Sentia-se a ficar sem pele, porque da pele sangrava sem sequer ver o que podendo ser sangue, era água tingida do vermelho das possibilidades infindas do armagedão com que o planeta parecia desdobrar-se. Deturpada na essência de ser de certezas feito, era hospedeira do cancro da dúvida. Sentia crescer por dentro o que a tomava por alvo de estupro. Entravam-lhe por si. Saíam-lhe pelo que queria deixar de ser. Entravam de novo por aquilo em que se estava a transformar, para no fim dizerem estar a vencer. Menina-Sol cessara de ser um processo de essências libidinosas em transformação, e só respirava. Azotos perfumados, com misturas do suave com que a água nos envolve, arremessavam-lhe as fossas nasais para o profundo do desconhecimento. Era portadora de hóspedes, que de hóspedes tinham o desejo de matar. Acabar com o previsto da respiração, e deixar em vez disso a plenitude do andar para sempre à espera que o ar encha de novo pulmões gastos pela indecência. Seria confusa toda a envolvência de morte, se a morte ela própria já não se tivesse tornado companheira desta viagem. Guia para um horizonte que restava-se a si mesmo para se manter lá onde sempre esteve. Menina-Sol já não chora. Tinha desaprendido de ser Ser.
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