pôs o sorriso esquecido no banho maria
dos anos. Nos pés os sapatos ratados na biqueira, e com os calcanhares
gastos._De meio salto para ajudar com os trampolins escorregadios da calçada
gasta do bairro da Bica. Era a saia pelo joelho, com a racha até meio da coxa.
Foi da irmã que morreu de desgosto quando o homem, embarcadiço, se foi embora
para o ultramar e deixou escrito, em papel de manteiga, que tinha deixado de
gostar dela. A blusa florida, com o decote que deixava os marinheiros
americanos entusiasmados por uns minutos na pensão do 1.º andar da Mouraria,
puxada para baixo, dava-lhe o renascer das décadas,…nem que fosse por um
instante.
Trabalhava ainda só para respirar.
Ninguém lhe conseguia explicar porque é que um cadáver com pouco mais de 40
quilos, com olhos debruados a cotão, as maçãs do rosto coladas à testa, e pouco
mais que duas linhas de coser baínhas a servir de pernas, que a arrastavam como
uma serpente pela baixa pombalina, atraíam magotes de homens. Sim, eram todos
órfãos. Claro que sonhavam com as mães à noite, enquanto se esforçavam para não
roçar as costas nas costas moles das esposas. Só que porquê ela?
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