2008/01/24

Amor Idílico

O rock está morto. Atrás daquela névoa azul, de contornos roxos,.... Betty pensa que ele terá sido assassinado. A última vez que o viu, estava sentada à porta do gabinete do ginecologista. Ele vestia todo de preto, e segurava um ramo de malmequeres. Chorava abundantemente, e dizia que tinha acabado de ser pai.
Betty achou estranho que ninguém o ajudasse, e por isso levantou os 55 quilos de músculo da cadeira, e dirigiu-se a tão triste figura. Pôs-lhe uma mão no ombro, e recitou um versículo da epístola de São Paulo aos pescadores.
Terá sido um momento intenso, já que o ruído ensurdecedor do silêncio naquele consultório tornou-se ainda mais intenso. O rock não respondeu. Betty insistiu, e ofereceu-se para ajudar, assegurando ser uma catequista devota. Disse que se tinha habituado a questionar a vida, e até a própria cor dos olhos de Jesus Cristo. Para ela, o filho de Deus é albino, gerado por um casal de birmaneses a viver algures na Nova Zelândia.
O choroso rock pareceu colher algum conforto destas palavras. Betty ofereceu-lhe o lenço de seda chinesa que trazia no bolso da saia, enquanto tentava perceber o grau de humidade naquela sala. Parecia bastante elevado.A atracção foi inevitável. O rock convidou Betty a ir ao parque da cidade, onde rezaram à divindade dos porcos. Betty é xintoísta, e o rock não tem religião, mas respeita todas. Fizeram amor ao som do merengue de Célia Cruz, e no fim trocaram números de telemóvel. O rock desenganou logo a amante de circunstância. Disse ser uma pessoa ocupada, com viagens de negócios constantes.
No entanto, à noite, quando rezasse, iria com certeza pensar nela. Betty seguiu a sua vida e, dias depois, alguém lhe contou que o rock tinha sido preso. Foi apanhado a assaltar um banco em Nova Iorque, armado com um grande, potente, e letal galho de árvore. Betty chorou, e resignou-se a ter perdido o melhor amante em 24 anos de vida. Ele era bonito, forte, bom na cama, inteligente, e aberto à cultura.A vida não presta. Betty quer acabar com tudo, mas não sabe como. Disseram-lhe que as profundezas de Hegel poderão ser suficientes para a levar onde ela quer ir.
Mas, à falta de uma certeza, limita-se a passar os dias a comer farelos de trigo. A notícia da morte do rock não a apanhou de surpresa. Tudo indica que ele tenha sido assassinado numa troca de tiros com um grupo de jovens na zona J de Chelas, em Portugal. O corpo foi encontrado com um bilhete de desprezo. Acharam-no antiquado de mais para continuar a viver.Betty voa ao encontro da lembrança, da herança. Duas gotas de LSD deverão servir para reencontrar a imagem do único homem que ela amou na vida.

2008/01/23

Sem título (45)


Kafkamente falando,
aquele senhor é um fraco,
Raspa a pele assaz cobreada,
E saltam esporas cavalares,
Incha as narinas aquilinas,
E exala o gás da espera,
Kafkamente falando,
Desgosto daquele senhor,
Talvez o mesmo se decomponha,
E parcelas de húmus fertilizem a terra,
Fico à espera da árvore disforme,
Que um acto de criação nunca trará.

2008/01/19

Vivam os pombinhos!!!


Vivam os pombinhos!
Verso atirado para o ar,...
Saiu um vento, e as rosas assentaram,
Os pombinhos que se danem,
Numa orgia de repulsa,
É o arroto que nos vale,
Será o peido com molho a prevalecer,
E o deboche, servido com morango?
Vivam os pombinhos!
Ai que linda vai a noiva....

2008/01/15

Sem título (46)

O pingo sai à medida da nuvem,
Serve para regar uma alegoria,
Friso decomposto da vida ao sol,
Sombra seca e frutuosa,
Que acolhe a húmida tentativa,..
..., de restabelecimento personalizado,
O pingo desapareceu,
Bebeste-o tu,
Névoa de um passado mal resolvido...

