2022/03/31

Nós dos dedos dos velhotes

existiam então alguns
espaços,
coisas mínimas enfiadas nos
nós dos dedos dos velhotes,
aí talvez fosse o fim do dia,
a forma exata para o meu silêncio
surgir,
imerso na escuridão que me diz
a razão,
e nesses espaços,
a coerência do passar do tempo
falava a montante,...

com tudo a distanciar-se,
as cores deixavam assim de 
ser percetíveis 



2022/03/30

Duas infusoes de água putrida


 Era uma dor tão grande,

Que subia por todos os poros de uma pele queimada,

E quase ganhava forma de um olho gangrenado,

Incapaz de beijar a beleza do rio desnudo que observava,...


Uma dor de leitura,

De duas infusoes de água putrida,

E capaz de matar revivendo,...


Aberta esta garrafa semi-vazia de um mosto acidental,

Era a dor das mulheres sem ventre,

Que desfazem a alma ao adormecer de cada dia 

2022/03/29

Presença de luzes

 


Nunca serei totalmente tolerante com o erro,
todos os destinos,
a falta de um beijo por cada inocência mal
descrita,
até a roupa inocente,
despida desajeitadamente porque se
quer bem de forma total,
tudo é acima da compreensão,
e ao não se entender,
eu serei a reprovação do desespero de
quem assim mata a saudade,...

a quem me possa querer mais 
que um desejo,
eu digo que nada sei,
sou a lua,
a frase impotente do fim dos tempos
renovada até a criação voltar,...


e assim,
desafio quem me desafia,
a regressar sempre na minha ausência,
transformada em presença de luzes

2022/03/28

Quadro indefinido

a tua roupa,
o diz que disse em mãos
nuas,
tudo se estende se a tarde aceitar
um convite,
e tendo sido sempre tu o objeto
da mensagem,
eu finjo que a novidade está na 
brisa,
e em como não me apercebo que o
tempo passa nos pormenores,...

assim descrito,
há um quadro que atenua a imensidão
da despedida,
e a novidade da árvore que se abre à lua,
para trazer a noite pelo contraste

 



2022/03/27

Resignação

quando o corpo se acomoda a tudo o que rejeitas,
ao que desprezas,
há soluços por debaixo da pele,
as inocências despontam no âmago do
que tinhas adormecido,
e o ser de duas tendências,
de duas cores,
de inocências anónimas,
desperta para fins que o traço
fino da poesia não acompanha,...

esta poderia até ser a tua última
resignação,
mas não a defendas,
há esperas mais aceitáveis na paragem
de todos os dias


Prenha de susto

desdisse nome de mulher,
roupa de criança,
pés de todos os que polvilharam
sangue em cima da comida,
e saiu com fome de tempo,
de repetir inconveniências,
flores exumadas para avaliar o 
que sobra do sono,
da rendição possível ao cerco da morte,...

a mesma que vem,
noite após noite,
e foge com vestes de mulher acossada,
prenha de susto



2022/03/26

Afirmação pessoal

 


quando ainda não sabia a escrita,
a génese de tudo o que suplanta o
medo com a razão,
era ao som que recorria,...

o despertar da manhã por entre
as nuvens da génese,
o féretro da noite que nos envolve
com a promessa de renascimento;
tudo servia para a afirmação de
um eu anulado;
incapaz de suprimir vozes,
e fazer valer conceitos,...

até que tudo mudou,
e a derrota veio encantadora,
com roupas de doce dealbar de 
uma nova história

2022/03/25

La muñeca

Um cabelo indistinto de dois tons, tão ralo que merece pena. Um vestido inofensivo, com cores que não despertam o teste da consciência de quem observa. Eu serei assim para sempre,...
a razão pela qual existem dúvidas. Pontos de contacto que entram pelas frestas, e pairam como gás letal no taciturno daquele lugar,...
por esta razão, um barulho incompreensível parece o teste certo para as novidades irregulares que o dealbar da noite traz,...
lá fora, pede-se uma última oportunidade ao amor. Ao mesmo tempo que os pés desculpam a morte. E a fazem pernoitar comigo num canto de duas vozes mudas



lamento por escrito


prometo escrever-vos,
a roupa vai doer-me,
a voz enlameada de raiva,
mas será a herança
o que vou partilhar
em cima da raiva,
das notadas flexões
de postura,
tudo será relido,
e dito vezes sem conta
com a novidade própria,...

