2025/04/30

Valho o sol,...

 É so isso que escrevem sobre mim? Que sou um cobarde, que lida mal com as criticas, incapaz da mudança e de qualquer pressão útil para a mudança. Não me conhecem para afirmar isso. Valho o sol e as nuvens do céu como pessoa.

 Assumo ilusões, desgostos até, mas estou aqui como garante da vida. Dos ciclos da existência bem visíveis, e desnecessariamente previstos em livros de mercado e de capa simples.

Por isso, revejam linguagem, adjectivação, tudo sobre mim. Não voltarei a ser o explicador simpático e que nada replica, da próxima vez.

 Estão a ver as minhas mãos? Estes desníveis de presença de espírito à vossa frente. Elas servirão para qualquer coisa, se isto se repetir. O quê, não sei. Mas prometo voltar, e vou respirar ruidosamente da próxima vez.

                           Tirado daqui

2025/04/29

A fazer de Central Park,...

 Amanhã,

Não me verás sujo,

De pele esqualida,

A fazer de Central Park uma bola nas minhas mãos desgastadas,...


Terei já subido a um plano irreal,

Em que os cheiros se desmaterializam em visões,

E o reino do verbo não tem idade nem forma,...


Sempre me viste como o oposto da razão,

E assim finalmente o serei,

Feliz de uma forma 

                         Tirado daqui
Um casamento em Moscovo, Foto de Iuri Denisenko
Novembro 1966


2025/04/28

A constatação da solidão,...

 É isso,

Sol,

Pagamento de dividas,

A lonjura de problemas assegurada,

Uma bebida normal e insipida ao alcance da mão trémula,...


A vontade de errar sempre pronta a disparar,

A prova de que o som faz mal,....


Tudo encarrilhado de forma invisivel na cabeça,

Um grito,

A constatação da solidão,...


Não há presépios fora de tempo,

Só suspiros,

Quiçá um passeio nos campos eliseos,

Em dia de chuva,

E com um prestável amigo garante de ausência de loucura 

                         Tirado daqui

2025/04/27

Uma loucura de pés botos,...

 Nos dias seguintes a luz vinha,

O silêncio vinha,

As contas da loucura,

O medo facilitado pela experiência do vulgar e triste sonho da pessoa comum,...


Os passos assustados do seu corpo,

O facto de ser deformada com impressões de génio surrealista,... 


E vinha para ficar,

Com proximidade de ruas hexagonais,

Políticos esquecidos e próximos da insignificância,...



Uma loucura de pés botos,

Como a criança triste e sem amigos 

Tirado daqui

2025/04/26

Um dia gostava de saber escrever assim

 

  • Estou vivo e escrevo sol


    ao Ruy Belo


    Escrevo versos ao meio-dia

    e a morte ao sol é uma cabeleira

    que passa em fios frescos sobre a minha cara de vivo

    Estou vivo e escrevo sol


    Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam

    no vazio fresco

    é porque aboli todas as mentiras

    e não sou mais que este momento puro

    a coincidência perfeita

    no acto de escrever e sol


    A vertigem única da verdade em riste

    a nulidade de todas as próximas paragens

    navego para o cimo

    tombo na claridade simples

    e os objectos atiram suas faces

    e na minha língua o sol trepida


    Melhor que beber vinho é mais claro

    ser no olhar o próprio olhar

    a maravilha é este espaço aberto

    a rua

    um grito

    a grande toalha do silêncio verde


    António Ramos Rosa

Que trouxeram a hesitação,...

 Um dia de pensar,

Outro para desejar,

Desejar tanto ou mais que pedras fora do sítio,

No caminho de um profeta iludido,...


E foram as vitórias,

As que perderam valor,

As que se seguraram como poema,

Que trouxeram a hesitação,

O medo que tu e eu tantas vezes partilhámos,...


E agora escrito,

Desejado, 

Chorado,

O pesar volta

                                                                      Tirado daqui

2025/04/25

25 de abril sempre

Havendo um rebite,

Algo tosco que nos fixe à vida,...


Havendo a vontade de falhar,

De escolher caminhos inocentes mas perdidos,

Havendo ser homem e mulher,

E querer um par de calças novo,

E um carro melhor que o outro que so nos merece um sorriso,...


Havendo a condição finita da humanidade,

Há também olhar em volta,

E querer saber que todos olham para cima e têm telha,

E que se alegram com o bêábá dos rebentos,

E que há que chegue para ir dormir sem fome,...


Havendo isso,

Livre é melhor que o medo,

Livre supera os receios 

Livre é uma cama onde dormimos,

Sozinhos e bem com o nosso espírito  


                                                               Tirado daqui

E também estar nu,...

