2008/01/01

O macaco

O macaco acha-se importante. Quem lhe der um dime, põe-no a debitar palavras ao ritmo de uma kalashnikov bem oleada. O macaco sabe andar. O macaco veste fatos Armani. Até é capaz de atrair a Florence Nightingale que há em si, e com certeza que também em mim.
O macaco tem planos.Fugiu do destino símio, e escapa-se das barrigadas de amendoins como os fariseus da porta do templo. O que o macaco quer é um bocadinho de atenção. Educaram-no para ser bípede, mas ao mesmo tempo para não desiludir os quadrúpedes. Vive a vida sem nunca olhar para trás, e atenção aos tapetes.
“Eles não podem levantar pó”.Mãe macaca, versículo 1, capítulo 9. O livro sagrado do macaco já foi traduzido em várias línguas. Experimentem a lê-lo, ao mesmo tempo que almoçam uma diet-coke e um mega cheeseburger. A desilusão é cenário que nem sequer se põe. O caminho do macaco é ascendente. Cuidadosamente sobe a escadaria da imortalidade. Mas que ninguém acuse o macaco de discriminação racial. Ele adora a humanidade.Vive todos os dias com o ouvido colado ao transístor que marca o compasso do coração do planeta.
Do alto de um metro e meio bem suportado pelos tacões de um par de sapatos do mais puro cabedal, o macaco já discursou até no púlpito da Assembleia Magna da raça humana. A imagem de marca do macaco foram os cantinhos da boca bem arqueados. A melena grisalha afasta-o do espectro do ridículo. O macaco assume a batuta, e hipnotiza a audiência. Reclama dos desvarios da audiência. Quer instituir a religião de quem não espera nada da vida a não ser uma leve corrente de ar entre as orelhas.O macaco cede só no ataque à injustiça.
Grita aos amigos humanos que a fera, o ‘chupa-cabras’ da liberdade e da democracia não tarda a consumir-se numa chama infernal. Há quem o ouça com atenção. Há quem repare no fato Armani. Há quem nade no lago da inveja. E há quem se levante e saia da sala.O macaco não liga. Continua a falar. A Assembleia Magna da Humanidade tem de ser convertida. O macaco esbraceja, e aponta o caminho do futuro. Aplausos de médio tom acompanham o final do discurso. No final, como recompensa, o macaco só pede o almoço em rebentos de soja.
O macaco evoluiu. Atingiu o pleno equilíbrio nos tacões de um par de sapatos de cabedal. Só lhe falta é acabar com quem tem o desvario de pensar à margem do livro sagrado da mãe macaca.
Nota do autor: Fábula texana sobre o mito do macaco. O folclore local preza-o como o representante máximo da evolução humana. Ao que se fala, trata-se de um ser que conseguiu eliminar correntes de ar cerebrais.

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