2022/02/04

Um dia gostava de saber escrever assim

 

nuno júdice / fevereiro

 
 
A fotografia obscurece o fundo;
nenhum dos sinais do princípio me traz
o conforto de ser, nem
abre a última porta, por
onde passaram os exércitos da noite.
Mas vejo melhor: e
descubro-te, a um canto,
debruçada da varanda – como
se espreitasses o mar verde da memória,
ou procurasses a própria definição
da água, entre o azul
e o negro.
É, de facto, a cor
dos teus olhos,
como a lembro. Encostavas-te
à parede branca, contra
o sol; e a luz não te atravessava
os cabelos com que protegias
o rosto.
 
Desse fundo de minúsculas
particularidades, a tua presença é
a mais evidente. Deixo que
a sombra desapareça de toda a parte,
da parede até ao próprio horizonte; e
é como se saísses de dentro
do tempo, e nos entrássemos,
por instantes, sob um céu de nuvens esburacadas
como as tábuas comidas
pelo sal.
 
 
 
nuno júdice
a fonte da vida
quetzal
1997

12 comentários:

  1. Gostar de escrever assim, é um passo em frente para alcançar o objetivo.
    Obrigado pela partilha de tão belo texto.
    Abraço amigo.
    Juvenal Nunes

    ResponderEliminar
  2. Sinceramente, não noto muita diferença entre a poesia do Miguel e a de Nuno Júdice.
    Lá chegará, se é que não chegou já!

    ResponderEliminar
  3. Dois poetas talentosos e apaixonantes!
    Os dois brincam com as palavras e o que vemos é poesia.
    abraço, M

    ResponderEliminar
  4. É bonito. E escreves, se quiseres.

    Olha que gostei muito desta prosa aqui, que acabei de comentar: https://paginaspartilhadas.wordpress.com/2019/04/08/pisca-um-cursor-por-miguel-curado/

    ResponderEliminar

Acha disto que....

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