Entristecia-me a desilusão, palpável, entre duas pessoas que se admiravam, respeitavam-se às vezes, e optavam por só usar a linguagem certa. A ideia, sempre pensei, era evitar ferimentos gratuitos. No lado de dentro daquela porta, eu que passava o tempo a atender pessoas, ouvir reclamações insuportáveis de mães falhadas, pais medrosos, e filhos indesculpáveis, até aprendi a ser paciente. Admirava-a mais do que a ele. Era uma mulher bonita, que não se esmerava na roupa, mas punha interesse na forma como caminhava, olhava para os semelhantes e os que tutelava, e principalmente como cuidava de um cabelo louro, timidamente ondulado, e que parecia manter-se intocável mesmo perante as intempéries. Ele tinha tomado a decisão de abrirem aquele espaço. Foram tempos difíceis. Tinha-se precipitado ao sair de um emprego de escritório que o consumia, e as coisas ficaram incertas durante longos meses,...
que pareceram anos.
Até encontrar um cubículo pequeno, meio escondido da luz do sol, numa ponta da rua por onde raramente passava. Estava vazio há tempo demais e, tempos depois, já era dele. Imaginou uma coisa simples, isenta de presunções, e onde pudesse haver um ambiente escolar, aplicado à rotina sem horas e sem cheiros. Ela aprovou, quase sem palavras. Como o fazia sempre. Trouxe-a num dia de chuva, pela primeira vez, à espera de um sorriso. De uma mão amiga, cúmplice,... Já não pedia amante porque se tinha habituado a não exigir mais do bem-querer daquela mulher. E teve um sorriso, meio rasgado meio tímido. Uma crença de que as coisas iam correr bem.
Houve flores naquele mundo. Uma criança, duas crianças,...
mas um abandono crescente,...
Até que se sentiu a desilusão a instalar-se. Como uma corrente de ar leve, primeiro, que depois revira tudo num ápice, levanta sujidade, más memórias, dívidas de gratidão, e instala-se sem querer nunca mais sair.
Eu cheguei numa tarde quente de Verão. Timidamente, com um pequeno pedaço de cartão na mão, onde se lia 'Ajuda Precisa-se', disse estar interessado. Fui ficando. Como já disse, ela enchia-me as medidas. Se calhar via-a como mais do que uma mulher distante. Se sim, já escondi esse pensamento entre os nós dos dedos, à espera que ele não se liberte.
E pesou-me tanto a desilusão. Até me apeteceu, como agora o faço, escrever sobre ela...
2022/09/21
A desilusão
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Melancólico relato. Te mando un beso.
ResponderEliminarMuchas gracias
EliminarUn beso tanbien
São tantas as desilusões da vida.
ResponderEliminarIsabel Sá
Brilhos da Moda
Cada vez mais
EliminarObrigado pela presença
Quando se põe demasiadas expectativas, a desilusão por vezes acontece. Há que não esperar demasiado...
ResponderEliminarSem duvida
EliminarObrigado pela presença
A vida é composta por ilusões de desilusões. Com todas se aprende a viver. Ambas caminham juntas.
ResponderEliminar.
Uma semana feliz
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.
Sem duvida ricardo.
EliminarAbraço.
A des- ilusão não é de toda má, penso até que é saudável, evita equívocos e enganos. A própria palavra o diz. Viver a realidade é bem melhor.
ResponderEliminarUm beijo, amigo.
Nunca tinha pensaod nisso
Eliminar:-)
OIbrigado pela presença
Gostei muito dessa história! Profunda!
ResponderEliminarBoa semana!
O JOVEM JORNALISTA está no ar com muitos posts interessantes. Não deixe de conferir!
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Até mais, Emerson Garcia
Obrigado Emerson
EliminarAbraço.