2024/08/31

O sol aos saltos

 Pareciam sensações estranhas de felicidade,

Crises súbitas de desejo,

Pele arrancada,...


Gemidos à solta,

O sol aos saltos,

Por entre frestas desunidas de janelas,

De uma qualquer casa vazia,...


Ninguém sabia de ninguém,

Tudo era anonimato,

À medida que o frio subia,

E a lentidão desenfreada do tempo,

Deixava ninhos de empenho nos espaços mais indesejados

                                                                    Tirado daqui

2024/08/30

O avô

 O avô,

Um ser necessariamente mais idoso,

Que não precisa de pontuação para a vida,...


Há um correr de água entre ele e a verdade 

Senta-se inocente,

Irresponsável quase perante os estímulos,...


Mas o amor continua a ser dele,

A precisão dos estimulos,

Um passado embalado em transparências,...


Assim o queiram por perto,

Da forma intensa como ele está a sentir,

A solidão engarrafada

                                                                             Tirado daqui

2024/08/29

Jovem num passado

 Ainda só é 1983. Chove tanto. As minhas mãos agarram o nada. Observo dois homens que se observam, cruzando caminhos, apressados para fugir ao temporal. A verdade não é minha, é de toda a gente, dos desesperados, da vontade súbita de mudança. Sirvo o chá abrasante, enquanto um fio de som abafado me entra, sorrateiramente, nos canais auditivos. São as notícias do dia, servidas em pleno de confusão e desprezo por minha parte.
Passo os dedos pelo jornal do dia, com um gato a insinuar-se no calor extremo e instável que o meu corpo liberta. Sou jovem, gosto de nuvens de pombos a voarem na praça central da minha terra. Um corpo de mulher vale o mesmo que o respirar para mim. O amor é um jogo do galo apressado, feito nas costas das mãos suadas de uma tarde de Verão. Sou ninguém, e mais qualquer pessoa por conta das hesitações que pratico. Sou o mestre do etéreo, dos poemas que não completo. De querer escrever mais, sempre mais, melhor, de forma cativante, inovadora, mas que não sai nunca do tempo fútil do desejo. E chove cada vez mais. Não sei se me quero recordar de há quanto tempo nasci. Da presença inócua do tempo na minha vida. E faço por percorrer a larga amplitude da divisão fechada em que me encontro, com passos curtos. Sou sozinho, não estou tomado por nada. A presunção cabe numa caixa mínima de rapé, em cima da televisão desligada e a ganhar pó. O exterior prende-me de novo a atenção. O vento verga à subjugação as árvores velhas, e faz o real dançar num turbilhão de filme-catástrofe. Sinto um torpor, e depois uma lágrima, e outra, a rolarem-me, perdidas, pelas faces. O refúgio são os bolsos das calças. Se tivesse a alegria como prato do dia, sorrisos enleantes e desafiadores que comigo dançassem, seria tudo tão diferente. Olho para trás. Um gato observa-me. Uma voz abafada anuncia que um avião caiu algures. A mortandade foi total. Sou jovem. Não me importo. A vida é uma plenitude fechada, conforme a vejo.



2024/08/28

Um ódio calculista


                                                                               Tirado daqui

O ódio traz os seus frutos 
Primeiro um dedo,
A vontade da razão,
Depois a pressão aos justos,...

E por fim o corpo,
A loucura certa,
Com as deformações esperadas,...

Um rosto ofensivo,
Palavras escassas e suezes,...

Um ódio calculista,
Que puxa o tapete à rotina,
E tira cor e som à voz que resta da bondade,....

Um ódio que,
Se calhar,
É o caleidoscópio de todos os dias

2024/08/27

Estendeu-lhe o tapete....

 Um homem segue pela rua. Genuinamente bem. Ombros para trás, olhos curiosos, que indagam e prescrutam, sorriso inocente. Tem tudo para que o dia encarrilhe. Deixou para trás a negatividade. Rodeia-se de amor. Vai trabalhar onde sempre o fez. O corpo está quente e a alma fria, como se quer. Ela passou como anónima. Ele fixou-lhe o percurso. Ávido, decidido, mas ao mesmo tempo despreocupado. Como sempre gostou. Estendeu-lhe o tapete, como se faz quando se tem a certeza de algo. O dia ia a meio quando abordou aquele desafio. Queria saber mais dela, sonhos, cor de vida, rotinas de passado. Ela fez-se dificil. Para ele foi um desafio. Insistiu com a imunidade ao negativismo que dizia ter. Ela pareceu interessada. Mas ainda que não o suficiente. Ele não desanimou. Tinha prometido a si próprio que seria um dia em cheio. Nem que para isso tivesse de voltar atrás, e recomeçar tudo de novo.

