O café não arrefece. A pequena colher já com laivos de ferrugem para um lado, para outro. A força da gravidade replicada. Ela enerva-se. São as horas que tiverem de ser. Não gosta de fazer esperar ninguém. Há uma nódoa na roupa. A saia que era da avó. Ela não iria gostar se ainda por cá andasse. Dão-lhe um bom dia inocente. Ela responde com um olhar altaneiro, e egoísta. A nódoa que não sai. Está atrasada. Há pessoas para encontrar, assuntos para resolver. Tempo para domar. Essa é a parte que menos gosta. Saber que vai perder mais adiante, tudo o que tiver ganho na força do momento. E a nódoa que não sai. Haverá pó de talco neste maldito sitio. Tem de deixar de aqui vir. Há mais cafés no mundo. As pessoas são feias, com um ar desesperado. Inquisidoras. Aleivosas mesmo. E a porcaria da nódoa que não atenua. Vai levantar-se. Há um tarado que olha para ela. Cabelo lambido, olhar perigoso. Despreza-o. Se pudesse veria-o a sofrer até que...
Levanta-se. Dois sacos numa mão. A mala com o computador no ombro esquerdo. Na rua chove. Vai ter de se molhar. O carro está longe. O cabelo precisa de humidade. E ela está atrasada.
2024/09/14
A saia que era da avó..
Talk to Me (2022)
Reali: Danny Philippou & Michael Philippou
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Genial relato. Te mando un beso.
ResponderEliminarUn beso tanbien
EliminarIt's hard...
ResponderEliminarIt is
EliminarVery hard
Oh, the struggle. You tell it well. I liked the "licked hair, dangerous look". Very cool...and dark.
ResponderEliminarthe struggle?:-) thanks.
EliminarSuch rich character in your imagery of the past catching up to the present. Haunting images, as well.
ResponderEliminarthanks.
EliminarLi duas vezes. Tentei captar o clima da cena. Por que ela deixou o carro tão longe...?
ResponderEliminarMuito bom.
:-)
EliminarSe tivesse deixado mais perto, a história teria de ser outra
:-)
Obrigado Eduardo
E não é?
EliminarTalvez, tudo depende da leitura:-)
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