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2025/08/03

Há parcelas da Grécia antiga,..

 a história não é sobre viajar só,

desenhar riscos planos e desenquadrados

com o eixo do mundo,...


a história nem sequer participa nos teus sonhos

sobre homens influentes,

vestidos de talha dourada,

e que ouvem música desconexa e remisturada com o vento,....


a história é azulada,

há parcelas da Grécia antiga,

voltar de uma inocência filosófica,

e ainda assim agarrarmo-nos à vida,...


a história apresenta-se plana,

mesmo que o planeta se achate gradualmente,

e de forma dorida,...


é uma história anacrónica portanto,

e até invisível



                                                                           Tirado daqui

2025/06/05

Renascimento

 L'etat c'est moi,

O louco infinito e descompensado falava sozinho,

Enquanto andava pela rua a distribuir sorrisos,...


Era um homem feliz apesar de tudo,

Não conhecia nada das relações humanas e até vinha por bem,

Esforçava-se pelo amor,

E adorava cada passo no mundo,...


Não pedia nada mais

                            Tirado daqui

2025/04/23

Paris da Bastilha

 Eu sei que eles voltaram,

Quanto mais as árvores abanam dessa forma monocórdica,

E há sons desprendidos do céu,

Como novas oportunidades para o silêncio,

Eu entendo que eles já falam de novo,...


E há um certo ar a assembleia revolucionária da Paris da Bastilha,

Com novos tempos a chocarem com velhos sentimentos,

E um azul desmaiado a rodear tudo,....


Eles nunca se irão mostrar,

Estarão escondidos na rebentação,

Aquela espuma que o mar revoltado liberta,

E por lá continuarão até que anoiteça

                                                                        Tirado daqui

Freddy Vs Jason De: Ronny Yu (2003)

2025/03/16

Medieval na linguagem,...

 Um sofisma de ter,

A presença certa do erro que assim se quer,

São as minhas mãos,

A luz hesitante,

Um resto de comida azeda com a bebida seca dos solitários,....


E para a miséria,

Faltará pouco com esta descrição,...


Só a eventualidade de um par de sapatos ilusório,

Roupa de rei em corpo de serventuário,

E a conclusão desta indução ao erro,....


O teu sorriso,

Vestido,

Medieval na linguagem,

Parco de gestos,

E intocável para a minha virtude de pessoa irrealizada 


2024/11/05

Com nomes de faraós egípcios....


                                                                                     Tirado daqui

O que significa mais ou menos isto,
Ou a nossa vida continua como se a revista se abrisse,
Quase sempre na mesma página,
E se lessem palavras cruzadas sem solução,
Com nomes de faraós egipcios ou herois insofismaveis que ninguém conhece,....

Ou ela não terá continuação,
Quanto muito fica nas margens do rio em que nos conhecemos,
Como um coelho assustado e reservado que foge de si mesmo,...

Entretanto o céu fecha-se,
E desnuda-se uma chuva certa, 
Efeminada,
De escrita poética acentuada pelo vento,....

Nada disto representa o entendimento,
Nem a falta dele,....

Apenas um beijo que devo 
no teu choro

2024/07/26

Esquissar

A exploração de quem não quer,
por quem acorda noutro real,…

horas invocadas,
e a noção díspar,
com letras pequenas perdidas
em páginas por escrever,
de que as árvores se esquivam às
artes fecundas das sociedades
esquissas,…

conhecidas pelos olhos sem
cor das pessoas,
e a música oculta de um passado
que não produz crianças,…

e no fim,
ganham os derrotados,
como sempre foi a ilusão
do mundo acentuado

                                                                          Tirado daqui

2024/06/26

Prosa escorreita e sem sentido definido

.... e lavavam. Diziam que estava certo, que o problema era a sujidade. Várias pessoas, umas sete, juntaram-se de vassouras e esfregonas nas mãos, uns dois ou três baldes cheios a metade com água, e um intenso cheiro a detergente. A ideia era esfregar, varrer, tornar aquele quintal habitável. No alto, o sol estava a pino. A tarefa tornava-se difícil. Uma mulher limpava a testa com as costas da mão. Um homem lamentava, baixinho, o momento em que aceitou participar naquilo. E um miúdo, um pirralho com os fundilhos dos calções rasgados, dava pinotes como uma lebre pelos cantos, sujando o que estava ser limpo. Numa aldeia, como outra qualquer, este é um momento digno de ser descrito.