                           Tirado daqui

2024/08/26

...brilho escasso da lua

 O sol caía a pique naquele sitio. Ali mais que noutros locais. Não mo tinham avisado. Quando me falaram deste local, pouco me descreveram. Só que o tempo parecia passar mais depressa. Mas não a ponto de o dia se sumir, quase como num estalar de dedos. A ponto de as coisas vivas e inanimadas terem vergonha de ganhar sombra. Pareciam esquecer-se de ter presença. E de marcar lugar para que um novo dia não demorasse a surgir. Simplesmente abdicavam do existir. E talvez a melhor forna de perceber o que ali se passava, fosse estender um leito, qualquer um, ao relento. Foi o que fiz, debaixo apenas do brilho escasso da lua e das estrelas, com uma povoação a curta distância que com luzes artificiais tirava a naturalidade ao circulo vicioso da vida, estendi-me debaixo do céu. E deixei-me absorver por pensamentos incomensuráveis. De um tamanho tal, que me tornei uma anotação na minha própria vontade de entender aquele mundo. 

                               Tirado daqui

I have to take this meeting, Julia Soboleva

2024/08/25

Sou o de duas caras...

 Não saber dizer que não. Um corpo abandonado, e uma réstia de esperança no afoguear dos medos. Com tanto copo vazio sabe-se lá de quê espalhado em todo o lado, e pessoas de cabeça ali. Mas o corpo que quer ser egoísta, e deixar os problemas dos outros. Está calor. É um dia de atraso em relação aquilo que de mau pode vir amanhã. E este novelo de gente que não se desenrola. Não quero que me vejam. Sou o de duas caras, que só observa e pensa mal de todos. Fui onde a força me deixa para estar aqui. E a única coisa que posso oferecer é esta escrita, tipo tiro de rajada. Que não pára. Oxalá haja segredo de tudo isto. Que não passe daquela porta invisível, que separa a paixão do mundo aqui enfiada, de um real a três tempos. Com pessoas silenciosas dentro, incapazes do burburinho que floresce, de dentro para fora, neste canto assustado da existência.

E não haverá desculpa se tudo isto, ou o que se quer de tudo isto, falhar. Dedos e sangue provam a experiência. O deformar deste círculo irregular, quando nos afastamos, talvez ateste a ficção...

                                                                           Tirado daqui

2024/08/24

...resto de nada

 Nascer para o ódio,

Despedaçar o amor em bocadinhos,

Caminhando com o desprezo pela mão,.. .


Observam-se ideias dispostas em Elle,

Nas mesas do costume,

Observa-se tudo com a margem infiel das luzes,...


Somos chamados,

Os que te conhecem,

A observar o pó das tuas mãos,

E o brilho convexo de olhos que já não transparecem,...


Este é um projeto comum,

No que comum tem de fatalista,

Porque vai acabar em resto de nada

                                                                           Tirado daqui

2024/08/23

...cães perdidos da Terra

 Admitia,

Demorava a voz,

As pernas doloridas,

O rumor de que era invisivel,...


Testável apenas quando voltasse a caminhar na praça central da terra,...


Estaria a perder o sentido corpóreo,

E não fazia ideia porquê,...


Experimentou colar um olhar no horizonte,

Ali isso era um ato limitado,

E não passava de uns montes carecas que rodeavam a terra,...


E continuou sem resposta,...


Dar-se-ia a cheirar aos cães perdidos da terra,

E assim ficaria a saber 


                                                                   Tirado daqui

2024/08/22

Uma mulher conhece um livro

Era verde. De aspeto simples, despretensioso. A capa só revelava uma mensagem que poderia passar despercebida.

Ela veio para ficar,

Encimada pelo nome do autor.  Era daqueles que prometia dar luta, já que tinha uma dimensão considerável. Ela ficou logo interessada. Aproximou-se do livro, abrindo subtilmente caminho por entre a multidão que afanosamente serpenteava naquele espaço, sóbrio e decano, em busca de bebida para a sede de conhecimento. Quando finalmente conseguiu pegar nele, gostou da encadernação sedutora. Muito suave. Ao toque, parecia despertar a libido. Olhou para todos os lados, receosa de que a estivessem a observar.  Mas permanecia anónima, como era a sua intenção.
Abriu a capa,  depois a página de apresentação.
Rodrigo james
Era o nome do autor. Desconhecia-o, assim sem mais informação.  E depois de uma, duas, páginas em branco, uma dedicatória.
Para ti, a que me ensinou que o mundo se explica a si mesmo, com vontade de nos confundir.
E pronto, estava escolhido. Era aquele que ia consigo para casa. Queria ter uma noite em branco a desvendar aquele mistério de capa verde que agora segurava entre mãos 

                                                                  Tirado daqui

2024/08/21

Cicatrizes de rosto

 Um grupo disperso,

Cicatrizes de rosto que reforçam 

Sulcos e desilusões,

E maldades,

E a vontade de perseguir,...


