2025/03/27

A verdade anula o momento, .. .

 Tu de um lado,

Um motor insinuante e moribundo do outro,...


Um tempo deslizante e que insinua outros tempos de fadistas e mulheres desnorteadas,

A fluir descontrolado pelo meio da rua de sempre,...


A verdade anula o momento,

E não é de ninguém o papel rabiscado deste sonho,...


Por isso só estou disponível para os passos reais,...


A loucura segue se a mentira alargar o domínio 

                                                                                    Tirado daqui

2025/03/26

E eu escutava-o

 -afinal de contas, todos os dias haverão noticias de bebidas algures, enquanto o povo anda sequioso. Dir-se-à da comida que é escassa, que poderia estar mais barata, mais disponível para o povo. E até que não há cultura em lado nenhum. Que as pessoas acordam estúpidas, e adormecem com um prazo estipulado para qualquer coisa,....

Via-se que ele acreditava nas coisas. No que estava a dizer.  Inspirava para a entoação das palavras, as pausas eram reveladoras. E eu escutava-o. Com aquele meu ar de culpa, que sei que se apodera do meu sobrolho esquerdo sempre que não me sinto à vontade com algo. E além disso, leva-me ao ridículo da repetição de mantras sem sentido, num tom inaudível para as pessoas que estão junto a mim.
Mas eu não era o que contava. Era aquele homem que eu nem conhecia, e tinha encontrado num dos passeios sem destino que me aprouvia dar nos últimos tempos. Estava disposto a escutá-lo, perceber de onde vinha, e o que na realidade pretendia.  Afinal de contas, não me custava nada. Não tinha nada para fazer nos tempos que se iriam seguir
                                                                              Tirado daqui

“Trust Issues”
De: takiisbranding ou Bruno Cæsar

2025/03/25

...as mulheres descontroladas

 Tenta as mulheres descontroladas,

E tantos copos em cima da mesa,

Acho que não há tempo por aqui,

A vitória,

Derrotas desenhadas e imperfeitas,

Tiram a noção de luz,

De sombra,...


O sentido até,

Como o prova este poema sem freio,

E os gritos inocentes e desordenados que eu garanto ouvir,

Enquanto vagueio nos espaços que o teu sangue deixou,

Nesta sala outrora imaculada


2025/03/24

E para onde havemos de ir?

 Um desejo,

As dores nas pernas,

Pensar no que há de vir,

 e na palidez dos nossos rostos de frugalidade,....


Tudo se esquece,

E concordava,

 quando o dizias com os dois dedos de sempre a amparar-te o rosto,...


Mas há sempre qualquer coisa de palpável,

Se me disseres a luta,

O espaço que fica entre o que falámos e um dia perdido nos silêncios cúmplices,...


E para onde havemos de ir?,

Os corpos doem-nos mesmo,

E a filosofia não atenua a velhice esperada como desespero

                            Tirado daqui

2025/03/23

O corpo desnecessário,...

 Foi o próprio movimento,

O corpo desnecessário que já não conta para o dia certo,

As vozes,

Antepassados e sucedâneos de amor misturados sem qualquer critério,...


Sucediam-se passos que pareciam fazer-nos ler algo assim,

E lá fora,

Chuva de dioptrias mal medidas,

Um sol de grito estridente,... 


Era uma zona recôndita desta terra,

Onde nada mais contava do que a intenção de adormecer feliz

                              Tirado daqui

2025/03/22

Um povo vence a raridade,...


                            Tirado daqui

O povo nunca perde verdadeiramente aquilo que é seu,
As palavras raras,
Poemas de um homem só aplainados e puros nas suas ideias,... 

Um povo vence a raridade,
A escassez de sítios sem sol,
E até os pais que partem,
Deixando os filhos sem conseguir provir por si próprios,...

Tudo é mais valias,
Até a poeira incolor que resta dos amanheceres monótonos,
A montante e aquecidos por um sol de bainhas mal feitas, ...

É a hora de reconhecer a reconciliação que significa o conforto de um presente de conciliação,
E dar este tempo como presente ao futuro

2025/03/21

O meu dia mundial da poesia


                                                                                     Tirado daqui

Vão,
As vitórias,
As derrotas,
Um rio estagnado sem que cheire a sonho,.. 

Sigam,
O caminho é desnivelado,
Um político acintoso fala sozinho para o vento,....

