Com os anos a morte vai-se tornando familiar.
Quero dizer não a ideia da morte, não o medo da morte: a realidade dela.
As pessoas de quem gostamos e partiram amputam-nos cruelmente de partes vivas nossas, e a sua falta obriga-nos a coxear por dentro.
Parece que sobrevivemos não aos outros mas a nós mesmos, e observamos o nosso passado como uma coisa alheia: os episódios dissolvem-se a pouco e pouco, as memórias esbatem-se, o que fomos não nos diz respeito, o que somos estreita-se.
A amplitude do futuro de outrora resume-se a um presente acanhado.
Se abrirmos a porta da rua o que se encontra é um muro.
No nosso sangue existem mais ausências do que glóbulos.
Tento recordar-me: a casa dos meus avós, a Praia das Maçãs, episódios antigos, as horas gordas do relógio de parede ecoando na sala.
Deve ser tudo normal, certamente é tudo normal e não entendo. Venderam a quinta, o mundo encheu-se de pessoa.
Fomos tão poucos, dantes!
Escondia-me num canteiro a fumar, as nuvens passavam sobre as copas.
As flores nasciam, perfeitas, dos dedos do senhor José. Esqueceste-te das estátuas com o nome das estações, do roseiral?
Do mês de junho em que tudo era verde, nítido, claro?
De trazeres pilhas de livros para o jardim?
Que Antonio eras tu?
Dos versinhos que escrevias?
De ires ser escritor?
Tão fácil ser escritor, não é verdade?
Tão fácil respirar.
António Lobo Antunes
It is a reckoning, pulling us apart and life fading. Holidays are never the same. Sometimes, there are dreams of phone calls and you hear a voice. Yes, truly so many different echos.
ResponderEliminarThanks.
EliminarIt belongs to one of the greatest writers in my country.
No recuerdo haber estado antes en tu blog y lo siento, me ha parecido interesante, te aseguro que volveré, porque me ha gustado lo que he leido
ResponderEliminarun abrazo
Si has estado antes
EliminarGracias