 Estou sozinho. Defini estar sozinho como ter deixado de saber escrever. E haver uma manta de lã, talvez demasiado quente para a brisa de fim de dia que se ia avizinhando. E também estar nu. Sim, sentir-me como a única pessoa sem pele do mundo, que caminha pelos intervalos do tempo como se as reviravoltas do desejo fossem fáceis de explicar. E estou sozinho porque também é o que está na página, na última página que quase acabei de ler, quando a linguagem verbal se me tornou completamente estranha. E também porque como sempre tudo o que não devo. Lembro-me de quando ela, ela a que partiu e levou o meu coração, ainda estava deste lado da existência, me dizia que a água devia dormir comigo à noite. E eu Lembro-me de que sempre humedecia os lábios antes de falar, ser inconveniente, quando comia, me tornava estranho a mim mesmo. Só me tolerava com os lábios humedecidos. Porque ela assim me tinha sempre recomendado. E eu agora estava sozinho. Sem saber o que fazer

Nastassja Kinski em Paris, Texas
(1984) 
De: Wim Wenders

2025/04/24

Sentou-se lá longe,...

 Era o fim de um jogo,

O corpo a ser profanado sem regras nem medidas de educação,

A verdade dita sem licenças,

Como se se quisesse iniciar uma escola filosófica,...


Era tudo proveito de um só homem,

Vestido de pele,

Sim caminhava nu na praça principal daquela terra,

Acabavam-se conversas,

Discutiam-se pontos cardeais no céu,

E ele desfilava quase como o vento naquela tarde icónica de fim de Verão,...


Sentou-se lá longe,

Onde o horizonte acabava e a voz dos sem nome não conseguia chegar,

E pensou,

Pensou tanto que a cabeça esvaziou,

A ponto de só assim lhe provir a felicidade que procurava,...


Sim,

Queria ser um néscio,

Mas optou por sê-lo lá longe

                                                                              Tirado daqui

Sala de computadores numa siderurgia em Freital, República Democrática Alemã
1981
Foto de Eugen Nosko.

2025/04/23

Paris da Bastilha

 Eu sei que eles voltaram,

Quanto mais as árvores abanam dessa forma monocórdica,

E há sons desprendidos do céu,

Como novas oportunidades para o silêncio,

Eu entendo que eles já falam de novo,...


E há um certo ar a assembleia revolucionária da Paris da Bastilha,

Com novos tempos a chocarem com velhos sentimentos,

E um azul desmaiado a rodear tudo,....


Eles nunca se irão mostrar,

Estarão escondidos na rebentação,

Aquela espuma que o mar revoltado liberta,

E por lá continuarão até que anoiteça

                                                                        Tirado daqui

Freddy Vs Jason De: Ronny Yu (2003)

2025/04/22

...,lugares inalcançáveis

 Querer saber,

Era diferente da solidão,

Explicada e resumida na palma da mão,....


Ela não se sentia com medo de ser incompreendida,

Aliás explorava a nudez,

 em fugazes aparições nas sacadas antigas das janelas de casa,...


E acreditava assim passar uma mensagem de força,

A quem sabia que estava a ver,....


Pensava era em lugares inalcançáveis,

Pessoas dificeis de referir,

Presumir,...


E isso dava-lhe um envelhecimento que não se explicava,

E por isso voltava sempre ao inicio,

Queria saber,

Mas não se sentia,

De facto,

Sozinha

                                                                            Tirado daqui

Charles Hewitt

East End de Londres

 1940's

2025/04/21

Dizer simples como solução,...

Filme: Os Verdes Anos (1963)
De: Paulo Rocha

A verdade das mentiras,
Mentir para que a verdade resulte,
Os passos de dizer verdade,
E o amor,...

Meus senhores o amor como argumento bafiento,
De viagens longas,
Por olhos soltos e descomprometidos,...

Dizer simples como solução,
Porque as palavras ajudavam ainda a adiar o fatalismo deste problema,
Conviver com o etéreo destes conceitos,...

Isto era ele a pensar para si próprio,
E como mais ninguém ouvia,
Estava certo de que tranquilamente arranjaria solução para este dilema,...

