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2024/10/20

...o amor tatuado

 Nesta rede de fitas velhas,

E arredondadas,

Uma valsa,

Duas danças finitas e apresentáveis,...


A vontade,

O professor que se despede no último sorriso para pupilos,

A mãe que quer o amor tatuado na pele do filho,...


O sentido que no fundo falta,

Quando se escreve para o tempo,

Finito e que transpoem a medida de solidão,

Como o faço neste momento 

                              Tirado daqui

2024/08/30

O avô

 O avô,

Um ser necessariamente mais idoso,

Que não precisa de pontuação para a vida,...


Há um correr de água entre ele e a verdade 

Senta-se inocente,

Irresponsável quase perante os estímulos,...


Mas o amor continua a ser dele,

A precisão dos estimulos,

Um passado embalado em transparências,...


Assim o queiram por perto,

Da forma intensa como ele está a sentir,

A solidão engarrafada

                                                                             Tirado daqui

2024/07/24

Mãe e filha

 -A verdade não nos magoa filha, a verdade joga connosco até nós lhe darmos razão. Demore o tempo que demorar. 

A mão fria daquela mãe acariciou toscamente o rosto da filha. Era um fim de tarde como outro qualquer. O tempo tinha deixado de contar naquela casa.

Por isso, talvez, uma lágrima perdida, que nasceu consciente de que tinha um percurso sinuoso, e uma vida curta, desceu lentamente pela face da jovem. Não há explicação para quando uma relação de vínculo próximo se altera. Apenas acontece. Para que se saiba, a mulher mais jovem contou à progenitora que está grávida. Mas não é capaz de abraçar a felicidade que seria natural com esse estado único, e sente-se sozinha. Um arrependimento tépido toma conta do seu ser. E é essa verdade que partilha com quem mais ama, neste momento...


                                                                      Tirado daqui

O Padrinho (1972)

Realizador: Francis Ford Coppola

2024/07/23

A avó


                                                                            Tirado daqui

A avó,
Um gemido abafado que trazes,
De penduricalho no pulso,...

A velhota serve de confirmação,
Do que pensei e já não acho,
Das vezes dos passos de saída,
Que ficam sobre os de entrada,...

Não há mais amparo que uma resposta,
Mais dúvidas que as que ficam na dor,...

E a avó,
Por onde anda?

2023/11/19

Linguagem não verbal

 


Sentou-se junto à avó enquanto ela tricotava. Era um hábito antigo, do qual não estava disposto a abdicar. É que gostava tanto daquela criatura, de uma forma intrinseca, sincera, até devota, que tinha conseguido desenvolver um sistema de comunicação não verbal com ela. Um sim era o que todos sabem, um menear de cabeça. Um não, abanar o pescoço servia. Polvilhar aqueles minutos pardacentos e que passavam devagar com muitos amo-te, era conseguido com abrires e fechares de olhos. Até conselhos se conseguiam pedir sem falar.  Quando ele estava mal de amores, a avó percebia. Era hábito sentar-se no chão, de pernas cruzadas, a olhar para o chão com o queixo apoiado nos nós dos dedos, que fechava como se rezasse. A avó punha-lhe a mão na cabeça se achasse que era hora de mudar, seguir em frente. Se continuasse a dar pontos atrás de pontos, sem sequer reparar nele, é porque a rutura ainda não era para chegar.  Ele achava que a pessoa mais importante da sua vida, que tinha ali junto de si, tinha desistido de falar. Mas não desistido da vida.  As agulhas de tricot eram como os ramos de árvore a que ela se agarrava, com toda a força, recusando desligar-se da vida. E isso alegrava-o. Fazia-o sentir completo, recusando-se por enquanto a pensar no dia em que chegaria aquela casa que era a casa do seu ser, do seu coração, para ver que aquele ser frágil, mas não derrotado, tinha desistido de fazer tudo aquilo. No dia em que isso viesse, a sua vida mudaria. Até lá, era aquilo.  Um doce e pachorrento convívio com o tempo, e deslindar de amor

2022/08/24

Vento que só nós vemos

 


Certo é que de quando em vez,
Não se resiste à força incólume de um vento que só nós vemos,...

A precisão exata dessa luz de estanho,
Toma-nos por sonho,
Desfaz-nos em violência contra a praia de todos os entardeceres,...

E deixa de ser nosso o que a espuma das ondas deixa,
O que traz de volta o medo,
E a distância,
E a solidão mal medida