As suas prioridades nunca estiveram bem definidas. Tanto podia ser o bolo de iogurte, que saía sempre bem feito, queimado nas pontas como os meninos gostavam. Como os três quilos de arroz que, simetricamente guardados na terceira porta dos armários da cozinha, tinham de dar para várias semanas, quase como se a Rainha Santa Isabel não fosse mais do que aquela insegura dona de casa. Eram prioridades comesinhas, é certo, mas as possíveis. As únicas que tinha apreendido na vida. Lembrava-se de ser menina, à porta da cozinha da casa da avó, e ver aquela senhora que envelhecia a olhos vistos a andar, sofregamente mais devagar, mas incapaz de deixar de parar de satisfazer os gostos que não eram os seus. Regendo-se por um tempo que era sempre igual, e que parecia tirar-lhe tempo de cima, da mesma maneira como se podam as árvores.
Aprendeu, por isso, a priorizar as prioridades. Mas era uma tarefa inglória. Um dia percebeu que talvez, se se atrevesse a viver, as coisas começariam a mudar. Comprou um livro de auto-ajuda, que ainda se esforça por perceber.
Aprendeu, por isso, a priorizar as prioridades. Mas era uma tarefa inglória. Um dia percebeu que talvez, se se atrevesse a viver, as coisas começariam a mudar. Comprou um livro de auto-ajuda, que ainda se esforça por perceber.
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