A lage à entrada de casa gasta

Pela proximidade do mar,

Que vai entoando canções dessincrones,

Avaliadas pelo mal,...


Ganha com a erosão profunda,

Do desprezo,...


O grupo separa-se,

Há luta em silêncio pelo esquecimento,

Mostram-no as mãos fartas,

Das coisas esvoaçantes da vida

                                                                                 Tirado daqui

2024/08/20

Saul Bellow

 Bem tenta,

Impropérios,

O amor pesado como carne,...


Gatos enervados a rasparem janelas em desvario,...


Quer conseguir mudar tudo,

Para ser dela a rotina,

Ser quem dita as regras,...


Mas eu não a deixo,

Saul Bellow e a fatalidade consequente,

Aberto nas últimas páginas na sala,...


Um pouco de Dylan a acariciar os dorsos dos gatos que anseiam liberdade,

E é meu o espaço,...


Dito as regras porque,

Assim tem de ser,

E não será ela a mudar nada

                                                                               Tirado daqui

2024/08/19

...figurativamente

 A farsa dos ideólogos da mudança,

Tinha hora e local marcado,

Ouvia-se o possível,

Já que frases insolúveis eram murmuradas pelos desesperados da terra,...


Havia ar,

Muito ar de cheiro efeminado e até literário,

Que rodeava,

E figurativamente abraçava as pessoas,...


A mudança era trazida pela mão,

Todos a sentiam,

Masculina,

Arrebitada,

Com vontade de sair a jogar futebol com as criancas da terra,...


Mas no fim do dia,

Este exorcismo parava e tudo voltava,

A acontecer da mesma forma,...


A mudança,

Sentia-se desenquadrada daquele sítio 

                                                                           Tirado daqui

Constant Nieuwenhuys (Artista holandês,1920-2005)

Dieren, litografia

2024/08/18

Nos tempos que virão

                                                                                 Tirado daqui

‘Manhã de Outono’ 

de:John Atkinson Grimshaw

Nos tempos que virão,

As páginas de um livro nunca imaginado,

Desfilarão temperadas à frente de olhos calibrados,

Inaptos por não naturais,...


Olhos que flutuarao na indiferença de um tempo sem modo,

Com sonhos escalados como berlindes,...


Em mãos de crianças sem nome,

Sem lugar,

Mas com coração,...


Nos tempos que virão,

Este pedaço de papel constrangido,

Velho nas pontas mas com este poema dentro,...


Talvez te chegue às mãos,

O amor inocente que imagino

2024/08/17

...ratos pequeninos

 Estou sempre no final,

Fui eu que lhe disse,

O livro folheia-se,

A apreensão desdobra-se em cada folha,..


Eu sou o das letras maiusculas,

Nem cá nem lá,

Com acenos de menino à passagem de um comboio sem alma,...


À espera daquela coisa sem nome,

Sem pernas nem idade,

Chamada abismo,...


Onde as almas se guardam,

E os corpos são ratos pequeninos,

Que brincam guiados pelo cheiro,...


Sabendo que serão breves,

Como enfermas noções de amor pervertido 

                                                                              Tirado daqui

2024/08/16

...desejo titubeante

 Não tenho mágoa,

Aquele desejo titubeante que pode parecer viril,

Mas não passa de um medo cataclismico,.. 


Pertenço ao restolho das convicções,

O que resta das pessoas inseguras e medrosas,...


E eles,

Os invisíveis,

Quem passa e roça em mim diariamente,

Para me assustar e manter cativo,...


Talvez perceba isso,

E por isso não pára,...


A minha aflição é ficcional,

Mas com laivos de realidade

                                                                                  Tirado daqui

2024/08/15

Locupletava a porção

 Era de um tempo, 

E repetia-se ao dizê-lo só porque sim,

Em que as linhas se cruzavam,

Só porque caminhos de todos os dias assim o obrigam,...


Virava-se pro sol,

Locupletava a porção certa do dia,

E ela era diferente ao fazê-lo,....