escrito será,
mas inofensivo
com a proclamada
ventura de lá,
e a forma tosca de tudo
o que por cá continuar a ficar

2022/03/24

Escrito no dia em que fiquei sem pai

livre de uma poesia com menções desnecessárias,
floreados intelectuais longe da compreensão 
do comum dos leitores,
o que aqui está cheira a carmim,
é simples no vestir,
reluz não como ouro mas de acordo
com o olhar de quem observa,
sem ver,
só com a perspetiva da
renúncia ao material,
e a flor do imaterial como objetivo,...

quem escreve esqueceu-se de começar isto
que aqui está com capitular,
só dá para seguir em frente,
e recordar o que já foi este caminho de
anónimos feito

2022/03/23

necessário

o que via mostrava,
como templo,
desejos mal inocentados de perdição,
trapo roto de um andrajoso,
tudo seguia o mesmo método
de mostrar para perceber,
fazer aperceber,
que se o dia nasce sempre do mesmo 
sítio,...


a noite espera mais do que necessário



2022/03/22

Esperança de uma roupa rasgada

a tarde terminou,
apetecia que tudo se repetisse
da pior forma possível,
e depois houvesse mais qualquer
coisa para contar,
não sei a quem,...

apetecia também a luz,
embebida nas nossa roupas
de forma suja,
para nos deixarmos a sós com
a poeira de um resíduo;
de inveja,..

se bem me lembro,
os mesmos que ficaram a queimar,
em lume violento,
no dia em que de ti restou a
esperança de uma roupa rasgada

2022/03/21

Mais uma contribuição para o Dia Mundial da Poesia

respiro a penumbra,
há uma forma inocente de 
o dizer,
sem que se ataquem dogmas,
sem que os idealistas se afastem
do horizonte,...

para que assim tudo se reorganize
numa ofensa aos resignados,
e do madrugar renasça um
corpo desprovido de osso,
só com anuladas fórmulas matemáticas
de sonho 



Rebranding

Neste dia Mundial da Poesia, o Inatíngivel entra numa nova fase da sua vida. Não faz mais sentido falar no singular, uma vez que este projeto é para quem o lê.
Por isso, um rebranding.
A partir de hoje, este blog passará a chamar-se 'Inatingíveis'.


Obrigado a quem me lê, comenta, ou simplesmente passa por aqui.

Lisura de um bebé

 


Não importa a reserva,

Uma, duas, tres vezes de caráter,
A lisura de um bebé,
Uma revolução que não se esconde,
Tudo se anota num papel com a intenção de venda,...

E depois há a manhã,
Com tudo o que repetidamente quero que ela traga,
Na minha poesia,
Para depois se perder,
Irremediavelmente pelo horizonte negro da perdição 

2022/03/20

Mãos confiantes


Com frequência viramos as costas à presença,

Ao sorriso,

Às perfeitas ideias de entardecer em parelha,

Como se tudo pudesse fugir de nós apenas pela força de um medo necrófilo,

Que passa por juventude no meio de um olhar de fim de vida apressada,...


E se o rápido trouxer a perfeição, 

Será nosso o dia que falta nos intervalos destas mãos confiantes 

2022/03/19

Há muito tempo atrás, já tive um pai🥺


 

Baixe a fidalguia

 


Enjeito responsabilidade,

Assino numa pedra aquilo que foi a minha noite comigo mesmo,
E antes que numa qualquer ilustre casa se me baixe a fidalguia,
Assumo que nunca rejeito a posse de uma ideia,...

Capaz de a acarinhar serei sempre,
Dizer dela dois ou três versos infundados,
E depois voltar à noite comigo mesmo,
Estão prestes a fraquejar estas luzes de razão que me assoberbaram

2022/03/18

Tempo e irrelevâncias

 dizia-lhe simplesmente,
"minha senhora. A mim não me
assiste parar o tempo",
teria de conseguir inutilizar relógios,
amedrontar o caminho que se faz
para a irrelevância,
e torná-lo algo que dominaríamos com
facilidade,
até o apessoarmos à nossa imagem,...

por isso acrescentou,
"minha senhora, nada mais tenho a acrescentar",
e seguiu para onde tinha de ir,
um refúgio longe 
dos gritos de si mesmo



2022/03/17

Uma casa


A casa,

Duas janelas,

Se soubesse a minha mão estaria na porta,

O teu coração indivisível guardado,

Num baú de vime que comprei já não sei quando,

E haveria livros,

Com dedicatórias ao acaso escritas em línguas de sexo,

E ninguém para as ler,...


