2007/12/24

Couve-flor

Aquilo tinha forma de couve-flor. Um ponto minúsculo, que aumentava com as alterações de direcção do vento. Cá em baixo estava tudo acabado de pintar de branco, e as cabeças rodavam em simultâneo à espera do pior. O relâmpago falou, antes de o trovão gritar.O que se temia, despencou do céu aos trambolhões.
Chuva ácida rebentou num desvario de destruição, e manchou de pecado cada pedacinho de incólume parcela de redenção. Do branco, restou o esgar da apreensão.O traseiro peludo levantou-se da sanita. O par de mãos reparou que não tinha papel higiénico onde se agarrar. De azulejos brancos em perpendicular pendiam minúsculos pontos acastanhados. O piaçá está partido, e o feijão preto da picanha deixou uma estranha acidez no esfíncter.
A couve-flor talvez necessite de citrinos para acalmar. A tia Isalgina faz uma laranjada refrescante. Tem é que ser sem kiwi, porque estar sempre a colocar a mão direita em ângulo recto faz mal às articulações.Papel higiénico colorido? Solução aburguesada.
Quem não usa tirinhas ovais de papel celofane para proteger as coxas quando se senta em lavabos públicos, também não tem de se preocupar com cãezinhos a sair ornamentados por pêlos em helicoidal.Pedra. Isso.
Sozinho em lavabos público, sem miradas inconvenientes. Resolve-se a situação de uma rectaguarda imaculada, com três passagens de um cubo de calçada. Mãos lavadas em bacia de águas a cheirar a cozido à portuguesa com três dias, e uma consciência apta a enfrentar novo imprevisto causado pelo feijão preto na picanha. Maldito Tira-Dentes.
Se o homem não tivesse existido, nem aqueles tipos tinham inventado a maldita picanha, que deixa uma pessoa a arder por dentro. Receita do diabo.

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