2024/04/19

Contornos de rostos


                                                                         Tirado daqui

Os Cyclops (1957)

Ao fim e ao cabo, todos aqueles rostos eram confiáveis. Todos os dias os via, habituara-se a duvidar de tudo, e até daquelas pessoas que não conhecia, e fazia por não conhecer. Mas chegara o dia em que, tudo indicava, teria de mudar a sua conceção. Havia sorrisos, contornos de rostos sumidos pela indiferença, pelo passar doloroso do tempo. Mas havia essencialmente sinceridade. Luxúria pelas passagens simples e irrepetíveis da vida. Era isso, confiabilidade, que se tratava aqui. E ela era reconhecida. Passou por isso, a partir daquele dia, a considerar cada especificidade que via. E renunciava ao adeus, ao desprezo. Concentrava-se nos defeitos de um rosto, na perfeição em construção de outro, nas lições de vida ocultas de outro. E readquiriu a felicidade. A vontade de deixar marca no solo em cada passo que passava a dar. 

10 comentários:

  1. It's a feeling all go through..I think..perhaps. What was..isn't..or in some cases can swing to be extraordinary. Or it could be how the weather affected the brain that day. The mysteries of life that you explain so well.

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    1. :-) not sure i understood your idea:-)

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    2. Esses personahgens mutantes são nefastos.
      A noite, pior ainda fixar o olhar neles.,risos
      Preferi ler e reler a prosa surreal (até certo ponto), pois a realidade é composta de rostos assim mutantes_ ora são sorrisos ora lágrimas.Contorcidos , faz medo !
      Cuidado aí Miguel para não me assustar toda noite com mais cyclops. :((
      Um abraço

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  2. So great to read your poetry this morning. You give me so much to think on. I hope you have a fabulous weekend. No telling what you might conjuring. All the best to your wonderful creativity!

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  3. A sociedade afasta os feios, os pobres, os diferentes como se fossem peçonha, tornando-os os nossos monstros. É difícil ver que em todo o lado moram pessoas. Li este texto como esse movimento de aceitação, ainda que possa não estar certa, se calhar quem lê interpreta à luz da sua vontade.

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    1. E leu muito bem, na perspectiva de que está aberto a interpretações 🙂

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Acha disto que....