2022/12/16

Um dia gostava de saber escrever assim

 FIVE O'CLOCK TEAR


Coisa tão triste aqui esta mulher
com seus dedos pousados no deserto dos joelhos
com seus olhos voando devagar sobre a mesa
para pousar no talher
Coisa mais triste o seu vaivém macio
p'ra não amachucar uma invisível flora
que cresce na penumbra
dos velhos corredores desta casa onde mora

Que triste o seu entrar de novo nesta sala
que triste a sua chávena
e o gesto de pegá-la

E que triste e que triste a cadeira amarela
de onde se ergue um sossego um sossego infinito
que é apenas de vê-la
e por isso esquisito

E que tristes de súbito os seus pés nos sapatos
seus seios seus cabelos o seu corpo inclinado
o álbum a mesinha as manchas dos retratos

E que infinitamente triste triste
o selo do silêncio
do silêncio colado ao papel das paredes
da sala digo cela
em que comigo a vedes

Mas que infinitamente ainda mais triste triste
a chávena pousada
e o olhar confortando uma flor já esquecida
do sol
do ar
lá de fora
(da vida)
numa jarra parada

A Palavra O Açoite (1977)
Emanuel Félix

8 comentários:

  1. Poema intenso, profundo, poderoso, que muito me fascinou ler. Deixo o meu elogio poético.
    .
    FELIZ NATAL … BOAS FESTAS
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  2. Claro que vais conseguir e ainda melhor :)
    Beijinho,
    https://docejoornadablog.blogspot.com/

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  3. Que tristeza de vida a dessa Mulher, dessa e muitas como ela.
    Beber as lágrimas na hora de tomar um chá quentinho, é pouca sorte que não desejo a ninguém.
    Feliz Natal, Miguel.
    :)

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