2025/01/25

Tempo, Local, Presente

 Não há novidades. O café fechou. As horas não contam. Esquece-as. Só um homem em passo acelerado, a fugir da chuva que inconvenientemente aumenta de intensidade. A verdade não conta, em momentos como este. O tempo também não. A constante matemática que reflete a vagareza do tempo, no aumento da velocidade, talvez se aplique aqui. E nós dois debruçados numa sacada velha, a observar do topo uma fatia irregular do real. Dizemos só olhares um ao outro. Tinha-se tornado no ideal de linguagem preferido destes momentos. Eu refletido nas tuas pupilas, a minha córnea a servir-te de espelho. Sorrisos faziam de palavras de conveniência. A doçura de um toque, a ganhar terreno sobre a velha força do argumento. Amanhece. Somos talvez notas de rodapé disto que gosto de ver como obstáculo à imortalidade. Do lado de lá, lá na rua ao lado provavelmente, onde já estarão outros mais experientes, com um corpo adequado à história que já levam, e um bem-estar espiritual que se estende pela rua fora, estaríamos melhor. Mas por enquanto, não saímos daqui. E talvez tudo venha por bem

                                                                                Tirado daqui

Otto Künzli, Ring für Zwei , 1980

4 comentários:

  1. Really fantastic text!
    Densely written and with many meanings.
    Even a word becomes a different image for each of us,
    depending on our experiences!!
    Thank you!!

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Acha disto que....