2010/06/12

Pensei isto,e.....

Esta brincadeira da escrita começou como uma necessidade de afirmação, e agora é quase um mundo paralelo. Serve para que me desprenda do que tenho. Que sinta o que provavelmente nunca virei a ter. Acima de tudo, não sei o que procuro com tudo isto. Deveria querer afastar-me da escrita quando saio do trabalho, diariamente. Tudo isto é repetitivo. A técnica é sempre a mesma. Há considerandos que julgam a escrita como uma actividade menor.
Mas, não obstante tudo isto, e a julgar que tudo o que relatei é digno de crédito, não consigo desprender-me de nada. Existem sempre pequenas coisas que me prendem à ficção.
À poesia.
O ler um trecho curto, mas tão intrinsecamente diferente que me leva a querer fazer melhor.
A necessidade de ficção que a minha existência sempre teve.
Na escrita as coisas são simplesmente diferentes de tudo o que a realidade nos dá no quotidiano.
As pessoas não são assim tão lineares. Os conceitos são moldáveis, e nunca imutáveis. O tempo é só um acessório de criação, e nunca o maior assassino da própria existência humana.
Escrever é tantas coisas somadas que conduzem sempre ao destino seguro que é o regresso a ela. Um segundo pode ser maior que quatro mil milhões de anos de existência da vida. E a morte não tem necessariamente de ser o fim deste jogo da criação.
Juntar palavras é bacoco. Mas é sublime. As paredes são sempre maleáveis no fim de se absorver um texto bem escrito. Há um rei que não manda, e súbditos que matam ao Deus dará. E há sonhadores. Miúdos, velhos, discípulos do mal e do bem que trocam de papéis na mesma proporção em que não têm quaisquer papéis definidos na vida. É de facto o último limiar da liberdade humana. Não sei como consigo resumir melhor o que sinto pela escrita.
Talvez só deixando de escrever......

2010/06/11

Transpirado de morte


A morte era o espaço entre as calçadas. As veias da rua que pulsavam na violência do vento capaz de conversar, e descrever ao mesmo tempo. Sentou-se de cócoras à espera do dia, e enquanto rezava, as pessoas passavam despercebidas em busca de vida nos finos cabelos de sol que pareciam descer do horizonte.
Eram rezas o que chorava. Soletrava desejos poucos e infindos de vingança. Dizia-se acomodada ao tempo, e ao que o tempo na sua lonjura deixava nos intervalos dos dedos que a chamavam disso. De morte.
Em dois solavancos a rotina desprendeu-se do que ninguém parecia ver, e as coisas acabaram. Uma mulher reergueu-se da poeira, mimetizando uma criança que pela mão a acompanhava no meio de latidos de cães felizes.

2010/06/09

Poema de mãe para pai que aprende a sê-lo


lembro-me da minha mãe
a dizer que o intervalo entre
o espaço e o tempo
estava na covinha linda
que eu conseguia fazer com as minhas mãos,
deu-me um abraço aconchegante,
afagou-me os cabelos,
e depois deixámo-nos
ambos no amor insuflado
da chuva que caía,
senti-me sentido entre
os minutos que pareciam
cantar,
e ela disse-me o mundo,
e explicou-me sonhos
que queria para mim,
esforcei-me por entender,
transfigurei-me em tantos olhos ao mesmo
tempo,
naquele par de pupilas
que achou o amor em
resquícios de folhas
queimadas no prado
a perder de vista,
no que chorando achou
melhor deixar a existência progredir em versos que nem sequer entendia,
e até nos que por aqui
passam sem que ninguém repare neles,
fui feliz quando tão pouco parecia existir para que não o fosse,...

e hoje o abraço,
e o sorriso da inocência,
e o amor das pequenas
coisas que parecendo sem sentido,
conseguem mover o mundo,
e eu que me acho tão
pouco para fazer o
que antes observei....

Texto #95

Com o sangue a escorrer sucintamente nas paredes da concordância, as pessoas sentiram-se inseguras. Capazes de descreverem-se com palavrinhas pequenas e desprovidas de sentido,
mas com aqueles sorrisos que tornam tudo mais complicado e infeliz.

2010/06/02

Relato só


facto,
fé fiel das soltas
indecisões finisterráticas de querer sorrir,
mulher má,
homem sumiticamente
desejoso de progredir,
tardes espremidas do borrão do dia pintado,
solitariamente tudo isto
nada sente o sentido
de desejar escrever
cometimentos....

Dois do seis de dois mil e dez,....Quinze Anos


Ponto,...
reunido pela sombra dos dias que somados,...
dão certezas reunidas em vida...
Escolhi uma alegria, para relembrar a tristeza que já lá vai tão longe.
Mas ainda não se desfez...

2010/05/22

Começo a ficar preocupado com o que não tenho para dizer. Assim sendo escrevo sobre viagens de comboio.....


Tenho dificuldade em escrever noutra pessoa que não a minha. Reflectia o jovem do lenço vermelho, que se sentia ferido com o despontar da barba que o insultava. Rabiscava numa folha que se auto-amarelecia. Queria o som. O desfazer permanente do som, mas só conseguia a luz. E a luz odiava.
Ao lado a chinesa submissa, que francamente nem se importava com o deslindar em tombos do comboio que furava o preto dos minutos que se enliavam sem deslindar.
Lá à frente a velha.
E o tempo? que se faz do tempo que não quer ser notado?

2010/05/20

Sem título (14)


lugar simples troca,
facto pelo que a
luz inebria,
calmo sono rachado,
e o conto,
os homens bons,
do fim....

2010/05/12

Praça Fim


as mãos eram histórias
mal contadas sem que
a água tolerasse um
sonho de crianças
sorridentes que
desfaziam o mundo,
éramos todos,
mais alguma
coisa que o nada,
o minuto era nosso
irmão de sangue
ao que nos foi dado a
entender,
terminou tudo em sinais
de luz,
com a calma envolta
em rastos do amanhecer descrito
em cinza e uma
mulher que chora...

Este tem de vir para aqui, porque explica muita coisa....