2008/01/04

Diálogo entre desconfiados I

- Se eu fosse o maior hipócrita do mundo, o que achas que ganharia com isso?
- Dores de cabeça, um peso na consciência, e flatulência.
- Achas mesmo? Afinal de contas não é para os desentendidos que estão guardados os maiores prazeres da vida?
- Não creio. Experimenta a fechar um olho, e a corrente do desespero arrasta-te sem compaixão. Além disso, ficas com gases.
- Eu tenho uma reserva de frases de compaixão para quem me quer prejudicar.
- Isso não chega. Se com frases, matas a intenção, elas não servem para matar a repetição do desejo de fazer mal. E os intestinos sofrem sempre.
- Até hoje nunca me dei mal em fingir uma bondade inerente, e praticar um cinismo pausado. Sempre com um truque na manga.
- E nunca fizeste colonoscopia de nenhum tipo? Podes comer citrinos? Não te dás mal com feijoadas?
- Mas porque insistes tanto em querer saber sobre os meus hábitos de defecação?
- Ora, porque tenho uma teoria. Quem anda sempre com a faca escondida na manga, sofre dos intestinos.
- E acreditas num disparate nesses devido a algum trauma de infância?
- Não. Simplesmente consigo discernir a postura das pessoas que, como tu, não são de confiança.
- E o que tenho eu de diferente, por exemplo, daquela velhinha que vai a dobrar aquela esquina?
- Essa rigidez de movimentos que apresentas não é natural. A senhora, coitada, perdeu a luta contra a artrite que lhe destruiu as articulações.

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