O tempo pára de formas diferentes, 

Indiferente ao Stephen hawking que sofregamente dizemos um ao outro, 

Em parcelas de sexo que não dão conta certa,... 


Uma casa,

Acho que já não moro aqui 

2022/03/16

Já não se dança mais nos aniversários

já não se dança mais nos aniversários,
as pessoas não querem,
só há mãos indistintas,
sons difíceis de recontar,
uma pausa atrás da outra
para que os silêncios se tornem anormais,
e haja paz onde antes houve intenção
de maltratar;...

o jovem lamenta que a mãe tenha partido,
imóvel chora e deplora que aquela mulher,
a mesma que vestida de preto se arrastou
anos para o fim do mundo,
fazendo questão de regressar com mãos vazias
para acalmar a fome de amor dos rebentos,
estivesse agora noutro lado,
a sumir-se em pó,...

já não se dança mais nos aniversários,
a conclusão suja que tiro tem
esta marca

2022/03/15

Bunker


 'arbeit macht frei',
todas as lições,
cada palmo de terreno;
a forçada ilusão de que
tudo está bem,
e depois a impoluta frase de um
filósofo,
expressa-se mal,
faz-te expressar mal,...

o tempo passa quando anelas os
dedos,
a ponta do indicador toca
o polegar,
e há cada solução improvisada,
para problemas que morreram,
naquele dia,
naquele 'bunker',
quando o mal fechou os olhos

2022/03/14

Untar

 


Untar,

Bem a boca,

Untar e besuntar,

Tens um corpo para alguma coisa,

Untar o passado e o presente que doa,

Recoletar momentos,

E besuntá-los na pele,

Porque há sempre rasto e rasgo para mais qualquer coisa,

Numa ardósia,

E no chão,...


Se ainda houver amor para untar,

Fá-lo afrontando,

A autoridade esteve comigo ontem de madrugada,

E disse-me para te rires,

E depois guardares no bolso,

Untado 

2022/03/13

Vocábulos

ilusão,
dono do sol,
fatia de nada,
parte de cá do mar,
casa decrépita
não obstante acolhedora,
raíz do mal indefinido,
tanta coisa e o
menos de tudo o resto,....

chama-me para
sempre a falta de um sonho,
o que quiseres e
o lamento certo para haver amor,
chama-me,
apenas



felizmente há luar (no pun intended)

felizmente há luar,
não há a tristeza de dizer
que a voz se nos abafa,
regredindo em tom ufano,
felizmente há uma noite
que se embrulha na mesma,
cama de sempre,
e nunca acorda para voltar a deitar-se,
quando mais ninguém quer,...

felizmente há quem escreva tudo
a tinta prova-o quando reluz
na luz tímida da manhã,
e a herança fica para os
que a quiserem preservar



2022/03/12

Anjo ferido

Tirado daqui

Foi o momento em que ela conseguiu olhar de frente o homem que a tinha atraiçoado. Nada de especial aconteceu. Ouvia, lá muito ao fundo, do que parecia ser um gaio assustado, e de quando em vez uma brisa surripiada ao Verão, que a deixava dormente enquanto se insinuava por entre o corpo que escondia em roupas sem história. Ele remetia-se ao silêncio, e ela aproveitava para falar conforme melhor tinha aprendido. Com os olhos. Considerava-se já poliglota no que chamava de "refúgio ocular". E a ele, dizia ter-se magoado. Ter deixado de saber chorar, escrever, e até encontrar conforto na dor suportável que o silêncio da solidão, de quando em vez, lhe conseguia trazer. O silêncio continuava. E talvez fosse melhor assim. Não havia defesa possível para a falta de arrependimento. E os olhos dele diziam isso. Os seus continuavam a falar,...mas sem serem ouvidos. Ao afastarem-se, mais uma vez sem ter sido necessária a linguagem verbal, acomodou-se no entardecer que a envolvia, como um xaile o faz a uma velhota esquecida no mundo. E talvez fosse melhor assim.