Anseio

Se ela descalçar um sapato, o cheiro transformar-se-á em sentimento? É mulher, está na flor da vida, e vive com um dilema: funções hormonais activas, poderão ser uma sina. Ava, não Gardner. Olhos castanhos, desmaiados. Frank Sinatra, ouviu falar. Um metro e sessenta, bem esticados. Manchas castanhas na pele, e até tem bom fígado.
E uma crença no livre arbítrio dos homens. Compra-se no bar mais negro, na curva mais distante, no ponto menos conhecido do mapa. E só custa uma porção de pele vermelha. Irritada, daquele ‘skin rash’ que sabe bem, e a conforta até à medula.
Isto caso o homem tenha genes latinos, e uma boa pilosidade de pelo menos 3 dias. Se não os tiver, a situação merece uma reflexão breve. O avanço é consumado na mesma, mas lá está... Um simples ‘alçar’ de axila. Uns meros 25 graus no termómetro. E a dissidência de interesse dispara. Ava responde sempre da mesma forma. Agarra-se à malinha de alça curta que usa como barreira à emissão de odores inoportunos, e com passinho curto segue em frente. A agilidade de sentimento, não a torna presa fácil para a solidão.
A insegurança fá-la olhar frequentes vezes para trás. Já lhe disseram, quem a vê quando ela passa apressada na rua da incerteza, que nas costas lhe pende um íman poderoso. Coisa grande, que chama a atenção. Ava já o experimentou cortar.
Pagou a um soldador para arrancar aquela coisa. Quis comprar uma barra de dinamite, e experimentar o ‘rush’ da incerteza. Tudo falhou, e os passos em falso sucederam-se depois disso.Ontem, quando menos esperava, caiu-lhe um pedaço da alma no chão. Sem saber o que fazer dobrou-se, pegou cuidadosamente naquela matéria disforme, e guardou-a num lencinho de papel. Talvez para emoldurar, talvez para meter no laboratório e saber de que se trata. Ava tem uma teoria. Ela acha que, finalmente, perdeu a malformação genética que a impediu de ser feliz. Só há uma coisa a fazer.
Ainda hoje vestir a roupa menos discreta, tomar banho no perfume mais ofensivo, e calçar os sapatos mais ‘Monte Everest’ que estiverem guardados no closet.
Se mal puser o pé na rua, lhe cair aos pés um homem que, em vez de querer saber as horas, lhe perguntar se a felicidade é algo que se compra na praça,.....então é porque se confirma o que tanto anseia.

2008/01/14

A besta negra...

A perversão da inocência é o maior perigo que o homem criou à sua própria capacidade de desbravar fronteiras. Não há limites ao desejo por aquilo que é simples, fácil de agarrar, simples de ‘desvirginar’. Mas por detrás de uma tentação, há sempre o perigo do incerto, daquilo que não se espera, mas que se sabe que é destrutivo, e até letal.
Quem duvida, experimente segurar no ser mais inofensivo que encontrar. Limite-se a segurá-lo por uns minutos, sem pensamentos perversos. Apenas desfrute do prazer da comunhão com aquilo que foi criado para espalhar a boa disposição.Atingida a comunhão consigo próprio, e com o mundo que o rodeia, deixe esse ser seguir a sua vida, e regresse à rotina que sempre conheceu.
Asseguro-lhe que a primeira coisa que vai sentir é um medo enorme. De dentro da sua alma surgirá uma entidade desconhecida, quase que um reflexo dos pavores que sempre assombraram a sua existência. Perderá o controlo de todas as suas funções vitais e, gradualmente, vai deixar até de se considerar como um ser humano.Exagerado? Se pensa assim, experimente agora colocar um desafio a si próprio. Peça ao seu corpo para voltar atrás, e encarar o pedaço de inocência que acabou de atravessar a sua vida. De certeza que não vai conseguir. Os remorsos já respondem por si, quase como se o consumissem por dentro. Sente-se incapaz até de respirar e, desesperadamente, luta contra a tentação. Parabéns, acabou de conhecer a sua própria besta negra.
Ela é má, dominadora,....a entidade mais cruel que alguma vez pisou o nosso planeta. Por muito que deseje, ela nada tem a ver consigo. Vai fazer com que se sinta até enojado de se ter conhecido a si próprio.Quer um conselho? Tente pensar na morte. No mais sombrio dos refúgios, longe de si, longe dos que o conhecem e, principalmente, muito distante de quem nutre sentimentos pela sua pessoa. Lentamente, o ser humano mortal que nasceu dentro de si voltará a assumir o lugar natural, e ela, a besta negra, repousará de novo num sono de duração incerta.De futuro, procure evitar situações semelhantes.
Até poderá controlar-se a si. Mas olhe que a besta negra tem um sono muito, muito leve.

