2010/12/12

Regresso XIV / A Cena do Ódio (A Mário Viegas)





Eis senhores a gula,
a parte solta do peido da outra,
a mulher farta de poucos
costumes com que se sobe a rua
para depois descer a partir de
ventos que só nos
levam bocados do que
éramos antes de nos perdermos,
o perfume,
o adeus traduzido em tanta
coisa mas ao mesmo tempo
pouca com que nos vamos
dizendo adeus aos poucos
deste rame-rame das
metálicas maneiras de
escrever porcaria,
se somos o que provavelmente
a sermos,
dizemos amanhã o que agora
nunca conseguiríamos dizer
às costas das nossas mãos,...


eis senhores a vontade de comer,
o desnorte com que parecemos
nem ligar ao quarenta e dois de sonhos
que nos traz para casa depois
de outros microbiarem o poucochinho
de muito que a nossa mãe nos deixou
depois de afagar a cabeleira que já
cá não está para nos proteger,...


e agora deitado senhores,
resta-me só partir para melhor
expressar o que com isto aberto ficou,
a vida solta nos redondéis de coisas destas,
talvez sirva para palitar dentes gastos que
os soltinhos de espírito usam para
escapar aos desígnios da morte de todas
as cores,.....

Regresso XIII

-Não consigo escrever nada que interesse às pessoas.
Tão depressa o redigiu, e mal o fez embrulhou o papel em tantas vezes quantas uma raiva negra o ditou, e amarrou os pés com força suficiente para orar. Alienado das constantes solicitações de espíritos que pareciam enrolar-se em redor do único esforço que o prendia à vida, dedicou-se a ouvir o entrecurtado silêncio que o tempo faz quando contorna a facilidade com que a vida passa. Queria dizer qualquer coisa a quem o quisesse ouvir, mas a única coisa certa a sair era esta indefinição de narrador que punha termo a semanas de silêncio doloroso. Parecia ter nascido uma de somenos necessidade descritiva irrisória, e como tal dedicava-se a compartimentar o que observava em situações que fossem capazes de criar impacto. Ao fundo uma janela de ripas de madeira quebradiça, com três vidros embaciados sobrepostos, que a custo sustinham a chuva e o vento persistente que davam as boa vindas à noite. Tiritava de frio com a imaginária 'Luftwaffe' de pré-loucura que parecia querer arrancá-lo a esta persistente vontade de conter o silêncio.
Não iria parar.
De seguida a parede. Cinzenta, com focos esverdeados de bacilos que revelavam o desdém com que aquele sítio parecia ter renegado o batimento do coração necessário ao humanismo.
Não. Isto é tudo muito fraco para se continuar.... Talvez noutro dia.....

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