Um autómato talvez,

A experiência mágica da beleza inalterável,...


Ela era e haveria de ser diferente,

Por muito que custasse aos outros 

                                                                            Tirado daqui

2024/08/14

Onde haja olhos recortados....

 Vamos não aquele sitio de todos os dias,

Vamos mais longe,

Onde haja olhos recortados,

E me deixem viver como gosto,...


Separado de letras,

Sons irregulares,

Numa vastidão sem ideias e de chão irregular,...


Havemos de lá passear,

Como se nada nem ninguém,

Conte realmente para nós 

                                                                      Tirado daqui

2024/08/13

Letras ao desbarato

 

                                                                             Tirado daqui

Nunca foram minhas,
Letras ao desbarato,
Dores no corpo que a velhice traz e a ilusão leva,...

O meu lugar foi sempre a ausência,
Não ter número nem essência,
Estar lá longe e uma criança ansiar pelo nascer do sol,
Com planos feitos e desilusões dispostas em rol,.. 

Não há mãos que por isso aguentem sítios assim,
Que não existem,
Não me traduzem como inocência,
Mas revelam todos os lados fatais desta dor

2024/08/12

Não vá pedi-las senhor...

 Não vá pedi-las senhor,

Ser poeta não é isso,

As palavras encardecem,

As pausas provam a religião de quem enlouquece a tentar,.. 


Ser perfeito,

Pelo menos pausado,

Neste trabalho irregular de persistência,...


E no entretanto,

Umas pessoas saem do meu prédio,

Um homem pedala pachorrentamente na bicicleta de todos os dias,...


E continuo a dizer-lhe,

Não vá pedi-las senhor,

Elas já nem sequer passam por aqui 

                                                                                   Tirado daqui

2024/08/11

Desnudado

 Há algum tempo que se Conformava,

E confirmava ao mesmo tempo,

Com esta realidade de que o tempo nunca caminha ao mesmo tempo,

Que a percepção que temos do mesmo,...


Ter um corpo deformado,

Iludido,

Empoeirado pelos desgostos,

Não significa que nos avaliemos assim,...


Quer dizer que ao longo deste percurso,

Desnudado,

A que chamamos vida,

Cometemos erros,...


Não falámos quando era necessário,

Fomos por assim dizer abalroados pela conveniência,...


E agora,

Sugestionados pelo medo,

Temos de viver com a reação que escolhemos,

Ao conformismo 

                                                                             Tirado daqui

2024/08/10

Ruas e ruas de revoluções...

 Então é um atrás do outro,

Ruas e ruas de revoluções encafoadas em sapatos,

Rotos e maltrapilhos,...


Dos que desesperam com o mal feito,

E sonham com as coisas boas,...


É a luz em cima do escuro,

O caminho desfeito,

Iludido,

Das mesmas coisas a cada dia,.. 


Para que no meio de um sangue escurecido,

Com cheiro a mijo,

Maré de vício e nojo,

Antes da última esquina que te leva ao desespero,....


Encontres um espelho,

Feio, deturpado, conspurcado,

Mas um espelho,

De verdade com alguma cor

                                                                        Tirado daqui

Yayoi Kusama

Uma flor 

2024/08/09

A minha desilusão?,

 A propósito,

A minha desilusão?,.

Ahn,

A minha resiliência e o brilho de olhos,

Que orgulhosamente foi muito tempo o meu brilho de fivela de cinto,...


O que fizeste com isso?,

Faz-me tanta falta,

Agora que os apitos caminham entre nós,

E há loucura desabrida no acordar de todos e cada um,.. 


Penso que nem a teoria da relatividade geral,

Me salvará neste desânimo

                                                                              Tirado daqui

Egon Schiele

Nu de mulher sentada, 1912

2024/08/08

Como relicário

Apesar do frio,
falas da voz,
de documentos inocentes,
restos de história com
vestidos de menina,….

o presente continua,
sobre pernas que se apagam,
e o mundo tem menos
uma volta para a extinção,….

soa a medo,
a desinteresse,
e mesmo assim lês
as costas das tuas mãos,…

enquanto a água corre,
para fora desta parcela
desnutrida de um passado,
que desconhecemos

                                                                             Tirado daqui

Carpinteiro, 1929

Kazimir Malevich

2024/08/07

Mascarrar o desejo

 Escavar,

Escavar sem parar,

Até encontrar o nada,

E nele desenhar o vento,...


Com a terra possivel,

Mascarrar o desejo,

E as pernas,

Com a mãos a servirem de desilusão,...


