2008/06/30

Discurso de um louco V


Foi um grito ameaçado. Nasceu de um defeito no descontínuo espaço-tempo, e projectou-se em pequenas circunferências, dizendo à cidade que queria insignificantes prémios. Lotes indefinidos de pessoas a aplaudir morenas odes de amor. Cafés cheios.
Não cafés vazios.
Grupos de pessoas com sorrisos na boca, e que se refugiam na singeleza que urge. Que se impõe. Foi um grito que se desfez. Contudo, mantém-se na cidade que dorme. Os nossos pássaros, são os mesmos que o acariciam nos terraços inflados.
São criaturas construídas por ímpetos desconstrutivos.
Soar a ode.
A mesma que limpas, observador. Que acalentas no mesmo perímetro que a tua vida remexida. Nela deturpas todo o tipo de deliberações próprias. Optas pela beleza, quando a soma de todas as partículas que a compõem é zero. Espera, reaquece a tua busca pela beleza e,...
....ficou o ponto inquiridor. O grito sou eu. Mundo a menos, espaço a mais...As resoluções não brotarão de indecisões forçadas.....


#IV, #III, #II, #I

2008/06/27

Estórias



eu nunca fui de morrer por desenleio, cativem-se,
sempre quis os meus desvanecimentos com centrifugação,

mesmo peça de roupa lavada a seco,
e depois catada,
desinfectada a quente,
e ofertada aos novelos de sarro de um cão vadio,

cativem-se com estórias,
estas estórias,
balelas de meio dia,
e certezas de corpo histérico,
mas pleonásmico,
disfuncional
no sentido
cativante do termo,

e agora,
fui embora,
para mais
uma morte,
que não conta,
apenas ressona,
e revolta,
quem destoa,
do meu festim de
anátemas humanos,...

Menina perfeita à chuva VIII

A terra parecia querer minar-lhe os desejos de superação. Sentia vozes cândidas a grassarem pelo ar fresco. Sussurros, que tão depressa se desfaziam no vento em crescendo, como o sufocavam, deixando o ar com a secura de um Verão em agonia.
O céu queria mimá-la. Oferecer-lhe um infinito de coisas boas, para que as coisas más se evaporassem com todo o mal.
Mau de ser, péssimo de parecer.
E o esforço para acalmar.
Menina Sol queria arrastar a alavanca que se partiu ao mudar o mundo. Queria levá-la consigo e, com ela, pensar em novas concepções de fixar as maleitas dos horizontes imutáveis. Eram realidades novas para ela, mas presentes com uma força que se auto-transformava. Eram linhas adoráveis. Mudas, mas educadas. Translúcidas, mas viçosas de tão adoráveis. Envolviam-na pelo coração. A princípio quase que se sentia assassinada. O peito alvo e cândido que teimava em esconder, ribombava com pancadas secas. As pernas eram presas, e depois reviradas com uma força centrífuga que a deixava às portas de um mundo alternativo.


#I, #II, #III, #IV, #V, #VI, #VII

Nessun dorma



preto friso de inveja,
e sonega,
na fresta,
do homem bom,...

mancha,
homem-lancha,
em rio de noz,
gelado,
sem pescado,...

notei bola de fel,
ignorada sumiu-se,
porque ter calado,
é melhor que dispôr,
prosélito,...

Frases performativas


Podia estar a escrever uma frase performativa. Daquelas ideias razoáveis, que pelo menos deixam as pessoas em estado de letargia açucarada. Tudo numa perspectiva cumulativa, quando se espera pelo almoço na fila do refeitório.
Mas não o farei, porque ainda meço as minhas prioridades, na mesma medida em que esconjuro o que menos quero acumular. Clinicamente, situo-me entre o que terá uma morte suave, e o que luta por, pelo menos, merecer uma página inteira de necrologia no jornal da terra. Qualquer coisa que fique a meio, será um contrato de compra-e-venda, com o carimbo roxo de falhanço no rodapé. Sentença de mediania pura.
Frases performativas são queixume, lamentos que tolhem quando tolhem, e quando não batem, simplesmente morrem. Donas de casa hermafroditas, a dançar a um ritmo que só elas ouvem. Letras cinzentas, sentidos que pisam fraques que se arrastam em salões de baile arejados.
Prefiro aspirações. Coisas que são o que são, e picam quando queremos que elas sejam o que nunca puderam ser. Letras fixas. Frases imóveis. Interpretações abertas. Frases performativas. Não.....

2008/06/26

Mónico Leu o Whisky


Melena cor de chumbo,
pôpa, mulher, pôpa,...
e um pinguinho de condicionante,....

Saia com baínha,
que íman com ladaínha!!!
Nódoa, mulher, nódoa,

Transparente, em azul,...
Nódoa que joga na névoa,
com rimas de mau prestador,...
Serve-o, mulher, serve-o,...

Conselhos:
Pedra-pomes,
Pensos,
Gravilha,....

