Umas horas antes do último suspiro, chegara a casa trôpego, com dificuldade em andar. Arrastava dois sacos grandes de serrapilheira, carregados de pinha para acender o lume. Pela noite já refrescava. O vizinho, Manuel de Távora, que nunca tinha morrido de amores pela pessoa, estranhava-lhe a dificuldade em respirar. A mão no peito, quase como se o coração pudesse saltar da boca, e estatelar-se no meio do chão, a saltar até se ficar. Os dois viviam, cara com cara, quase peito com peito, há mais de não sei quantos anos. Um dizia que o outro vivia à conta da paróquia. O outro recusava-se a olhar para cara do vizinho. Sebastião guardava mais fel pelo vizinho. Não sabia explicar porquê. Aquele nome soava-lhe a rico, pessoa que tinha tudo de mão beijada, e não precisava de lutar por nada para que o tempo corresse de feição. E além disso, insistia em chamar-lhe Marquês. Sem que ele nunca tivesse percebido porquê. Um dia, quase chegaram a vias de facto. O Távora pisou-lhe o pé no mercado das hortaliças, mesmo no centro do Pombal, Sebastião olhou-o nos olhos, e rosnou. Távora riu-se, e chamou-lhe baixinho qualquer coisa que não deu para perceber, mas que espalhou veneno pelo chão. A partir daí não houve mais fala possível.
Só que naquele dia tudo parecia diferente....(Continua)
Só que naquele dia tudo parecia diferente....(Continua)
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