A desilusão ou a história do homem invísivel

Com a cabeça para baixo, e os pés a balouçar, eu caminho na estrada da desilusão. Quem passa por mim nem se dá ao trabalho de parar. Vejo mulheres com o sexo cosido, homens com a barba em sangue, e crianças a receber a extrema unção. Tento passar despercebido, mas nem vale a pena o esforço.
Tropecei na raíz da árvore do pensamento. É pontiaguda, ameaçadora, e tudo faz para atrair presas fáceis de devorar.
O chamamento é apelativo. A letras douradas, está inscrita num dos ramos a palavra liberdade. Perdi um braço, e senti a alma a começar a sangrar, mas a marcha teve de continuar. Um velho, que eu não acreditei que o era, começou a gozar comigo.
Tinha cara de quem ainda usava cueiros, e modos de um imberbe adolescente que já foi preso por roubar carros. Disse-me que eu ia ter uma morte dolorosa, e não havia de demorar muito. Agrediu-me com um pau, e chamou-me de estrado teatral. Quando me deixou ir, gritou aos sete ventos que finalmente tinha agredido Moliére.
Ao chegar à recta final da minha viagem, senti-me...., sim,...desiludido. Prostrado, sem força para viver, entreguei-me aos desígnios das fadas que regulam a circulação nesta estrada. Transformaram-me em sinal de sentido proibido, e colocaram-me no primeiro entroncamento que encontraram.
Pediram-me para estar atento ao próximo adolescente com ideias de mudar o mundo que passasse por ali.

2008/01/11

Sem título (47)

...e a coisa mais feia que conheces?
Por vales intermitentes de incerteza,
Levaste com a mesma em cheio no prurido,
Fizeram de ti o rosto decalcado,
O corpo eufemista e paranóico,
A alma parcimoniosa,
O todo que se arrasta em dor,
Tudo pintado a púrpura,
Não descreve a agonia recalcitrante,
Que te amassa, pisa, esmaga,
Apenas porque o porquê,
Faz-te dormir em desassossego,
Sobre o fino atalho da dor...

Se John Rambo não tivesse aceitado regressar...

Coronel Trautman (CT)- John, o mundo livre precisa de ti.
John Rambo (JR)- Coronel, e eu preciso de quem? Já se lembrou disso?
CT- Não estou a perceber John.
JR- Desculpe, meu coronel, mas eu encontrei-me.
CT- John, desiludes-me. Washington tem uma missão para ti, e o Presidente só confia nas tuas capacidades.
JR- Coronel, conhece o sentido da vida?
CT- Estou a ver que estás fechado neste pardieiro há muito tempo. John, diz-me. Que desafio é para ti bater em tailandeses.
JR- Com o devido respeito, coronel, se o senhor não me responde, respondo eu...
CT- Estás a mandar-me embora, é isso?
JR- Não senhor. Basicamente não falo com ninguém há três anos, e tenho uma coisa atravessada na garganta.
CT- Penso que ainda sou o teu único amigo, sargento. Por isso, fala. Estou a ouvir.
JR- Coronel, a solidão ensinou-me que sou gay.
CT- (...)
JR- Não tenho mais margem para enganos. O amor encontrou-me, e eu não o vou desiludir.
CT- Bem, se o melhor homem que eu alguma vez tive até já goza comigo, nada mais tenho aqui a fazer.
JR- Não, meu coronel. Penso que me conhece o suficiente para saber que não sou homem de brincadeiras.
CT- (...)
JR- A vida é curta, e eu adoro o som do vento a marcar o compasso.
CT- Adeus John, pensei que fosses mesmo meu amigo.
JR- E sou, meu coronel. Por isso tenho de dizer não ao que quer que seja que me fosse propôr.
CT- Os russos esperam-te, John.
JR- Não, coronel Trautman. Russos na minha vida, nos dias que correm, só os pêlos dos sovacos.
CT- Porque ficaste assim?
JR- Comecei a ouvir a versão asiática dos Backstreet Boys. É a única coisa que aqui se ouve. Todos cumprimos um voto de silêncio.
CT- Pois então que sejas feliz,...
JR- Estou a tentar sê-lo, meu coronel. Penso até em casar. Ele é japonês.
CT- Não quero saber. Adeus John.
JR- Posso mandar-lhe um convite para o casamento, coronel?
CT- (...)
JR- Homofóbico!!!!