Até já o via vestido como um fantasma de outros tempos 
 

2025/04/20

...um jogo de póquer

 O meu relógio. O tempo como ofensa, e as ofensas alinhadas junto à parede, como se fosse oito da manhã num qualquer depósito de almas com grades, e fosse preciso ver se alguém exerceu o direito à liberdade. O tempo tem camadas, e se calhar da mesma forma que a cebola. Para fazer chorar, trazer o arrependimento. E quando as decisões forem um jogo de póquer, em que a escolha é única e o erro tem a forma de um pesadelo definitivo, o tempo desaparece. E eu escondido, atrás de uma parede, à espera que alguém passe para contar estas minhas constatações. A noite aproxima-se. Não sei de ti. Disseste que voltavas, mas é a tua sombra, e só ela, que agora me olha nos olhos, e me faz companhia de uma forma assustadoramente trágica. As conversas foram o que deixaste para trás. E a vontade faz de catalisador de todas as memórias, para que a verdade, a filha da puta da verdade, continue a morar nesta casa. Como eu, aliás, sempre fiz questão que acontecesse.





2025/04/19

...,os dedos escolhidos

Pensar que antes das palavras vinham as emoções,

E antes ainda os dedos escolhidos,

A disposição errada para a sensualidade,

Um corpo de que não se gosta a afastar-se de uma sombra que nos assusta,...


Pensar que é um enigma que assim se desfaz,

E a boca deixa de comportar eventuais erros propositados de análise,

Que sonhem por si próprios,

E nos transformem em pulsares,

Sinais mortificados de um universo,

Que provavelmente nos encaminha sempre para o erro

 

2025/04/18

I dreamt (something in a foreign language)

i dreamt about you,
making fun of all
my choices,...

of my aging point
of view,...

 i dreamt so many
times,
my soul caught fire,
and i weakened
the sense of persistence,
the desire to go further
 than the doubt,
further than the tears i lost,....

i woke up,
being told to carry
on,
by an unknown voice,
of an unknown destiny,....

i now think,
you never left all along

                                                                 Tirado daqui

Dois olhos,..

 As submissões,

Dois olhos,

Pensar antes em fugir do que na chuva que cai,

Achar que tudo se amalgama e fica igual,

Sem que o chamado espirito se altere,....


Conjugar assim sem sequer saber que os verbos congelam,

E há as participações das memórias que deixamos à beira da cama,

Em cada noite,

Com as caras metades que calharem,....


E a madrugada colorida que a ilusão possa trazer

Tirado daqui

2025/04/17

...e ambos ouviram Cohen

 Ah, estás aí?

O acomodado estendeu a mão,
Ofuscado pela luz,
Sentia-se baralhado pela leveza da voz,
e um insuficiente amanhecer,
que tingia de escuro as prioridades
que tinha desenhado,…

ela não respondeu,
sorriu,
pousou a mão no
ombro daquele
ser humano indefeso,
e ambos ouviram Cohen
até ao final do dia


2025/04/16

O autor infeliz com a praxis,...


                                                                         Tirado daqui


As cidades,
As serras,
Os planaltos escolhidos pelo vento,...

As razões alternadas pelo desejo do escritor,
A métrica do mesmo desrespeitada com respirações fora do sítio,
Chuvas de barulho ensurdecedor que dessincronizam a narrativa,. ..

O autor infeliz com a praxis,
A sociedade em que se insere,
A poesia que entristece bastante mais do que alegra,....

E numa rápida viagem do tempo,
Nada se poderá consertar por si próprio,
Assim como o filósofo que se anula em praça pública,
Quando a sua teoria se prova negativa 

2025/04/15

Os atrasos

teria chegado mais cedo,
não se notaria tanto a desilusão,
e o rol de assuntos
sem desculpa
que a conversa em praça pública
sempre traz,...

e há tanto,
mas tanto tempo
que a privação de prazer,
a solidão,
traz e tira em simultâneo,....

e eu de facto já lá
estaria,
contigo,
sem qualquer propósito
que não o de caminhar,
e saber que os autores
partilham medos,
e bilhetes de suicídio,
e gostos comuns por
músicas de câmara,
e tanta coisa inocente,
que os atrasos,...

talvez os atrasos
consigam fazer perceber

                                                                                Tirado daqui

Filme: Seedpeople (1992)

2025/04/14

E sabes-te um iconoclasta,...

 O teu rosto,

O sangue que dele escorre,

Desenha uma lua,

E a deformação do desejo,...


Um corpo de mulher que foge de ti,

E chuva,

Tamanha tempestade que te refugias,

E dá-te fome,

E sabes-te um iconoclasta,

E comes carne crua,....


E não há retorno em equação,

Assumes a posição,

És um pouco menos racional,

Caminhas como um cão assustado,

E a tarde cai,...


Ela regressa,

Um sorriso esboçado de meia noite,

Silêncio e uma canção de embalar

                                                                               Tirado daqui

Mil gritos tiene la noche
De: Juan Piquer Simon
(1982)

2025/04/13

O que escapa ao olhar,...

