...o chá arrefecia. Não havia mais açúcar em casa. Era preciso sair, amarrar o sol, e seguir em frente, para que a vida continuasse. Vontade era pouca, ou nenhuma. Entardecia a uma velocidade inesperadamente mais rápida que o habitual, e isso notava-se no sol tímido que não conseguia vencer a barreira que as vidraças definiam entre um mundo condicionado, e a selvajaria do exterior. O chá continuava a arrefecer. Havia também um cão velho, assustadoramente desesperado, mas que o escondia num sono mal disfarçado.
Chamo-me qualquer coisa. Não interessa o meu nome. Tenho a idade suficiente para perceber que o que ficou para trás já não conta, para que o que ainda está para vir tenha interesse suficiente para que se prossiga este caminho sem desvios. Por isso, está um computador aberto à minha frente, assente numa mesa que desvirgina a solidão desta sala onde exala o podre de um branco já sem idade. Olho para o cursor que pisca, e sinto o campo de visão a apertar lentamente. Talvez cegue. Talvez continue a ver. Apetece-me um gole de chá azedo, quanto mais azedo melhor. Com a poesia, tudo se acondiciona sem sentido. E, como sempre, o que busco é a desordem. Um ponto perigoso de quase não retorno, em que o traço da loucura é pisado, para depois tudo voltar à rotina deprimente dos dias. Desta vez, queria aventurar-me pelo amor não explorado. Sem personagens. Só com enleios difíceis de explorar, e que levem a lado nenhum.
Mas o cursor continua a piscar. Levanto-me, amanso o pânico do cão, e apetece-me dormir.... Já chove mais que na minha alma alguma vez fez sol.
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