2019/04/30

Café

só no quarto andar havia aquele café, que dissecado parecia zurrapa de um esgoto. Sim, podia trazer a morte, mais depressa do que cimentar a vida. Mas de nada interessava. Ela lembrava-se deste desvario de lesa velhice, quando precisava de chorar. Sentia-se arredondada, porque há aqueles dias em que lá vamos nós a esgueirar pelas frestas de uma janela, ao mesmo tempo que não conseguimos evitar uma dissolução nas gotas de chuva ácida que lamentam o suicídio da terra lá fora.
Todos os dias brincava com a sorte, na escolha de roupa. Umas vezes dava aos olhos esfomeados dos homens a curva de uma perna, nos outros, os que tinham sorte, fixavam as pupilas naqueles montes alentejanos de fim de Setembro que, inocentemente ou não, baloiçavam, no bulício do quotidiano.
Sempre, a confiança iludia uma insegurança inconstante. E restava aquele café. Que se estendia por sobre qualquer chão que se pisasse, qualquer boca lisa que se beijasse,.... sobre tudo


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