Gole de tinto suave

Se te despes, cobre-te já,
Se te cobres, porquê o pudor?,
Quero o etilismo do teu ser,
Servido num cálice de deboche,
Porque tu és cicuta doce,
E consegues ser champanhe amargo,
Só eu anseio por classe suficiente,
Para sair de um redondel de vício,
Na ponta da tua língua está,
poderá estar, imagino que esteja,...
Quem és tu na realidade?
Ah, um gole de tinto suave...

2008/01/10

Sem título (48)


É o apego que me faz falta,
Partir a capa da dureza,
Tirar o miolo da doçura,
Digerir o porquê do incondicional,
Já senti a ausência da falta,
Dilacera o que se tem,
Faz perigar o que se quer,
Aumenta a razão do que já se teve,
E no fim, no meio do rosa do céu,
Esquece tudo, e recomeça,
A vida parou na estação do arrependimento.

2008/01/09

Prosa Quente...


O cão é inteligente. É uma pena que seja indolente. Talvez até seja boa gente. O problema é que nem tem frente. Ninguém diria realmente,...mas o animal perdeu-se tristemente. Mordeu um gato indigente.
Que se voltou a ele ferozmente. O rabo caiu-lhe, e o coto ficou dormente. As orelhas tombaram circularmente. O corpo pediu toda a paz e, sinceramente.... Deus estava num dia carente. Pediu o amor daquela criatura em tom pungente. Em troca, recebeu um olhar pintado negativamente. O cão é ateu,....não registou qualquer dúvida premente.
Talvez aceite um funeral feito singelamente. Nada de flores oferecidas pedantemente. Amor em doses produzidas industrialmente. O último suspiro, como é evidente, será dado a remar contra a corrente. Felizmente.

(...), todos os eus

Um ponto é minúsculo,
A linha é ténue como a surdez,
A roda envolve o crepúsculo,
O triângulo abre caminho à tua vez...
Ouve, o lamento é suave como a manhã,
Vê, o nascer da tua crença,
Sente, a vida é o teu ‘Canaã’,
Faz, antes que a morte te vença...
Tu, és a soma de todos os eus,
Se, põe a vontade á frente do desejo,
Mas, todos os lamentos meus
Certo, ao teu lado eu velejo...

2008/01/07

Tira-Cheiros


Pedaço de palavra mastigado,
Deglutido no sangue do silêncio...

É para calar o desbocado,
Aliviar a dor da inocência,
E fechar uma vida inundada...

A palavra tem de sair,
Salada de frutas ácidas,
E no fim o tira-cheiros...

