2025/04/26

Um dia gostava de saber escrever assim

 

  • Estou vivo e escrevo sol


    ao Ruy Belo


    Escrevo versos ao meio-dia

    e a morte ao sol é uma cabeleira

    que passa em fios frescos sobre a minha cara de vivo

    Estou vivo e escrevo sol


    Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam

    no vazio fresco

    é porque aboli todas as mentiras

    e não sou mais que este momento puro

    a coincidência perfeita

    no acto de escrever e sol


    A vertigem única da verdade em riste

    a nulidade de todas as próximas paragens

    navego para o cimo

    tombo na claridade simples

    e os objectos atiram suas faces

    e na minha língua o sol trepida


    Melhor que beber vinho é mais claro

    ser no olhar o próprio olhar

    a maravilha é este espaço aberto

    a rua

    um grito

    a grande toalha do silêncio verde


    António Ramos Rosa

2 comentários:

Acha disto que....