 Tão aleatória como a voz do desespero,

É uma realidade que se substitui a si própria,

Com as lâmpadas de luz amarelada,

Que magnetizam os insetos,...


As vidas de sempre afixadas no placard do supermercado,

Com as justaposiçôes de solidão,...


As declarações de amor que perdem o tom,

À medida que o corriqueiro da vida as esconde,...


O que escapa ao olhar não cabe neste cenário,

Onde se sente o tempo a descontar a vida,

E a vida inclinada para um prato de sopa,.. 


É o que há antes da. noite começar 

                                                                              Tirado daqui

Becoming Cherrie
de Nicky Larkin

2025/04/12

Esperar aos bocadinhos

 comecei por esperar-te aos bocadinhos. A cada dia espalhava o tempo como um tapete em casa. Rugoso, cheio de defeitos como a imperfeição que sempre amámos. Primeiro não chegavas de forma arrastada. Depois, os segundos saltavam como pulgas de calor de fim de Verão.Até que veio o frio. O tempo ganhou a forma de livros seguidos, lidos de fio. Livros sem história mas com sentimento. Que se nos agarram, como um abraço. E, aos bocadinhos, desenganei-me que voltarias. Aninhado nas histórias que construímos juntos, penso com todas as forças num espaço de infinito. Uma constelação só nossa, em que voamos, dizemos de nós o que o sentimento e o amor trouxer. Mas tu sem voltares. E eu sem parar de sonhar. Até o tempo o permitir

                                                                          Tirado daqui

Brief encounter (1945)

De. David Lean

2025/04/11

Não o sei descrever


                                                                            Tirado daqui

Filme: Lobster Man from Mars (1989)

Os que afligidos,

Atrás de ti,

Reclamam por um lugar ao sol,

A mim dizem-me os sonhos que assim Reclamam,....


E normalmente são pessoas que se escrevem a si próprias,

Autorizam os desejos,

Livram-se do mar nos pequenos gestos e voltas que fazem,

Enquanto embelezam os corpos com vestígios de claridade,...


E de mim para eles sobra qualquer coisa de assombroso,

Não o sei descrever,

Só desvendar

2025/04/10

Decisões inesperadas...

 Este são os últimos momentos de um frágil equlibrio de forças,

Resoluções,

Decisões inesperadas de lideres fracos,

A maldição do pode haver e do suficiente para conseguir,

Irá mudar para sempre,...


Em seu lugar,

Em mundos outrora vitoriosos e agora derrotados,

Surgirão postos iluminados da presença,

Qualquer coisa justa e indefinida,

Que levará as pessoas a acreditar em si próprias,

Para o resto dos tempos


Barry Feinstein, Bob Dylan, Birmingham, UK, 1966

2025/04/09

...um copo de Jack Daniels

 Era precisa coragem, alguma pelo menos. Tinha um percurso para fazer, numa cidade que não conhecia.poderia ser uma escala curta, de dias, como poderia ser uma decisão de vida. Daquelas que alteram até as sinapses do cérebro, dando novas perspetivas sobre o tempo, o espaço, o amor conseguido e o desperdiçado, o que no fundo mais o assustava. Pela vez consecutiva na sua vida, escondeu o receio nas pedras de gelo amareladas de um copo de Jack Daniels. Olhava o alinhamento perfeito da mobília, por trás do empregado, e pensava em coisas sem conserto. 

                                                                            Tirado daqui

De: Cold war (2018)

2025/04/08

Em espirros de pessonha,...

 Na fortuna,

Na doença,

Em espirros de pessonha e anunciaçâo,

Na virtude dos loucos,

Num Deus pouco empenhado,

Nas ruas sujas e mal cheirosas,

Em criminosos arrependidos,...


Na própria crença descredibilizada,

Neste jogo sem fim,

Em tudo acredito,

Mas moderadamente,

Não façam de mim um autómato,

Porque eu só acredito no que já está fora de moda,...


Até em mim,

Mas tenho de estar nu,

E silencioso,

Eu posso acreditar 



                                                                            Tirado daqui

2025/04/07

Post-lunch garbage

 E quando se começa um Auster, página um, o homem escreve sempre sobre o mesmo. O mundo não parou nos sessentas. Quanto muito a 11 de setembro. Antes disso não, de certeza. O canto da boca pinga. Aquela coisa irritante, de homem de meia idade. Fecha o livro. Já está mal tratado. Levanta-se, dois passos, afasta a cortina de veludo, e de chofre leva com uma luz do sol de todas as cores. Os olhos ferem, cegam…. Demora até recuperar a visão. Uma carroça, com um velhote encurvado, e um macho de palas nos olhos, anda pachorrentamente na mesma linha reta de sempre. Recolhe de novo a cortina. Volta ao Auster. Há uma personagem qualquer que conhece um velhote. É um jovem bem parecido, que saiu de casa. Sem razão nenhuma.  




