2024/03/11

Eyes wide shut

comi, pedi um café. olhei nos meus próprios olhos, como se isso fosse possível. era capaz, de pálpebras coladas. uma habilidade que vinha de criança, quando queria voar, e as paredes brancas amarelecidas do meu quarto, que cheiravam sempre a qualquer coisa a apodrecer, funcionavam como prisão difícil de descrever. e naquele dia, vi o meu próprio arrependimento. desenhava corações numa areia suja. era uma praia, de um dia qualquer de final de Verão._um vento de letras grandes soprava, e afastava os resistentes daquele anfiteatro a céu aberto. a minha vontade, as pessoas que tinha conhecido até aí, os choros de madrugada que ninguém ouviu mas que os que me conheciam sempre perceberam, estavam ali. a morrer na espuma das ondas. reabri os olhos. Um indigente, de repugnância bem desenhada na barba, admirava-me como qualquer coisa de novo na sua rotina. Levantei-me, fui para um canto. Voltei a olhar para os meus próprios olhos, a pesar de sentir a luz a esmorecer como uma criatura que hiberna no inverno. e lá me encontrava. como o homem das letras minúsculas nos inícios de cada frase.que não suportava nem ventos, nem resplandecências mal definidas do sol que reaparece sempre por entre as nuvens carcereiras. o café ia fechar. Paguei, levantei-me, e saí. Tinha uma conta a pagar, antes de voltar ao reinício de tudo o que sempre me acontecia.






                                                                            Tirado daqui

8 comentários:

Acha disto que....