                                                                        Tirado daqui

2024/06/07

Este texto esteve quase a levantar voo, mas cortei-lhe as asas

 Naquele dia, melhor naquela manhã, era aniversário do último dia em que o levaram preso. O José, há anos que era só José. Tinha tido uma existência normal, tão normal quanto a Lisboa de 1965 o podia permitir. Naquela altura ganhava o pão como estafeta de uma empresa de ferragens. Pagavam-lhe para ir do Rossio todos os dias, várias vezes ao dia, a equilibrar encomendas debaixo dos sovacos, meter-se no Metro, e ir deixar coisas aos clientes. Mais anónimo do que ele só mesmo os pombos que observavam aquela cidade amordaçada, todos os dias, no cocuruto da cabeça do rei D. José no Terreiro do Paço. Mas sem saber como, andavam a aparecer-lhe em casa uns homens de gabardina preta. Perguntavam à mãe por ele. A senhora, receosa, disse-lhes onde ele trabalhava. E um dia, quando estava a sair para ir almoçar a mesma sandes e a mesma cerveja de segunda a sexta-feira, apareceram dois e levaram-no. Foi dentro de um carro, sem saber o que dizer e multo menos o que fazer. Saiu da viatura. Andou cabisbaixo ainda alguns metros, até chegar a uma casa senhorial de vários pisos, de fachada branca. Fizeram-no subir apressadamente diversos lanços de escadas, até chegar a um gabinete escuro. Só havia uma mesa comprida, quatro cadeiras, e o sol daquele dia de Primavera entrava só por uma fresta de portada de janela mal fechada. Esteve sozinho ainda um bom pedaço de tempo. Pensou na mãe que devia estar preocupada, e sentada no banco da cozinha a pensar nele porque aquilo já eram horas de ter acabado de almoçar, e regressar ao trabalho. Pensou o que poderia ser. Lembrou-se de uma discussão de futebol que tinha tido na tasca lá do bairro. A maioria dos velhotes diziam que o Eusébio só tinha era de ficar no país. Ele teimou que um jogador daqueles devia era estar em Itália. Isso nada tinha que ver com política, por isso não entendia mesmo o motivo de ali estar. Não sabe dizer quanto tempo passou, até que surgiu alguém. Um homem:

-A mim o meu amigo deve tratar-me como doutor.

Só lhe disse isso, antes de puxar uma cadeira e sentar-se ao lado dele. Foi então que começou. Levou dois bofetôes de mão aberta na cabeça. E depois uma joelhada no peito. Vieram mais dois homens que fecharam a portada da janela, e começaram a tirar-lhe a roupa. José foi arrastado nu para uma casa de banho. Só se lembrava de música alta. Fado, muito fado que se ouvia até na rua, tornando impossivel a quem passava perceber o que ali estava a acontecer. Puseram-no debaixo de água fria, com ele a tremer muito das pernas, a sentir a força e o orgulho a escapar do corpo pelos poros. Mas sempre de pé. 

O doutor voltou e, aos gritos, só lhe perguntou:

-O senhor é anónimo de mais para o meu gosto. Quem são os seus amigos?Porque é que ninguém sabe de si na sua rua?

José não respondeu, porque não sabia o que dizer. Levou mais pancada, com o corpo encharcado. A tudo respondia com um abafado gemido, porque ele sempre tinha sido assim. Incapaz de incomodar alguém com a sua presença, e muito menos com a voz. Só na manhã seguinte voltou a casa. Abatido, com dificuldade em andar, mas sem marcas no corpo. Quando entrou pela porta dentro, a mãe chorava. Falava com dois policias fardados, pois já se tinha lembrado de participar o desaparecimento do filho. A senhora gritou quando o viu. Era o seu único filho, não tinha mais ninguém no mundo. Ajudou-o a deitar-se na cama, e disse aos policias que já não era preciso mais nada. Perguntou a José o que se tinha passado, mas o filho reservou-se ao silêncio. A partir daí não voltou mais a ser o mesmo. Os homens de negro voltaram mais duas vezes. José voltou a ir com eles, e regressou mais reservado. Ferido no corpo, de alma acorrentada. E prometeu, sem nada dizer, que quem o quisesse domar não saberia mais a forma certa de o fazer. Chamou-lhe resistência. Não o sabia definir, e a cada ano marcava o aniversário do dia em que o tinham mudado. Sem o vencerem, mas tornaram-no diferente 

                                                                              Tirado daqui

2024/05/06

1.º de Maio, cinco dias depois

que tem a dizer neste dia tão especial?,
o ancião abriu os braços,
percebeu-se que engoliu
as lágrimas várias vezes,
olhou para o céu,
e de forma sincera
argumentou a vontade,
o desejo de ter mais
e mais ilusões
como aquele dia em que
o povo saiu à rua,
após tanto tempo de corda
ao pescoço,
estrangulado,....

e gritou,
gritou a plenos
pulmões,
que queria a vitória enfeitada
com versos,
como se cada dia,
a partir daí,
se propusesse
a minutos novos,
feitos de jasmim e outras flores que
o dicionário não conhece,….

‘obrigado, obrigado a todos’,….

O ancião caminhava,
de braços abertos,
enquanto carros militares guardavam
o destino,
desatado como um pião a rolar rua abaixo

                                                                               Tirado daqui

Do documentário As Armas e o Povo (Weapons and the People),
1975


2024/03/06

numa história tosca...

