2011/01/29

Depressão

tudo num choro,
o desespero lá à frente disparado a tropeçar,
e o que não fica de rir caído, 
sangrava,
preparava-se assim
uma noite de chuva à beira-mar,
e o vento a querer conversar,
dizendo de mim o
que de verdade o papel
branco tem....

2011/01/24

'Ecapa'


Súbditas as tardes que vêm morrer na praia onde as crianças enfeitadas com tiaras de chumbo, e sapatos feitos de teias de sonho desfeito, gostam de acalmar insubstituíveis práticas comuns de mimetismo. Chamam ‘Ecapa’ à alegria de juntos saltarem o barranco da tristeza, procurando do outro lado coisas que desenhar com as lágrimas que sobravam dos medos que já deixavam de sentir. Sentavam-se em semi-círculo, dispostos por vontade de fazer bem com um simples afago, um bem dizer, um sentido prático de tornar no bem comum as experiências de choro alegre que as tenras idades já lhes permitia gozar.
Parecia rebentar em fogo de artifício a ‘Ecapa’ bem feita. A que secava a areia húmida da praia, e a transformava em ouro. Ou o que parecia ser a alegria dourada de qualquer Deus que na eventualidade de ter criado aquele mundo em Guerra, chorava agora impaciente com o verdadeiro da comunhão de espíritos livres. Bem casados consigo mesmos.
Escrevia-se tudo isto de forma liberta. A pena era de uma mulher bonita, solta de ideias, tristonha mas crente no círculo interminável do mundo. Fazia parágrafos longos entre os diálogos, deixando fontes profícuas de insubstituível desilusão. Mas uma desilusão saborosa. Cheia de expectativa que o dia nascesse amanhã, com mais alegrias destas pintadas a ouro.

Desde Outubro de 2010 que não havia poema no Singelo,....

..., e agora está aqui

2011/01/19

À beira de um quintal....


O meu avô, homem morto e enterrado, estava naquele dia sentado num pequeno banco ruçado, pregado no meio da eira do quintal da senhora sem nome que conhecia toda a gente. Era começo de primavera, dia de estios daqueles difíceis de definir, mas até fáceis de suportar por encurtarem as noites, e esticarem os dias. O homem espreguiçava-se, dizia asneiras, roçava o cu nas folhas ásperas da bananeira que quase esganava por água naquele quintal feio. Perguntei a um e outro que passavam ao lado do muro baixinho da propriedade se conseguiam ver aqueles preparos. Mas toda a gente me olhou com insatisfação das que se dedicam a um doido, e seguiu caminho. Comecei a pensar que só eu lhe emprestava alguma existência. O calor apertava. Tirei o casaquinho de algodão que me aconchegava as espaldas, meti-o debaixo do sovaco, e entrei. Um cão quase me devorou o calcanhar por entre dentes que escorriam baba espremida por uma trela de aço que quase o sufocava. Mas,....nem liguei. Dei um passo seguro, dois indecisos, e ao terceiro já me achava perto daquele ser.
- 'O senhor consegue ouvir-me?'
Respondeu-me com o nada. Continuava a espreguiçar-se.....A entalar os dedos numa vedação rasa e cheia de ferrugem que convidava à doença. Começava a achá-lo morto, quando me disse o que tinha acabado de fazer.
- Tu vais morrer daqui a 10 minutos. Uma dúvida assolar-te-á de forma tão doce, que te tirará o ar dos pulmões devagarinho até te achares aqui ao meu lado, pronto a fazeres qualquer coisa para que a eternidade não seja mais que o que vês defronte de ti.
A prática dizia-me para não acreditar. Sou dado a alucinações quando como coisas pesadas pela manhã. Mas deixei-me ir naquele embalo. Como já me tinha provado estava farto de viver, e não tinha mais nada para fazer deste lado.
O que o homem disse, o meu qualquer coisa de quem já nem sequer me lembrava, começava a traduzir-se no real. O peito mirrava-me, os braços pesavam menos que uma folha de margarida a voar, e assim me deixei ir.
À hora a que escrevo isto, já vejo o ódio do mundo todo guardado na recôndita e espessa matreirice dos velhos.....

2011/01/12

Com lágrimas recebi a noção de que...



....a vida não é o que fazemos dela. Mas sim aquilo que nos propomos fazer com tanta força, mas com tanta força, que só pode dar certo.
Bela forma de começar 2011 por aqui. Digo eu:-) 

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