 

...outra coisa que não Karl

Tinha explicado a várias pessoas o meu conceito de luta política. Um dizia-me que estava ultrapassado. O outro concordou, mas contava pelos dedos das mãos esquálidas a quantidade de produtos, físicos e imateriais, que o zé trabalhador quer em cima da mesa a cada jantar que a mulher lhe faz.
A resposta que mais considerei, deram-ma quando começou a chover. Recordo-me do dia. Uma terça-feira de Novembro, naquele lusco fusco em que as pessoas perdem vontade de falar, mas continuam a marcar passo na rotina de qualquer hora. Foi de um tipo que conhecia mal. Acho que nem me lembro do nome dele. Marcava aí os seus 50 anos, e costumava vê-lo a andar sem destino, na azáfama de todos os dias. Avançou, depois de me ver sair da taberna do qualquer coisa, e vinha de dedo no ar. Dizia que me tinha ouvido a falar sobre política. Que considerava todas as coisas boas, até se começar a dizer que o homem só é feliz por causa do conflito social. E que de todas as vezes que se enervara sobre política, aquela fora a mais trágica.
Esticou-me ainda mais o dedo. Afiançou-me que a luta política era uma miragem. Que costumava escrever poemas para não refletir sobre o futuro inconsequente do homem. E que tudo já tinha deixado de contar para ele. Pela minha cara inquisitiva, a contar os segundos para conseguir arranjar um argumento certo para retorquir, ele resolveu afastar-se.
Deixou-me a pensar se deveria mudar o meu nome para outra coisa que não Karl...



2022/03/11

11 de Março, 47 anos depois

lê assim,
como se das mãos se te desprendessem
ramos de árvore,
e a manhã surgisse antes dos objetos que coletas
há tanto tempo,...

e já nem espaço te dão para um sono descomprometido
e livre,...

lê como a divindade da criação definiu as regras,
de olhos semicerrados,
prática corrente de racionalidade;
e uma porta que te separe da chama,
do último fogo do adeus,...

talvez haja compreensão
suficiente,
para que a resolução do mar te chame
ao sítio onde,
tens de estar



2022/03/10

Sânscrito

esforçava-se por o sânscrito
 soar pouco a crença,
 mais a possibilidade real
de novos ventos,
uma pressão nova para
que o mundo,
as duas metades da mesma
laranja carcomida,
pudesse unir-se de forma incomensurável,...

havia um livro
certo para que aquelas mãos,
não perdessem o alento,
a lonjura próxima de um mito,
não estava ali naquele momento,
mas a fome de revolta
aumenta quando menos se espera



2022/03/09

Casting

Ele quase jazia aos meus pés, Somavam-se minutos sem que nada dissesse,Mas tinha habituado a minha própria inquirição a ouvir o que eram as suas crenças políticas, os passos que tinha dado quando quase tinha morto uma pessoa, escapando-se só porque chovia, tudo isto os olhos diziam,...


E normalmente depois levantava-se, continuava sem falar mas percebia-se que em breve o iria fazer, até sair uma interjeição, um suspiro, a breve noção de que se estava ali pelo papel degenerativo do tempo, e não pelo reluzente do enorme espelho que era o sol de fim de tarde




2022/03/08

O embrulho

ficou decidido que se
 ofertava qualquer coisa,
embrulhada em terra,
não havia necessidade
de ornamentos,
já que o ar beijava
ao de leve a carne de
quem receava,
e inocentava a intenção de pecado,...

não se queria este mundo
e o outro,
só uma encosta de desejo,
uma pequena casa
na falésia,
onde o mar batesse,
sem necessidade de convidar
a morte para refeição, ...

e o embrulho,
mesmo que cheio
de ar e entupido de
absolvição falsa,
servia a intenção



2022/03/07

Pensar sem sentido


Quando realmente só interessava ser diferente,

Ter um livro aberto defronte,

Na página certa,

Com a passagem inofensiva de um autor desconhecido,

Já não dávamos as mãos,

Nem passávamos pelos sítios coerentes da forma,

Como antes o fazíamos,...


Agora a rotina tem sabor a ocre,

Não há dois dedos que se vejam por entre a neblina,

E só se citam coisas esporádicas,

Que não se agarram à nossa pele como dantes 

2022/03/06

Poeira não primordial

É hoje o primeiro dia em que tudo se apaga das minhas mãos,

Não há horizontes,

Não há dias,

Nem noites,

Só há poeira não primordial que vejo espalhada,

Como gritos de juventude que surgem fora de tempo,

Como se a memória não custasse nada aos desaparecidos de si mesmos,...