2008/01/05

Uma questão de tamanho

O estabelecimento era antiquado. Pouco mais de 80 volts conjunto de luz, pintavam de dourado adormecido paredes que já foram pretas, mas que hoje escapavam para um cinzento assustado. Quatro prateleiras brancas dispostas em quadrado, traçavam diagonais com uma caixa registadora geometricamente colocada no centro do estabelecimento, e onde se sentava o dono.
Trata-se de uma mercearia registada em todas as conservatórias necessárias à legalidade vigente, implantada no centro de um bairro respeitável, e gerida por um senhor honesto. O homem já foi José, já foi António, já foi Silva. Agora responde apenas por vizinho.Agora é uma previsão optimista, porque o estimado comerciante em causa está internado no Hospital da Divina Misericórdia local, lutando contra um surpreendente entupimento de artérias. A coisa aconteceu na rebentação de um dia igual ao de ontem, e previsivelmente semelhante ao seguinte.
Vizinho esperava o fim da informação desportiva, religiosamente recitada do interior de um transístor que resistia às agressões violentas do tempo. Mal a voz terminasse, e a corriqueira publicidade ao restaurador Olex fosse posta no ar, a caixa registadora seria encerrada, o dinheiro feito no dia colocado numa pasta de cabedal, e o estabelecimento encerrado.Mas o relógio pareceu mais lento naquele dia. Os ponteiros esperavam o inevitável, e o inesperado aconteceu mesmo.
Um ruído agudo, antecedeu outro exactamente produzido no mesmo tom de decibel. Vizinho estava de costas para a entrada, e quando a pachorrenta movimentação de pescoço que efectuou chegou ao fim, pôde constatar uma presença sumida. Parecia uma mulher, mas as indicações genéticas enganavam. Homem não era, porque ninguém de respeito pinta uma cara esquálida com o que mais de berrante a indústria cosmética consegue produzir. Por isso, na dúvida, trata-se com o devido respeito.
O meio salto de um par de sapatos vermelhos-sangue ecoava, em tom arrastado, ao longo de toda a área do estabelecimento. Completada uma volta inteira ao perímetro do quadrado, a cliente parou junto à caixa registadora, e numa voz sumida questionou:- Tem tampões?Vizinho sentiu-se embaraçado. Mas o devido respeito a um empresário obrigou-o à saudação da praxe. A um boa tarde da ordem, seguiu-se o mecanizado:
- Sim, minha senhora. Estão na prateleira em fundo de loja, no canto superior direito. Mesmo debaixo dos cotonetes.
A uma questão indolente, seguiu-se uma observação pintada de inesperado:
- O senhor não me está a perceber. Eu quero tampões para uma situação especial....
O narrador sente necessidade de apressar o final da história. Duas nuvens irritadas zangaram-se no topo da pirâmide geométrica que regulava a vida naquele bairro, e abriram caminho a um chuvisco persistente. Vizinho sentiu o impacto do rigor meteorológico, que lhe fez nascer a necessidade de apressar a conversa mas,....
infelizmente,....
não conseguiu.
Seria um ser humano quem praticou o seguinte acto. Não há certezas, mas os indícios assim o fazem prever. Num movimento sincopado, quase próprio de uma goiabeira da selva das Guianas, montada por uma preguiça centenária, a senhora que chegou, por momentos, a merecer o respeito de vizinho, abriu os jeans azuis ruçados que trazia.
Ao desenvencilhar do botão, seguiu-se uma estridente via sacra do ‘zipper’, e a inesperada revelação de uma monstruosidade demoníaca.
Duas grandes bolsas de carne acompanhavam a curvatura esquálida das coxas amareladas, e tilintavam junto das rótulas pintadas por uma psoríase asquerosa.
- Como vê sou avantajada, senhor....
Esperamos todos as melhoras de Vizinho. Os problemas cardíacos não podem impedir um estabelecimento comercial respeitável de contribuir para o bem de uma comunidade.

Ruminâncias Poéticas...

Pústula friorenta na pele em chaga,
É poesia,
Receio do mar, em dia de neve,
Pode ser poético,
Amo-te, só quando és homicida,
Sonetos garantidos,
Bêbedo conveniente, em dia de funeral,
Quadra popular,
Junta tudo num pote, deita leite,
Recorda os dois olhos bons do Luís Vaz,
E continua a tentar,
Ainda não és poeta,
Mas podes vir a ser...

2008/01/04

Diálogo entre desconfiados II

- Só gosto de andar direito, e respeitar a curvatura da minha espinha dorsal.
- Por isso tens gases.
- Até tenho. Mas juro-te que se tu continuas a apresentar-me como um selvagem disforme, sacana, e incapaz de controlar as funções vitais, vais conhecer a curvatura das minhas falanges.
- És um ser que se esquiva às críticas, como a caça se furta aos chumbos das caçadeiras.
- Sou um homem realista. E ai de quem me apontar que não respeito aquilo com que me comprometo.
- Pois. Ai de quem se atreva. Tu brindas a pessoa com um gás, certo?
- Olha, vai ali à esquina onde vês a velhinha, e constata se eu lá estou.
- Não estás, porque antes disse vais ter de ir à casa de banho. Estás com gases.
- (silêncio)
- Pronto. Toquei-lhe no regulador de emoções mal contidas.

Diálogo entre desconfiados I

- Se eu fosse o maior hipócrita do mundo, o que achas que ganharia com isso?
- Dores de cabeça, um peso na consciência, e flatulência.
- Achas mesmo? Afinal de contas não é para os desentendidos que estão guardados os maiores prazeres da vida?
- Não creio. Experimenta a fechar um olho, e a corrente do desespero arrasta-te sem compaixão. Além disso, ficas com gases.
- Eu tenho uma reserva de frases de compaixão para quem me quer prejudicar.
- Isso não chega. Se com frases, matas a intenção, elas não servem para matar a repetição do desejo de fazer mal. E os intestinos sofrem sempre.
- Até hoje nunca me dei mal em fingir uma bondade inerente, e praticar um cinismo pausado. Sempre com um truque na manga.
- E nunca fizeste colonoscopia de nenhum tipo? Podes comer citrinos? Não te dás mal com feijoadas?
- Mas porque insistes tanto em querer saber sobre os meus hábitos de defecação?
- Ora, porque tenho uma teoria. Quem anda sempre com a faca escondida na manga, sofre dos intestinos.
- E acreditas num disparate nesses devido a algum trauma de infância?
- Não. Simplesmente consigo discernir a postura das pessoas que, como tu, não são de confiança.
- E o que tenho eu de diferente, por exemplo, daquela velhinha que vai a dobrar aquela esquina?
- Essa rigidez de movimentos que apresentas não é natural. A senhora, coitada, perdeu a luta contra a artrite que lhe destruiu as articulações.

