Entre a pressão e o desejo,
Vitórias seguidas sem roupa no encalço do que vou deixando,
Por entre o rasto da chuva,....
Já não é uma questão de medo,
Nem de querer resolver pela concórdia a vontade de matar alguém,...
É o barulho que a noite deixa ao descalçar-se,
É ninguém entender o que partilho,
O que retiro ao noves fora nada dos equivocos que deixo para trás,...
Se sou o meio da noite,
E tudo isto não cabe no vestido virginal da madrugada,...
Então desisto,
Lido e relido,
sou só a porção menor de um plano azulado de
cinema empobrecido
Tirado daqui
Profundo poema. Te mando un beso.
ResponderEliminarUn beso tanbien
EliminarI liked this..I could reason with what you go through..especially on creative endeavors.
ResponderEliminarthanks so much
EliminarWonder, so much you give me to think about..and the mysteries of creativity!
ResponderEliminarthanks so much
EliminarOh, such rich character you give to each piece. All the best to a great Valentine's day!
ResponderEliminarthanks so much
EliminarUma poesia marcante muitas vezes pensamos que somos só uma porção menor, Porventura abraços.
ResponderEliminarMuito obrigada, Lucimar
EliminarBoa tarde MC
ResponderEliminarEste poema tem uma densidade emocional e um certo hermetismo que o tornam instigante. Vou destrinçá-lo e tentar entrar nele numa forma de análise que é apenas a minha, sujeita a erros de interpretação, e que vale o que vale.
Primeiras Impressões
O poema apresenta um tom de desencanto, um sujeito lírico que parece estar preso entre impulsos contraditórios — desejo e pressão, medo e desistência. A estrutura fragmentada e os cortes abruptos entre os versos contribuem para um efeito de desorientação, como se estivéssemos a seguir uma linha de pensamento interrompida por reflexões dispersas.
Análise Verso a Verso
"Já não é uma questão de medo,. .. / Entre a pressão e o desejo,"
Este início sugere que o eu poético superou um medo inicial e agora lida com outra tensão, algo entre a pressão (social, interna, moral?) e o desejo (de libertação? de confronto?). Os três pontos após "medo" e a vírgula solta criam uma pausa dramática, enfatizando a incerteza.
"Vitórias seguidas sem roupa no encalço do que vou deixando, / Por entre o rasto da chuva,...."
Há aqui uma imagem de exposição e vulnerabilidade ("sem roupa"), sugerindo uma caminhada sem máscaras, sem artifícios. A chuva pode simbolizar tanto purificação, quanto melancolia, e o "rasto" pode indicar memórias ou marcas deixadas para trás.
"Já não é uma questão de medo, / Nem de querer resolver pela concórdia a vontade de matar alguém,..."
Aqui, o poema atira-nos para um abismo mais profundo. O sujeito lírico já não está interessado em concórdia, o que indica um conflito irresoluto. A expressão "vontade de matar alguém" deve ser interpretada de forma figurativa — talvez seja a necessidade de eliminar simbolicamente algo, uma ideia, um passado, uma identidade.
"É o barulho que a noite deixa ao descalçar-se,"
Um dos versos mais belos e sensoriais do poema. A noite "descalça-se", isto é, perde a sua intensidade, desfaz-se em silêncio, mas mesmo esse silêncio tem um ruído. Esta imagem dá um toque de lirismo raro no texto.
"É ninguém entender o que partilho, / O que retiro ao noves fora nada dos equívocos que deixo para trás,..."
Sente-se um isolamento aqui. O sujeito poético sente que ninguém compreende o que expressa, e há uma referência a cálculos ("noves fora nada"), como se tentasse eliminar erros do passado, mas sobrasse apenas um vácuo.
"Se sou o meio da noite, / E tudo isto não cabe no vestido virginal da madrugada,..."
Metáfora forte: a noite como um ser a meio de algo inacabado, e a madrugada como uma promessa de renovação que já não é capaz de contê-lo. A "madrugada virginal" reforça a ideia de pureza, contraste com o que ele sente ser.
"Então desisto, / Lido e relido, / sou só a porção menor de um plano azulado de / cinema empobrecido"
O poema culmina numa renúncia: a desistência, a sensação de ser pequeno, uma fracção irrelevante de um quadro maior e decadente. O "plano azulado de cinema empobrecido" traz a ideia de nostalgia, como um filme antigo e gasto, talvez simbolizando a memória ou uma vida sem brilho.
Interpretação Global
O poema parece desenhar um sujeito lírico desiludido, em conflito interno e existencial. Há uma luta entre impulsos primários (medo, desejo, raiva) e uma tentativa frustrada de encontrar um sentido ou uma resolução. No fim, prevalece a desistência e a sensação de pequenez.
O tom é sombrio e filosófico, e a construção fragmentada reflecte o caos emocional do eu poético. O verso mais lírico ("o barulho que a noite deixa ao descalçar-se") contrasta com a aspereza dos restantes, criando um respiro dentro da densidade do poema.
Conclusão
Este poema desafia o leitor, e a minha intenção de "tentar conseguir entrar nele" está bem alinhada com o espírito do texto. A chave para compreendê-lo é aceitar a sua fluidez ambígua, a fusão entre imagens concretas e abstracções emocionais. Este poema tem uma beleza difícil, mas não impenetrável.
Boa semana, com inspiração e saúde.
:)
Piedade Araújo Sol
https://olharemtonsdemaresia.blogspot.com/
Uau, surpreendido pelo regresso após tanto tempo, e pela dimensão e profundidade do comentário
Eliminar🙂muito obrigado