Carregue depois de ler o que está em baixo. Vale a pena.
Tentei
abrir a porta. Havia um refúgio de dor aos pés de quem por ali passava. O chão
parecia pesado. O ar irrespirável. Adoeciam as expetativas de sonho, só porque
a entrada naquele mundo insistia em ser proibida. Avisaram-me. Releram-me
resenhas de pessoas sem nome, sem decisões, que por ali passaram e perpetuaram
o anonimato. A razão infundada de estarem vivos. E, aos poucos, de forma
indolor mas rasurada, foram perdendo a vida. Insistia ir ali. Admito. Falei-te,
num entardecer que já recordo mal, que adivinhava um mundo importante,
incorpóreo talvez, para lá daquela porta. Com pobres ensurdecidos, pessoas
sérias e com histórias para contar, sentadas de olhos vazios, mas ainda assim
alegres, em bancos de outros tempos, feitos a madeira esculpida. E desejava que
estivesses comigo. Íamos de certeza arranjar forma de contornar barreiras
linguísticas, e entrar noutros mundos de mão dada. Mas a porta não abria.
Caminhei sem destino, e ainda dentro daquele prédio espreitei por uma janela.
Na rua, um pregador que não conseguia escutar acenava, empoleirado e em bicos
de pés, para os confins do céu acinzentado. Ninguém parecia reparar nele….
Há assim tempestades que nos varrem, fora e dentro.
ResponderEliminarE a de ontem varreu bem🙂
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