O encontro não tinha local marcado. Tinhamo-nos proposto a conquistar o espaço entre o desejo e a irresponsabilidade, e isso poderia ser feito em qualquer lugar. Havia chuva. Muita chuva que caía a um ritmo desconcertante, tamborilando no metálico daquele mundo que tu e eu renegariamos, à primeira oportunidade. As ruas estavam vazias, com o vento a tomar as vezes do fantasmagorico das pessoas. Saimos de casa mais ou menos à mesma hora. O sol queria, sem poder, furar o concentrado das nuvens que cinzelavam aquela parcela do real. Do meu lado foi um percurso calmo. Ponderado. Sentia que não havia pressa, porque provavelmente, quando partilhassemos o mesmo canto do espaço, o tempo passaria a ser nosso. Coisa que não tinha acontecido até aí. E havia tanta coisa que sentia ter de captar. Para te descrever em frases longas, com a polpa a escorrer. Cheia de silêncios bem posicionados, e amor sorrateiro, tímido em mostrar-se. Chegado ao local combinado, senti que já nos sentiamos um ao outro. Um bebado sem destino passou mesmo ali perto, com a sua própria maneira de tentar segurar o mundo. E pareceu dar-me a paz que precisava para cruzar o meu olhar com o teu. E foi bom. Sentir finalmente que era no não verbal, na segurança quente e dissecada do toque, do sorriso, da virtude profunda de um mundo partilhado, que me sentia bem. Contigo...
Tirado daquiundo (1994)
Realizador: Shunji Iwai
Uy que lindo. Te mando un beso.
ResponderEliminarUn beso tanbien 🙂
EliminarAwesome! Oh, those well laid plans. Still, pacing is everything. All the best to your writing💕💛💕💛
ResponderEliminarEpic and beautiful! Lovely short! 🌈🌸🧁
ResponderEliminar:-) thanks
EliminarAdoro estas pequenas histórias!
ResponderEliminarAinda bem 🙂
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