2023/02/24

Assomo ao anoitecer

após o dilúvio, a praia torna-se um vai-vem de despojos de todo o tipo. Restos de cascas de árvores apodrecidas, misturados num mosto de cheiro pútrido com algas, pedaços de seres invertebrados, e lixo de toda a ordem, bailam sem coordenação. O vento levanta a areia pela base, e os poucos que se atrevem a enfrentar a tempestade juram, por vezes, ver lindas danças de moças orientais sem forma e sem idade, que enfrentam o rigor dos elementos para provar um conceito próprio de liberdade. Havia a jura de luz feita sombra naquele local assoberbado. Tudo soava a renascer, a verbos gastos pelo tempo e pela indecisão do espaço. Uma mulher submete-se, de cócoras, a uma reza impercetível. Um homem passa por ali sem destino, mas com um cão que se arrasta sem nome nem sentir. A voz do vento dita para a luz metálica do céu, juras de um compromisso sem idade. 



4 comentários:

  1. Amo, chegada a noite, o silêncio da areia e os sussurros do mar.
    Texto que gostei de ler. Musica que gostei de ver e ouvir.
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    Cumprimentos poéticos e cordiais
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  2. O caos, a praia, o anoitecer, e o desencanto que traz encantamento...

    Boa semana!

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Acha disto que....