Lamento o que de despojado uma terra possa ter. Só peço comprometimento radical, parelha com o tempo. Que o tempo possa sentir que é desejado pela alma de uma terra que tem o tempo a correr em veias que são feitas, elas próprias, de tempo.
Por isso odeio quando se parte. Os trampolins para um desfiar de esperanças contidas em ilusões, são terríveis. As esperanças deviam morrer. Deixar de ser pedaços de azul, em paisagens cinzentas, vistas por olhos deprimidos.
Por isso, serei talvez o guarda-nocturno. O que vê passar a carroça, e brinca com o cão que tem dois minutos de vida, e prefere passá-los a ser acarinhado do que numa busca última pelo osso da salvação. Não arredo pé de chuvas de amor, porque sou a pinga que falta para o romance entranhar. Gosto de me ver em pedaços de sempre, encravados no pombo que é apedrejado pelo vândalo.
Gerações espontâneas, nunca. Talvez doenças que crescem ao sabor do tempo que não olha para trás. Brisa, enlatada pela evolução, e que se solta em solturas periclitantes.
De presentes adquiridos me alimento. Recuso esperar pelo dealbar do sol, quando sei que ele acorda, todas as manhãs, esfusiante. Adormeço tranquilo, porque a intranquilidade não presta.
E com sonhos de choro teatral, alimento-me à noite.
Porque sim. E dizer não, são duas palmadas no que me resta para o gólgota da santidade.
2008/05/02
Guarda-nocturno
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