E que neste poema curto,

Se encontre a liturgia dos esquecidos,

Com muito bálsamo de uma luz coartada

                                                                            Tirado daqui

2024/08/06

As vozes esmorecidas

 O escutador profissional,

O homem que guarda as pedras no sítio certo,

E ouve música para trabalhar mas exige um silêncio seletivo para o descanso,

Excedeu-se em mesuras naquela noite,...


A presente e esclarecida missiva,

Procurou encontrá-lo de bons espíritos,

Capaz de uma conversa que levasse a algum sitio,...


E a princípio acreditou-se ser possível,

Mas depressa o escutador profissional,...


Começou a justificar o seu desígnio,

E embrulhou-se numa dança estranha com as suas próprias vozes,...


A ponto de a secura,

As vozes esmorecidas,

E o desejo de silêncio,

Serem o que restou deste final de tarde,

Num desafio de racionalidade que,

A compreensão não deixará para a história 

                                                                                 Tirado daqui

Who I am no longer matters, 

Tye Martinez

2024/08/05

...elementos de erosão

                                                                     Tirado daqui
“El espíritu de la colmena” (1973), filme de Víctor Erice

Era uma luz desafiadora,

Mesmo insolente,...


Estava obrigado a ficar de olhos bem abertos,

Como um dependente de melanina,...


E haviam problemas,

De todo o tipo, forma e conteúdo,

Quase como se eu fosse a solução para a paz no mundo,...


Incapaz de ser alcançada,

E disputada pelos elementos de erosão com uma vivacidade atroz,...


Via a garganta presa,

Incapaz de germinar um grito,

Mas ainda assim seca o suficiente para parir um socorro que abanasse o mundo,...


Como possível,

Única e última solução para um problema de fim de mundo

2024/08/04

...planos monstruosos


                                                                                 Tirado daqui

O Exorcista (1973)

As coisas que leio,

E um amanhecer tranquilo sem ouvir nada,...


Acaricio um gato,...


Faço planos monstruosos,

Sob a forma de versos que me encrustam os dedos,...


À espera que o tempo passe,

E seja hora de noticias novamente,...


Para que a vida se instile,

Desta vez pela boca,

Com um silêncio de todas as idades,...


Que se atreve a sentar connosco à mesa,

Sem que licença seja sequer pedida

2024/08/03

Um dia gostava de saber escrever assim

 O SILÊNCIO

Pego num pedaço de silêncio. Parto-o ao meio,
e vejo saírem de dentro dele as palavras que
ficaram por dizer. Umas, meto-as num frasco
com o álcool da memória, para que se
transformem num licor de remorso; outras,
guardo-as na cabeça para as dizer, um dia,
a quem me perguntar o que significam.
Mas o silêncio de onde as palavras saíram
volta a espalhar-se sobre elas. Bebo o licor
do remorso; e tiro da cabeça as outras palavras
que lá ficaram, até o ruído desaparecer, e só
o silêncio ficar, inteiro, sem nada por dentro.
Nuno Júdice, 'A matéria do poema

...a roupa que um sonho consegue alinhavar

                                                                           Tirado daqui

Ilustração de Jessi Toca

falam de verdades,
uma linha,
duas noites
sem fim nos pés de um anónimo,...

falam num destino interminável,
em que ninguém se
vai conhecer,
e vai haver vai e vens,
e desânimos descontrolados,
com uma vela que se auto-destrói no centro do mundo,....

e que falem,
porque o som enamora-se
do silêncio,
e a madrugada,
usa a roupa que
um sonho consegue alinhavar

2024/08/02

...rádio das sete

tanto tempo a falar
de amor,
mãos para baixo,
donos do vento
e do tempo parado,....

encostados à pressão dos tempos,
e com os tempos distantes
de nós mesmos,
falamos porque sim,
e anulados perante o que tiver de ser,
sobra pouco para perceber,...

 mas falamos,
e falaremos,
até que a dor fique
quieta,
entre nós,
e sem perceber 
 o que somos e o que já dissemos

                                                                            Tirado daqui

Weighed and wanting.

Quadro de 1908

2024/08/01

Agostando

eu não queria nada,
o som estragou-me,....

sou o silêncio de pedras
que amanhece à chuva,
não queria a profissão,
professar fés diferentes das que conheci,....

não queria uma cama,
e que a vontade de mudar,
os olhos alumiados com
uma terra específica de liberdade,
fossem mais que poucos momentos
desautorizados de loucura,....

continuo sem querer,
que um passo se sobreponha,
aos propósitos do anoitecer

                                                                          Tirado daqui

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