2019/11/20

Quis ir mas não foi

ao jumento do
fim de tarde,
o homem atrelava-se,
temprano,
relinchava impropérios,
com a pinga doce
a pintar-lhe as veias
de arco íris,
subia as mesmas
ruas de sempre,
e em duas vezes
escorregava pelo vómito,
levantando-se sempre
antes de o corpo
apagar o suficiente,
para cair numa cama de hospital,....

 a todos lavava a
alma com desprezo,
fitava o pôr do sol,
esperando que fosse
o último,
mas havia sempre
mais um,
e outro,
e mais outro...

 tudo acabou com uma
decisão de dez réis,...

ia dar cabo da vida,
e fá-lo-ia acompanhado,
juntou o jumento,
e mais um cão,
e dois gatos velhos,
e todos os patos que alguma
vez quis matar e nunca teve coragem,....

e deitou-se no pelourinho
da aldeia num dia
de borrasca de neve,...

na manhã seguinte
 ainda lá estava,...

mas os bichos estavam
como haviam de ir,
congelados....

ninguém quis mais
pensar em maneira
de resolver este embrulho


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