E depois,

Quando uma mãe surge incapaz de medrar, 

para manter as bocas dos filhos fechadas,

De fome,

Sobra só um desalinho de ideias que não cabe,

Nas únicas calças que sobram para vestir



2022/03/05

Página de vírgulas


Jamais tive amor senão
por uma página de vírgulas,
um encontro de pausas de uma
leitura familiar,...

Não me sentir único,
Força protetora do que
nos rimos naquela tarde encardida de Verão,
não me fez alheado da prova de vida,
dos sorrisos que tropeçam uns nos
outros num prado longínquo,…

A própria indefinição de um beijo,
Tornou-me credor da
razão,
Por isso a luz,
Esconde-me do que não
protegi de amor neste momento,
em que escrevo para não esquecer


2022/03/04

Trans song




 

Titilar

Propunha-se aprender o verbo titilar,

Eu títilo,

A manhã desdobrava-se na página que a noite permitia, 

Tu titilas, 

Apercebia-se da proverbial rotina do desejo, 

Ele titila, 

Anunciamos o fim dos nossos tempos,... 


Nós titilamos, 

Uma mão como o evangelho da perdição, 

Vós titilais, 

Iria oferecer-se à escuridão, 

Eles titilam, 

Tudo por pagar o silêncio com nova noite 




2022/03/03

Instinto maternal

 


Escrevo-a porque a vida não recolhe o amor do chão,

Antes espera que ele amadureça em sítios elevados,

Para o acondicionar na temperatura certa,

E servi-lo aos poucos,

Em doses certas de amanheceres trôpegos,

Sem sentido,

Com uma brisa que nos rodeia como os amigos do tempo das descobertas,...


Para depois nos ir deixando, 

Aos poucochinhos, 

Soltos no mundo, 

À espera que a água nos lave os olhos de vez

2022/03/02

Um dia gostava de saber escrever assim

 Bolero do coronel sensível que fez amor em Monsanto

ANTÓNIO LOBO ANTUNES
Eu que me comovo
Por tudo e por nada
Deixei-te parada
Na berma da estrada
Usei o teu corpo
Paguei o teu preço
Esqueci o teu nome
Limpei-me com o lenço
Olhei-te a cintura
De pé no alcatrão
Levantei-te as saias
Deitei-te no banco
Num bosque de faias
De mala na mão
Nem sequer falaste
Nem sequer beijaste
Nem sequer gemeste,
Mordeste, abraçaste
Quinhentos escudos
Foi o que disseste
Tinhas quinze anos
Dezasseis, dezassete
Cheiravas a mato
À sopa dos pobres
A infância sem quarto
A suor, a chiclete
Saíste do carro
Alisando a blusa
Espiei da janela
Rosto de aguarela
Coxa em semifusa
Soltei o travão
Voltei para casa
De chaves na mão
Sobrancelha em asa
Disse: fiz serão
Ao filho e à mulher
Repeti a fruta
Acabei a ceia
Larguei o talher
Estendi-me na cama
De ouvido à escuta
E perna cruzada
Que de olhos em chama
Só tinha na ideia
Teu corpo parado
Na berma da estrada
Eu que me comovo
Por tudo e por nada

Representação inédita do voar

O que sei é que talvez haja uma fotografia,

O que se chama uma representação inédita do voar,

Tenho-a guardada há tanto tempo que se transmutou,

Assume agora o ar entre os teus braços,

Que era invisível quando a reprodução foi feita,...


Sei que se passa qualquer coisa quando tudo isto falta, 

E é meia noite entre todas as tuas ausências, 

Sei que me emudeço só de recordar lá longe,

O que falta para terminar este poema



2022/03/01

Marçando a 5 de Novembro de 2021

as palavras continuam feridas,
o sangue como entoação prova-o,
por vezes nu,
sempre referido como o passado 
encontrado e sem influência,...


no resto comunica-se o breu,
na ausência de encontros,
e com as pessoas acomodadas a
uma alegria comesinha,
que não ofenda,
o tempo vai passando menos inclusivo,
mais deslocado da influência social
do amor

                                                                       Tirado daqui


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