-Não consigo escrever nada que interesse às pessoas.
Tão depressa o redigiu, e mal o fez embrulhou o papel em tantas vezes quantas uma raiva negra o ditou, e amarrou os pés com força suficiente para orar. Alienado das constantes solicitações de espíritos que pareciam enrolar-se em redor do único esforço que o prendia à vida, dedicou-se a ouvir o entrecurtado silêncio que o tempo faz quando contorna a facilidade com que a vida passa. Queria dizer qualquer coisa a quem o quisesse ouvir, mas a única coisa certa a sair era esta indefinição de narrador que punha termo a semanas de silêncio doloroso. Parecia ter nascido uma de somenos necessidade descritiva irrisória, e como tal dedicava-se a compartimentar o que observava em situações que fossem capazes de criar impacto. Ao fundo uma janela de ripas de madeira quebradiça, com três vidros embaciados sobrepostos, que a custo sustinham a chuva e o vento persistente que davam as boa vindas à noite. Tiritava de frio com a imaginária 'Luftwaffe' de pré-loucura que parecia querer arrancá-lo a esta persistente vontade de conter o silêncio.
Não iria parar.
De seguida a parede. Cinzenta, com focos esverdeados de bacilos que revelavam o desdém com que aquele sítio parecia ter renegado o batimento do coração necessário ao humanismo.
Não. Isto é tudo muito fraco para se continuar.... Talvez noutro dia.....
2010/12/12
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