Maria, chamemos-lhe assim, regressou a casa onde desconhecia até a cor das paredes. Não soava a música, como já tinha acontecido, o som dos passos dos sapatos desgastados de meio salto que tinham sido da mãe, e que agora tornara seus. Esquecera o odor de cera entranhado nos tacos, que invadia as fossas nasais mal terminava o som do metal da chave no canhão da fechadura.
Estava iludida que havia de encontrar o que lhe parecia ser uma memória, no canto da cabeça, de um serviço de chá guardado numa caixa de cartão, a um canto do hall de entrada. Mas não. As paredes, achava que poderiam ainda estar pintadas com traços leves de marcador, como alguém lhe tinha dito. Mas também não. Restavam-lhe os passos, passos de mulher que ainda sabia dar. Era perita em esboçar uma linha reta, enviesada, com bissetrizes inseguras que a faziam passar do certo, para o incerto. Como sempre tinha gostado.
Uma deliciosa brisa dançava com ela, à medida que sentia que a noite de Outono era puxada para baixo, por um dia que já não arranjava razões para ficar agarrado aos limites do razoável. Nada ali já era dela. Por isso escolheu sair, e deixar atrás de si o mesmo som metálico do adeus.
2022/09/10
A dúvida
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Profundo poema te mando un beso.
ResponderEliminarEs Un texto normal, no Un poema
Eliminar☺️
Um belo texto que gostei de ler.
ResponderEliminarGostei do ritmo da música do vídeo
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Feliz fim de semana
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Poema: A Lua de Mel de um Gafanhoto
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Obrigado Ricardo
EliminarAbraço
O regresso a lugares, situações ou pessoas do passado, pode ser uma total desilusão.
ResponderEliminarComo parece ter sido o caso deste personagem
Eliminar🙂
Gosto muito deste registo.
ResponderEliminarPor vezes, as memórias guardadas num canto da cabeça são mesmo obsoletas... Já nada é o que era.
Concordo inteiramente
EliminarObrigado pela presença
Este comentário foi removido pelo autor.
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