E há mais,
Dizem o contrário mas há mais conclusões precipitadas,
Risos inocentes do pecado das sextas feiras,
E até a água,
O seco da água,
A tua boca sequiosa e romanceada,...

Há mais,
Prometo mesmo que se descerem a rua,
Viro a página,
e deixarão a condição de personagens fatidicos de um livro,....

Talvez retorne uma brisa,
E o pré fim de mundo se inverta 

2025/03/20

Que havia pedras nos bolsos,...

 Estava num canto. Acomodado. Sequioso como sempre, -seria uma herança de família que nunca conseguiu explicar ou que lhe explicassem cientificamente, mas que tinha -, e pronto a falar. O medroso. O homem a quem até os dias de sol que se espraiavam pelas divisões da velha casa dentro metiam medo. O que nunca deu um passo maior que a perna. Ia explicar, a quem tivesse de ser, que havia coisas estranhas naquela rua. Que os sons tinham histórias por trás. Que havia pedras nos bolsos de determinadas pessoas com quem inocentes se cruzavam todos os dias, e que estavam prontas a atacar para que um domínio sabe-se lá de quê pudesse ser mantido. Ele não deixaria nada intacto. Assim soubesse encontrar as palavras da justiça, da credibilidade, que soassem bem e conseguissem deixar as pessoas convencidas. Mesmo sabendo que ele nem nome tinha. Só uma figura. Saía de casa todos os dias com um fato bem engomado, punhos destacados, gravatas diversas mas subtis. Sapatos de verniz que condição sine qua non, tinham de refletir a sua própria imagem.

Sim. Ele iria pôr fim aquela injustiça perene, que se estendia há tanto tempo. Mas antes disso ia só comprar uma sandes mista no café da esquina, e talvez um descafeinado abatanado o ajudasse a alinhar estratégias.

                            Tirado daqui

2025/03/19

Um sorriso solto


                                                                    Tirado daqui

Fotografia: Jiamin Zhu JaJasgarden Modelo: Kristy Jessica


A precisão,

Um sorriso solto,

Vejo-te como o traço imaginário,...


Saber que para lá de ti,

Há um abismo,

Semelhante a um caleidoscópio,

Que absorve as palavras,...


E faz delas húmus,

Essencialmente húmus de entranhas e especialidades novas de pensamento,....


Estendo a roupa neste vazio de presença onde arrasto o meu ser,

E tento impedir este pensamento de crescer,

Até me rasgar cabeça e peito,

Numa dor impossível de suportar

2025/03/18

...a humidade das nuvens

 E agora fala,

Esperei por este momento em que estamos sossegados na varanda,

O brilho da lua repassa a humidade das nuvens,

E bem observado,

acentua ainda o cristalino enternecido das tuas pupilas,....


Explica a presença de um verbo no teu envelhecer,

De um silêncio mal desenhado por entre as pernas que deixas entreabertas,....


Explica como se recusa tudo na tua presença,

A voz,

O casamento entre o silêncio e um velho moribundo,

Até o perecimento de uma noção distendida e flácida do amor,....

Temos tempo,

A vergonha eclipsada aqui,

Penso que nunca chegará 


                                                                         Tirado daqui

Pierre Jahan Sudy of two female nudes 1983

2025/03/17

Centralismo democrático

 Como o velho,

Defendia que só o coletivo tinha força para decidir,

O homem,

Os vicios do homem,

As deceções do homem,

 Nada eram fora do grupo,....


E inseria-se naquele universo restrito,

Que representava a força laboriosa da sociedade,

Como mais um,....


Guardava as especificidades para si,

A vontade do priorado da razão ser mais forte,

Nada daquilo interessava,

O homem evolui só com desígnios de bem comum,....


Lá à frente estaria uma imagem de novidade no ser humano 

                                                                             Tirado daqui

‘Reclining Angel’. William Breakspeare. 1856-1914

2025/03/16

Medieval na linguagem,...

 Um sofisma de ter,

A presença certa do erro que assim se quer,

São as minhas mãos,

A luz hesitante,

Um resto de comida azeda com a bebida seca dos solitários,....


E para a miséria,

Faltará pouco com esta descrição,...


Só a eventualidade de um par de sapatos ilusório,

Roupa de rei em corpo de serventuário,

E a conclusão desta indução ao erro,....


O teu sorriso,

Vestido,

Medieval na linguagem,

Parco de gestos,

E intocável para a minha virtude de pessoa irrealizada