2022/05/14

Um dia gostava de saber escrever assim

 

miguel torga / desfecho

 
 
Não tenho mais palavras.
Gastei-as a negar-te…
(Só a negar-te eu pude combater
O terror de te ver
Em toda a parte.)
 
Fosse qual fosse o chão da caminhada,
Era certa a meu lado
A divina presença impertinente
Do teu vulto calado
E paciente…
 
E lutei, como luta um solitário
Quando alguém lhe perturba a solidão.
Fechado num ouriço de recusas,
Soltei a voz, arma que tua não usas,
Sempre silencioso na agressão.
 
Mas o tempo moeu na sua mó
O joio amargo do que te dizia…
Agora somos dois obstinados,
Mudos e malogrados,
Que apenas vão a par na teimosia.
 
 
 
miguel torga
câmara ardente
1962

8 comentários:

  1. Não conhecia este belíssimo poema e, adorei!!
    A poesia de Miguel Torga é clara e cristalina, o poeta/escritor/médico, encontrava sempre as palavras certas para definir o que sentia.
    Não rebuscava palavras, não se fazia inacessível.
    Gostei muito, mas lamento dizer-lhe Miguel, o seu estilo de escrita é totalmente diferente, pelo que jamais irá escrever assim, como Torga escrevia.

    Um abraço.

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    Respostas
    1. Olá
      :-)
      Bem vinda de volta.
      Eu sei que não. Não tenho nem sequer o talento necessário para poder almejar a escrever como Torga. Por isso, sei que nunca vai acontecer. Mas posso sempre tentar sonhar com essa possibilidade
      :-)

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    2. Claro que sim, não só sonhar como tentar!
      Dentro do seu estilo de escrita o Miguel pode sempre tentar dizer o que sente, sem floreados nem palavras 'esquisitas'. :-)

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    3. Lá terei que me reduzir a isso:-)
      Obrigado pela presença

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  2. É um belo poema!
    O tempo mói na sua mó e esfarela tudo em que toca... e o pó dos dias vai-se assentando em nós sem piedade, tornando-nos empoeirados por vezes e outras, pelo contrário, desempoeirados demais.

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