2020/01/05

O tempo dobra

Se chovesse ainda hoje, talvez tudo viesse a acabar como devia. Com a consciência limpa, e a certeza de que não havia mais nada que fazer naquela rua. Afinal, todo um silêncio parecia embeber em éter a profissão de fé que tinham sido aqueles pequenos poemas escritos em papéis soltos, que depois ficavam esquecidos nos tampos das mesas do mesmo café. E que tinham o mesmo destino dos lenços de papel áspero onde limpavas os teus lábios de carmim colorido, e a mim me serviam para manter controlada esta barba irrequieta que teimava em querer não cortar,..
Mas veio o sol.
Primeiro descalçou um pé de algumas nuvens, depois pontapeou o vazio de azuis inquietos,...
E gritou mudo quando a terra já dava aquela valsa de milhões de anos por mais uma vez.
E tudo ficou sem explicação. As árvores não sabiam como permanecer anónimas, dançando em extravio aparente de ideias e sentimentos. Os bêbados funcionavam como números soltos de uma matemática sem retorno que parecia ser a desordem do que antes tinha sido conhecido. Desenhava-se a culpa quando a culpa parecia já ter perdido o lugar nas hesitações humanas daquele lugar.
E a nós restou-nos voltar. A frase foi a mesma do primeiro dia.
Desculpa por não me mostrar como devo,...
E houve retorno do que escondido talvez tivesse ficado quando nos despedimos pensando nunca mais desenhar qualquer regresso



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