2025/04/06

...no texto solto da existência

 A mim é suficiente o arrependimento de proposito,

Vir inocente como a culpa,

Pé ante Pé por um desnivel de terreno,

E chegar onde me notam como esclarecido,

Detentor de uma verdade minimamente aceitável,....


É aqui que cuido de saber como sou feito por dentro,

Como são as luzes que me fazem os olhos,

E se no reparo dos dias que correm,

Conto como iludido,

Desiludido,

Ou apenas uma vírgula no texto solto da existência,....


Há o plausível,

E o ficcional nisto que penso,

E a mania insuportável do va.zio neste olhar

                                                                            Tirado daqui

de: Noé Sendas
“Desconocida a.k.a. Unknown (Plate)
2012

2025/04/05

...capacidades sociais



Sentia que tinha de acertar a razão.  A virtude que devia exibir em cada passo daquele caminho. Não era uma situação em que pudesse errar. Como mulher com uma experiência de vida tumultuosa, desregrada, aprendera a proteger-se. Cair no erro de deixar-se conhecer não era mais uma opção, já que progressivamente ia perdendo as capacidades sociais. A verdade era agora diferente para si. Tinha deixado de existir o conceito universalista da mesma, e havia um teor progressivo da verdade. O que chamava um resto de princípios de vida, pelos quais se regia em silêncio.  Num silêncio no qual se vestia, banhava, que lhe dava de comer e beber. Um silêncio corpóreo e com existência progressiva e humanizada. Só assim, defendida e afastada do erro fortuito e negativo, conseguia sair de casa, e fazê-lo com o sentido possível. Discreta, com vestes de pele, e não com uma pele que a vestisse. Fixava os olhos no chão, e caminhava sem destino.  Tinha de ser assim, sentia com veemência.

                                                                               Tirado daqui
Paul Lehr - Cosmic Assembly 
Década de 1990

2025/04/04

...a prisão da revolta

 Somos animais de ser precioso,

A luz incide no pensar,

A sombra da nossa angústia,

Trava-nos o medo,...


E tu e eu os únicos dos vestigios da noite,

Mão dada,

Olhar trocado,

Percebemos como uma pausa,

Dois passos elétricos e uma mão em escritas fáceis,

Podem tudo mudar,....


Nada resolver é certo,

Mas evitar que a prisão da revolta,

O cerceamento do desprezo,

Traga a vontade indómita de novos começos,

Produz novos sabores 

Tirado daqui

2025/04/03

...chuva a partir

 E via-se a chuva a partir,

Tudo se apresentava como equivocos por explicar,
A rua menos molhada do que se esperava,
Uma multidão em silêncio que pouco andava em várias direções,....

E nisto o céu abriu-se prateado,
E depois com um nitido ouro ensolarado,
Mas ainda era de dúvidas aquela terra,....

E quem como aqui a descreve,
Perde argumentos para que este seja um desenho nítido,
Esforçado,
Minimamente poético
                                                                                Tirado daqui

Nagai Kazumasa,

Poster 'Life'

2008

2025/04/02

Despojos de voz,...

 

                                                                               Tirado daqui

The head of Medusa carved from BC Jade

Artista: L’AQUART


Concordou em mudar memórias,

Despojos de voz,

Que a luz soasse de forma diferente em cada manhã,... 


Concordou até que o sol ilude o corpo,

A mente,

A presença do desejo nas vidas conforme elas correm,... 


Só discordou da forma como a ausência tinha de ser desenhada,

E bem sublinhada com um traço grosso,

E irregular,....


Sentia que isso não estava provado como precisão,

Simplicidade até necessária,....


E por isso à ausência escolheu devotar apenas silêncio,

O melhor da sua imprecisão como pessoa,...


Tinha diariamente de a reanalisar,

Para que fosse suportável 

2025/04/01

Abrilando a 26 de Novembro

 Eram sombras de realidade aumentada,

Se calhar a definição está incorreta,

Eram sim árvores a contrariar as respetivas naturezas,...


E a partirem para conhecer o mundo,

Embaladas por um vento que lhes arrancava o imoblismo,....


As sombras eram fugazmente apagadas,

E o mundo evoluía de surreal para fruto do ocaso,...


Em que os olhos deixavam de registar experiências,

E passavam a escrever para memória futura 

                            Tirado daqui

De: Brooke Shaden