2008/01/03

Liberdade de Loucos!!!!

Se pelos cravos, eu trocasse cardos,
As espingardas seriam penas,
Tu acenavas um esboço sem alardes,
Num país à míngua de novenas...

Caí na espiral, e levantei-me em supernova,
Tu caminhavas numa praça em chamas,
Escrevi a minha vida numa trova,
O tear da escuridão teceu tramas...

Escada, pé, via sacra de desilusões,
Escalo o Everest a pensar em avareza.
Sonhos revoltam-se em plenas rebeliões,
Renuncio à perseguição da douta beleza

Frágil és, a candura consome-te a inocência,
Liberdade desfaz-se em pequenos equívocos,
O país que calcorreio, grita vozes de ausência,
Vivam os pressupostos de uma liberdade de loucos!!!

90 anos...

A culpa foi do careca. A irremediável sede de sair à rua, e fazer história, quem a sofreu, foi o careca. O homem era achinesado. Quiçá pouco humano. Era careca, e carregava a culpa nos ombros. O homem leu, releu, e fugiu para a Suíça.
O Nicolau não o queria, e ele aproveitou para ler. Há 90 anos, passaram exactamente nove décadas, o homem assinalou a mudança na história. O homem é mau. Talvez seja bom. O tempo verbal é o foi, mas que a vida suportou, e transformou em é.
Leiam-no, analisem-no, pesem-no, misturem-no, porque o homem é careca. Calvo, mas bom. Bom, e interventivo. Viva o que o homem aplicou, e todos lhe chamam Vladimir. Eu chamo-lhe aplicante do óbvio na natureza humana. Viver em comunidade.

2008/01/02

Sem título (49)

Proibido fumar o próprio espírito,
Atirem água tépida, quero acordar,...
..., e injectar asco na pálpebra

Levanto o fogo da espera requentada,
E volto-o contra o meu desdém,
Farto de promessas impolutas

Á volta de meio mundo às escuras,
Friso que ainda tenho salvação,
Valha-me só a roda dentada do sucesso...

2008/01/01

Sem título (50)

Sou pequeno e feio,
E bato o pé em compasso,...
..., para afastar o frustrante.

Abro o peito ao indizível,
Porque espero a lata do tempo,
E o gingar do ridículo.

Além, estou eu em prantos,
Aquém, o que escrevo a bolsar,
Diminuído nos meus propósitos,

A fazer o menos porque odeio o mais...

Dias, Horas, e Segundo...

Há dias em que me sinto um octogenário, carregado de rugas numa face que só se abre por sacrifício. Daqueles pesares difíceis de suportar, e ainda mais complicados de levar à prática. Um enfado de viver. A necessidade de descer à terra na tranquilidade possível, para encontrar o final do novelo de que as pessoas tanto falam.Olho para um lado, e consigo ver uma mesa cheia de medicamentos que me controlam a rotina, e me observam em tons patológicos.
Daquelas miradas que deixam um ser humano doente do espírito, e incapaz de recuperar aquele desejo do ‘reveille’ francês, tipo pôr os pés fora da cama, e correr para o café de esquina para tomar um bule de chá, e comer uma meia torrada queimada na base.Olho para o outro lado, e acompanha-me uma poltrona vazia.
A napa castanha tem a marca irregular de um corpo, de uma companheira que eu recordo, mas já não sinto.Impressiona-me a capacidade de um lote de neurónios, que conseguem viver adiante do seu tempo, e traçar cenários com tanta clareza. A lágrima da solidão inerente chega até a correr-me pela face esquerda.A rotina consegue ainda dar-me horas em que tenho sintomas evidentes de engasgo, perante a leveza de sentimentos com que os mal identificados sexualmente abrem o livro de vidas alternativas.
Daquelas existências que custam a aceitar de tão redutoras que são. Olho para um lado, e vejo o ‘gentleman’ que rói o osso da empregada de balcão do café onde, diariamente, lancha de fugida após três quartos de dia de trabalho mal preenchidos.
À noite, o mesmo ser veste-se com a combinação da esposa e, ao espelho, desfila um rosário sintético de lamentações pelos erros genéticos com que foi desenhado.Ao olhar para o outro lado, acaba de desenhar-se a decepção cósmica que me envolve nas noites de maior indefinição. A mulher do lado, a criatura que me brinda com constantes insinuações de cariz vulgar, e incrivelmente decrépito, deixou o marido, e vive agora uma aventura lúgubre com a mulher de longos cabelos vermelhos que cria dois filhos com o sacrifício de uma Catarina Eufémia que passa o dia enfiada numa repartição pública.
O segundo de esclarecimento, o único momento que o ‘karma’ cósmico que me rege a existência me concede para fazer com que eu pressinta algum vestígio de utilidade no meu quotidiano,....afinal não existe. Provavelmente, o que eu sou é um reflexo da minha própria maledicência. Haja quem me consiga fazer ver isso.

