2023/10/19

Eu em diálogo com a tempestade 'Aline'

 Carregue depois de ler o que está em baixo. Vale a pena.

Tentei abrir a porta. Havia um refúgio de dor aos pés de quem por ali passava. O chão parecia pesado. O ar irrespirável. Adoeciam as expetativas de sonho, só porque a entrada naquele mundo insistia em ser proibida. Avisaram-me. Releram-me resenhas de pessoas sem nome, sem decisões, que por ali passaram e perpetuaram o anonimato. A razão infundada de estarem vivos. E, aos poucos, de forma indolor mas rasurada, foram perdendo a vida. Insistia ir ali. Admito. Falei-te, num entardecer que já recordo mal, que adivinhava um mundo importante, incorpóreo talvez, para lá daquela porta. Com pobres ensurdecidos, pessoas sérias e com histórias para contar, sentadas de olhos vazios, mas ainda assim alegres, em bancos de outros tempos, feitos a madeira esculpida. E desejava que estivesses comigo. Íamos de certeza arranjar forma de contornar barreiras linguísticas, e entrar noutros mundos de mão dada. Mas a porta não abria. Caminhei sem destino, e ainda dentro daquele prédio espreitei por uma janela. Na rua, um pregador que não conseguia escutar acenava, empoleirado e em bicos de pés, para os confins do céu acinzentado. Ninguém parecia reparar nele….


2 comentários:

Acha disto que....