2024/06/21

Conto que se quis longo e interessante mas que não vai ser assim tanto II e fim

 ....um homem que se esconde em roupas desenquadradas, e não se enquadra no mundo com a discrição das pessoas racionais. Perdeu as razões de viver. O olfato pelas coisas boas da existência. E só tem este refúgio.

 A meia idade que ostenta, diz que ainda tem metade de um caminho por percorrer. Mas detesta confrontos. Usa uma pequena pulseira de pingentes vermelhos no braço direito. Considera que a mesma lhe dá invisibilidade, uma posição inocente sobre todas as coisas que ele na realidade quer ignorar. 

Está prestes a entrar neste local que é só seu. Faz uma pequena pausa para recordar uma conversa que havia tido momentos antes, no café da esquina. Um homem com quem normalmente só trocava olhares, naquele dia encetou conversa consigo. Começou pela futilidade do tempo abafado, do custo de vida que não pára de disparar. Escolheu manter-se em silêncio. Mas estranhamente, quando aquele homem lhe contou que estava farto das coisas simples da vida, e que ponderava seriamente começar a ser o contrário do que até aí tinha sido, isso captou-lhe a atenção. Fixou-se na cor dos olhos baça do seu interlocutor. Tinha as mãos deformadas e descoloridas pelo tempo, resguardadas em concha em cima do balcão do café. Reparou ainda que trazia um livro, de capa oculta por um forro de papel tosco e pálido.

Pareceu sentir uma estranha familiaridade com esta pessoa. Quase como se ambos partilhassem alguma coisa que escolhiam resguardar do mundo. E isso intrigou-o e tranquilizou-o ao mesmo tempo. Nada disse ao seu interlocutor de ocasião, limitando-se a um cumprimento gestual, seguindo caminho. Estava ali, agora, para abrir uma porta e entrar naquele pedaço de mundo que era só seu...


                                                                       Tirado daqui

6 comentários:

  1. Great article and good blog. Success for your blog ok

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  2. Oh, the wonder you bring us with each little piece. A slice of what has been and what is to come. You are the grandmaster. Such delicate matters you tackle. Wishing you a restful weekend. Hopefully, you have returned now.

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Acha disto que....

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