Joelho sofre,
carteira ganha,
honra?....

Como tremoços ao pequeno-almoço...
Nunca palmadinhas nas costas.....

2008/06/25

Apocalipse dos trabalhadores



o apocalipse dos trabalhadores,
é hoje com menos requintes,
e amanhã a esperar trâmites correctos,....

desnudadas árvores de pão,
que não são,
esculturais selhas a transbordar de tinto,
que nunca foram,....

é nosso este apocalipse,
quando como um sonho faz comichão,
e acordamos a esperar que ele exista,
mas só amanhã,....

o apocalipse dos trabalhadores és tu,
mas não sou eu,
porque nunca se fez mal,
com quem joga às cartas com o bem,....

desnudada revelação de fim,
foi este o apocalipse dos trabalhadores,
sintonizem calma com
dois,....

corações.....

Comoção


e eu que me comovo,
só por ver homens bons
de insulto a reconhecerem
impropérios como ajustes,...

como um escuro mais profundo
de se comer na noite em que
a vida desfaz o que se desfez
e desconjunta o que perfaz somas
desnecessárias,...

e eu que me comovo de mais
quando um zangão pousa
no ombro do velho que vive
de repreensões,...

o tal senhor do café que
quando aparenta desmotivação
prende-te com resguardos
de ódio,...

a tal criatura desprezível,
a que nunca primou por
simpáticos redondéis de
criatividade,
e de repente,
bolsa amor....

e eu eu que me comovo
simplesmente por respirar,
desnatada conferência de
tropismos contrários ao
sentir de solavancos feito,...

e eu que me comovo,
por o que resta do lúpen,
pelo que fica
da chuva práxica....

2008/06/24

Quarto em crescendo



se contas de novena existissem, quocientes de tosquice restariam. No país dos matemáticos, ninguém ousa desmentir a racionalidade. O sol nasce sempre do mesmo lado do céu que, recortado, desvenda um anoitecer trigonométrico. O quadrado da hipotenusa da alma das pessoas, é sempre inferior ao resto zero dos sonhos que ficam por cumprir. No país dos matemáticos não há dinheiro, porque divisa é o beijo que o prior dá ao seu acólito. Muito menos existem empréstimos. Tudo o que se quer de prático, só se sonha. As coisas acabam por acontecer, mais ou menos quando o sol se põe.
No país dos matemáticos, há um eminente déspota que dorme em subterrâneos instáveis. Gosta de saborear felizes ideias tanatológicas. Coisas indiscritíveis, e que nem uma equação consegue apreender. No país dos matemáticos, as pessoas nem se atrevem a dizer olá. Apenas meneiam a cabeça, e sorriem. São sinais indiscutíveis de simpatia
.

Discurso de um louco IV



de espelhos frígidos, que transmitem menos de dois impulsos tântricos por minuto. Sobre tudo fala a substância do homem consternado.
Choverá em menos parcelas de tempo, o vento queima almas que morreram do avesso e da frente.
E o homem consternado arrepia caminho em solo pegajoso. Desnudado, dos intentos para dentro, está travestido de misógino. De criatura que desnorteia a criatura que cria, e sossega a criatura que destrói. De prurido, ferida vazada com um tiro de desnorte puro.
Só redigindo a loucura, o homem consternado apreende a enfabulação. Ponto um, porto inseguro. Ponto dois, já se quedaram desfeitos princípios inalienáveis de postura....

2008/06/22

Reformados



não somos tão poucos assim
que nem nos reste discernimento,
sôfrega batelada de nada é o que é,
depreendo que nos reste o
arrastamento pelos bicos
das mesas de esplanada,
a mirar tetas,
a mirar cus,
seremos poucos
quando fecharem as
ruas do sofrimento neoplásico,
meninos de ranho fácil
ganharão nesse dia,
as esquinas melancólicas
serão balizas dos vossos berlindes,
lençóis brancos amarelecidos,
sim, irá de assoar nesses trapos
pois as velhas desleixadas merecem,
até lá,
seremos cada vez menos,
os senhores de clemência
misturada com fortuna,
as almas centrípetas que se
portam pior que gatos em lutas jónicas...
com os próprios rabos,
em suma,
os controlos remotos de fugida,
(epitáfio de punheteiros, na minha linguagem)
para o fim ficam os sonhos,
nunca feliz soma de nadas,
é como os chamo,
odeio-os.....

Risível

E pedir o risível, nos limites. como outrora se gostou, e na medida do que pedimos para menos entender. Só medida do lamento de ouro. Da chuva que incendeia o que soubemos serem almas, mas hoje são féretros. E aceitar o risível, quando sorris para notar ao mundo que somos desfaçatez. Que rolei no esguicho do amanhã, simplesmente por
...nunca me achei em confusão como este desvendar acirrado. Talvez por bem, talvez por mal. Nunca por faltar movimento ao querer.