2025/03/09

As cartas

 -As cartas do teu pai, eram reais?

Atingiu-me como uma pedrada, daquelas diretas à cabeça. Que nos derrubam, e o sangue sem pedir para sair em partes do corpo que nem sabias ter.

Ela mirava-me. Eu não sabia o que responder. Olhava para o chão. As respostas tardam, quando mais se precisa delas.

-Eram reais ou não?

A questão é que nunca soube. Fingi, numa determinada parte da vida. Copo de álcool na mão, insulto fácil. Desrespeito por todos, porque cá dentro o medo lidava comigo como um jornal atrasado. Desprezava-me. Ele tinha ido embora, simplesmente. Nunca se dera a conhecer, e partiu. Um dia olhou para mim, as lágrimas não me pediam licença para correr. Abriu a porta, e pronto. Esfumava-se o homem que não precisava de falar comigo, de me incentivar. De ser pai. Olhava-me. E, a partir daquele momento, comecei a criar um mundo que o trazia de volta para mim. Num mar atabalhoado de letras. 

E não lhe respondi, se isso alguma vez tinha sido verdade...

                               Tirado daqui

2 comentários:

Acha disto que....