O macaco

O macaco acha-se importante. Quem lhe der um dime, põe-no a debitar palavras ao ritmo de uma kalashnikov bem oleada. O macaco sabe andar. O macaco veste fatos Armani. Até é capaz de atrair a Florence Nightingale que há em si, e com certeza que também em mim.
O macaco tem planos.Fugiu do destino símio, e escapa-se das barrigadas de amendoins como os fariseus da porta do templo. O que o macaco quer é um bocadinho de atenção. Educaram-no para ser bípede, mas ao mesmo tempo para não desiludir os quadrúpedes. Vive a vida sem nunca olhar para trás, e atenção aos tapetes.
“Eles não podem levantar pó”.Mãe macaca, versículo 1, capítulo 9. O livro sagrado do macaco já foi traduzido em várias línguas. Experimentem a lê-lo, ao mesmo tempo que almoçam uma diet-coke e um mega cheeseburger. A desilusão é cenário que nem sequer se põe. O caminho do macaco é ascendente. Cuidadosamente sobe a escadaria da imortalidade. Mas que ninguém acuse o macaco de discriminação racial. Ele adora a humanidade.Vive todos os dias com o ouvido colado ao transístor que marca o compasso do coração do planeta.
Do alto de um metro e meio bem suportado pelos tacões de um par de sapatos do mais puro cabedal, o macaco já discursou até no púlpito da Assembleia Magna da raça humana. A imagem de marca do macaco foram os cantinhos da boca bem arqueados. A melena grisalha afasta-o do espectro do ridículo. O macaco assume a batuta, e hipnotiza a audiência. Reclama dos desvarios da audiência. Quer instituir a religião de quem não espera nada da vida a não ser uma leve corrente de ar entre as orelhas.O macaco cede só no ataque à injustiça.
Grita aos amigos humanos que a fera, o ‘chupa-cabras’ da liberdade e da democracia não tarda a consumir-se numa chama infernal. Há quem o ouça com atenção. Há quem repare no fato Armani. Há quem nade no lago da inveja. E há quem se levante e saia da sala.O macaco não liga. Continua a falar. A Assembleia Magna da Humanidade tem de ser convertida. O macaco esbraceja, e aponta o caminho do futuro. Aplausos de médio tom acompanham o final do discurso. No final, como recompensa, o macaco só pede o almoço em rebentos de soja.
O macaco evoluiu. Atingiu o pleno equilíbrio nos tacões de um par de sapatos de cabedal. Só lhe falta é acabar com quem tem o desvario de pensar à margem do livro sagrado da mãe macaca.
Nota do autor: Fábula texana sobre o mito do macaco. O folclore local preza-o como o representante máximo da evolução humana. Ao que se fala, trata-se de um ser que conseguiu eliminar correntes de ar cerebrais.

A Ivan Sergueivitch....

A Ivan Sergueivitch,
Dormiu em paz de breu,
Ladeou a vulgaridade,
Abraçou o novo mundo,
Com o peito picado de medallas,
A Ivan Sergueivitch,
Morreu pela mãe pátria,
Foi morto pela pátria madrasta,
E renasce na pele de Irina,
A pedinte da Rua Arbat,
A Ivan Sergueivitch,
Mikhail que responda por ti….

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