2018/03/13
Clarividente
Nunca contei a ninguém que leio o futuro na chuva, é uma coisa relativamente fácil quando se tem vontade disso, eu explico, estou habituado a ser transparente, vivo na rua e nas esquinas por onde passo ninguém repara que consigo perceber até onde as pessoas estão dispostas a ir, com o vento a pentear-nos a pele, e o calor como único poema de amor aconchegante na vida, olho para a pressa de cada um e leio os sonhos, os desejos reprimidos , se cada um já foi feliz alguma vez, se sabe o que é amar tanto a ponto de se colocar em causa o próprio ser, a chuva ajuda a desenhar o futuro quando cai em cima das pessoas que só olham em frente, e não se preocupam em pensar que pisam o mesmo chão décadas a fio, e que esse chão já foi gasto por gerações de seres sem nome mas com emoções, e isso faz de nós clarividentes, nem que seja por não termos mais nada nos olhos a não ser a desonra de não termos nada como tema de conversa...
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