sangue gélido
da morte, 
e te serve para o pensar mal, 
o dizer bem aos poucos, 
o esperar o fim sentado 
na raiz da terra que sobe 
pelo frio do tempo,…. 

sem saber dos minutos de lá,
 nunca poderemos desenhar este
 cá que assim se vai desfazendo, 
talvez com uma mão de mármore, 
de certeza sem pés,… 

digo-te que a terra, 
a mesma que sobra 
desnudada quando dela 
ficamos sem fazer amor, 
não tem mãos de mármore,…

por isso sobras tu,
 capaz de arredondar
 o tiquetaquear deste 
murro arrasador do pensamento


2019/03/08

Um dia gostava de saber escrever assim

leonard cohen / a aparente turbulência




Foste a última mulher jovem
que olhou para mim assim
Quando foi?
algures entre o 11 de Setembro e o tsunami
Olhaste para o meu cinto
e depois eu próprio olhei para o meu cinto
tinhas razão
não era nada mau
depois retomámos as nossas vidas.
Não sei como é a tua
mas a minha é curiosamente pacífica
por detrás da aparente turbulência
da litigância e do envelhecimento

Pensamento avulso

todos os sítios o iam cansando. Andar nas bermas dos passeios, à espera que a morte surgisse vestida de cantiga, fazia com que os dias parecessem assustadoramente maiores. Com roupas carcomidas,e derrotados pela vida. Não escrevia o som do que ia ouvindo, porque em cada um dos lados do vértice do triângulo em que sabia caminhar, tudo era silêncio. As coisas nem vertiam música, porque nada soa assim tão, a nada.  

2019/03/07

E os outros?

E os outros?,
os que saem dos cafés
para trocar a vida
por uns trocos sem valor,
com a vida a escorrer sebo
pelas costas,...

dessa gente ninguém fala,
à porta dos sítios de fim de semana,
e quero isto lido com comichão
na garganta quando eu estiver louco,
só há insuflados de estilo,
gente sem valor que
quer ser transparente,...

com a pobreza a devorar-nos os
olhos,
acabamos como começámos,
a perguntar pelos outros,
ninguém nos sabe responder


2019/03/06

para lá do fim

para onde me
enviaste,
não havia pedra
de ausência,
nem raízes
alocadas às árvores do medo,...

lembro-me do mar
embrulhado em sol sujo,
e de ti a
sorrires assustadoras
declarações de tristeza,....

ao mesmo mar,
às sucintas
indecisões dos lados
tristes da rotação da terra,
 eu estarei aqui para escrever,...

talvez sejam os
poemas o arredondar do tempo,
a lesão indestrutível
do sofrer sem sentir,...

não gostarei quando
a margem suficiente
do amor acabar,
mas com versos
sem sentido,
o tempo continuará
para nós,..

para lá do fim

2019/03/05

...nos teus lábios

ninguém me disse que nos teus lábios
não haveriam dissonâncias,
e flores desmaiadas de amor,...

contaram-me antes que
nos teus lábios,
somavam músicas os
povos distraídos,
e as meninas inconsequentes,
com corações de lã,...

recordo os teus lábios
como um poema,
incompleto


2019/03/04

Smack my bitch up,...


Sopa e tourada

às oito e meia da noite do primeiro dia do resto da minha vida, passava na televisão uma tourada a preto e branco.  lembro-me que as notícias tinham acabado de dar,  com mais uns aumentos de luz,  água e gás,  e a morte de um cardeal qualquer não sei onde,  e depois eu estava à espera da minha sopa quando alguém gritou que ia começar a tourada.
estava no mesmo sitio de sempre,  aquele café ao fundo da minha rua,  alumiado por uma espécie de de gambiarra,  com um balcão de madeira carunchosa,  e três mesas com os tampos cobertos por toalhas plásticas,  com flores,  acho que malmequeres. digo acho porque a única coisa que conseguia distinguir ali dentro sempre que passava a porta, era a minha fome. o resto nem me preocupava em perceber pois ficava inevitavelmente deprimido.  mas naquele dia,  não sei porquê,  a minha atenção virou-se para uma tourada. eu que tinha uma indiferença difícil de explicar por animais,  naquele dia comecei a pensar num sofrimento telenovelesco,  com maus a esforçaarem-se por acabar com o tempo das outras criaturas,  e depois o sangue a pintar um chão de gravilha,  numa arena toscamente redonda,  quase como se para depois ficasse a crucificação de várias pessoas para sobremesa.
quando a sopa chegou,  reparei que o pulso direito do homem que sempre me servia continuava a tremer,  como habitualmente.  por essa altura já o boi tinha entrado na arena.




2019/03/03

Tempo sem cor

daqui a dias ninguém
mais para além do que já fomos,
comeremos as nossas sombras,
 talvez porque a fome
não pesa mais que a solidão,
e lá fora andarão perdidos
os mesmos desorientados sem pele,...

daqui a dias só mesmo eu,
e o que às vezes tu,
e o que nunca mais
serei eu,
e poucas vezes o
que já foste tu,
e nós sem sentido,....

e daqui a dias,
 talvez já seremos
maiores que um livro
de histórias sem estória,
 por pouco mais que qualquer coisa


2019/03/02

o meu coração dizia que não ao teu

o meu coração dizia que
não ao teu,
e fazia-o ao sol,
sentindo a roupa
transparente a decompôr-se
em cheiros de aforismos,
e a terra a escrever
nos pés alusões frias ao fim dos tempos,...

nem assim o meu coração
 parava de esquivar-se do teu,
alongámos o perto para que
o longe não perdesse
menos qualquer coisa que o suficiente,
 e tudo lá longe,
em ruas diáfanas e perpétuas
no querer,
com crianças abandonadas
a brincar as últimas brincadeiras
 antes da morte,
e velhos que voltavam
ao princípio para depois se evaporarem,...

talvez do meu coração
não fosse de esperar mais
que cartas de amor ao teu,
não preciso mais que
pena para continuar a
ter um peito vazio

2019/03/01

Sem sentido

eles falavam para o outro, e sobre o outro, de prisões,... de dias mal vividos, e noites de segundos recontados, pintados a estrume, de crianças a chorar sem efeito real,...
e o mais que estava escrito no mar

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