 

Está esquecido,

o risco da história,

as frases inocentes que,

sendo outrora casa,

hoje são perdição vestida,

de velha com braços de maldade,...


habitamos nos intervalos das memórias,

é nosso o risco da vontade,

o desabamento que se segue ao orgasmo,...


é nosso,

sem retorno de precisão,

ou de lamentos,....


numa história tosca,

mas incrivelmente precisa,

e triste.


2023/05/11

Só porque sim

                                         Menina com uma cabra, Benton County, Arkansas. 1901

                                                                             Tirado daqui

2022/06/10

Marcando a Portugalidade

 


Nos idos de 1982,

Apanharam-me com um molho inútil de papéis na mão,

E a consciência influente que os copos meio bebidos de borrasca,

Calão meu para o que me escorria pelo estreito em todos os sítios infetos por onde passava,

Só poderiam ser a minha herança,

Se houvesse alguém ou algum conceito capaz de os aproveitar,....


Deixava sempre para trás um plano estático de anonimato,

Não conseguia dormir sozinho no meu deboche,

Nem anonimo na solidão que me acompanhava,

E a fortuna,

Ia para aquele molho de papéis inútil,

Com que as ruas do bairro alto me viam com frequência,

E sempre faziam questão de me rejeitar 

2022/03/31

Nós dos dedos dos velhotes

existiam então alguns
espaços,
coisas mínimas enfiadas nos
nós dos dedos dos velhotes,
aí talvez fosse o fim do dia,
a forma exata para o meu silêncio
surgir,
imerso na escuridão que me diz
a razão,
e nesses espaços,
a coerência do passar do tempo
falava a montante,...

com tudo a distanciar-se,
as cores deixavam assim de 
ser percetíveis 



2022/03/15

Bunker


 'arbeit macht frei',
todas as lições,
cada palmo de terreno;
a forçada ilusão de que
tudo está bem,
e depois a impoluta frase de um
filósofo,
expressa-se mal,
faz-te expressar mal,...

o tempo passa quando anelas os
dedos,
a ponta do indicador toca
o polegar,
e há cada solução improvisada,
para problemas que morreram,
naquele dia,
naquele 'bunker',
quando o mal fechou os olhos

2021/12/06

Observar uma janela


 

assumindo que cada minuto é a diagonal

que conseguimos suportar,

observava candidamente aquela sacada

de janela antiga,

triângulos simétricos,

defendiam os vidros embaciados e sujos

pelo tempo,

pedaços indolentes de tecido dançavam,

à cadência de um vento inofensivo,...


estava ali por razão nenhuma,

com um selo de dispensável nas mãos,

e o desejo que os dias namorassem

comigo o suficiente,

até a volatilidade do meu ser se

tornar uma realidade

2021/04/12

Serviço noticioso

 

Tens a certeza que não queres falar?,

Pensa nesta porta arredondada,

Aliás sempre vi esse 

batente dourado,

Em forma de interrogação,

Como um desafio de simbiose,

Capaz de juntar todas as minhas dúvidas,

E fazer-me pedalar tão depressa,

Que chegava ao mercado dos sonhos 

sempre antes dos silenciosos,...


A respirar como o nosso professor de francês,

Quase como o general das ordens irrefletidas,

Acredito que vás conseguir 

pelo menos dizer citações da Ilíada,

E ainda terás tempo para um sorriso fugidio, 

antes do último pedaço de 

bacalhau do dia,

Pensa nisto antes da locução inofensiva,

do velho careca que diz as notícias na rádio 

2021/03/27

Língua perdida

 Arranjara um emprego num sitio repugnante,

Com pessoas que usavam a indulgência para sobrecarregar o ego de quem não gostavam,

Subia e descia todos os dias a mesma rua,

Debaixo de olhares assoberbados por uma morte indissociável da ruína,

E aliada do que possa vir a mais em relação ao que se tinha perdido,...


Resgatara o nome de escravo,

O que tinha usado nos tempos de algodão,

Os que lhe vinham à memória quando o sono o resguardava,...


Restavam-lhe mãos de sino,

Uma experiência inodora que só ele aproveitava,

E da qual fazia a teologia suficiente para,

Uma noção autóctone de religião,...


Estava tudo escrito em esperanto,

Ou uma ideia semelhante a uma língua perdida, 

Que só ele entendia, 

So a ele entristecia,... 


Quase como se o mundo fosse um nenúfar perdido 





2021/02/12

Génese

 



Parecia manifestamente insuficiente acreditar em teorias vetustas,

O homem tinha de ser abraçado na sua génese,

Onde a perceção de finitude doesse mais,

E depois viria a sebenta habitual para citar filosofos,

E rescisões com a filosofia,...


Quando tudo é simples,

E sequer nem tem idade,

A explicação para o fatalismo dos homens,

Está nas aldeias,

Em ouvir as tradições,

No sujar das mãos com a poeira da idade,

Para que se deixe de fazer o pão que não interessa conhecer,... 


Assim haverá uma renovação pronta, 

dos nossos princípios de vida