2020/07/31

Grande poeta


o grande poeta,
jogo de espelhos,
dá-nos folga para pensarmos
mais além,
recolhendo os espinhos,
a dizer que sim,
que talvez,
mas porque o não mata a vontade
de criar,
refugia-se no som,
na degustação do silêncio feita barulho,...

este grande poeta não tem idade,
nem identidade,
soma-se a tudo o que pode insinuar,
deslindar,
e perfaz o tempo suficiente do
descrédito,
simulando uma perfeita renovação,
sem que voltar ao início,
seja solução,
para matar,
e renascer

2020/07/30

Ghost writer


segue o texto com emendas,
desiquilibrado,
reconheço,
mas arrumado o suficiente para criar
alojamento,
sítios onde existam personagens que 
reflitam no mal,
mas também pensem bem sobre as 
ações por concluir,
que deixam as pessoas felizes,
e o leitor anunciado para uma 
reconversão de sentimentos,...

se não gostares,
burila a indecisão que eu sei que
demonstro,
recomendo que deixes pássaros aninhar-se por
entre os teus braços,
e depois refaças tudo,...

quero um princípio de obra que desnivele
as pessoas o suficiente,
até se encontrarem

2020/07/29

Rima solta

Dez reis para a meia hora,
Sol de quê,
Fico de fora,...

Ao menos que subamos,
De forma astuta,
Sem rodeios,
Na praça nada é o que esperamos,...

Se de mim esperas sentido,
Respondo-te assim,
Defendido,
Sem esperar a luz do pranto,...

E ao longe a frase feita,
Da qual fujo,
Com a voz liquefeita,
E que do nada já não construo


2020/07/28

Meio copo

Parecia agora entender que o perdão cabia à justa em meio copo,
Todas as pessoas se revoltam com pouco,
Todos não sabem o que fazer com muito,
Mas ninguém adjudica algo de certo perante meio abraço,
Meia hesitação,
Parcelas fantasmagóricas dos que estão quase no caminho próprio,
E depois falham,...

Em meio copo a frontalidade dissipa-se,
E tudo fica mais bem percetivel à sombra,
Escondido da eletricidade que descai das imperfeições das pessoas,...

De um sorvo abraça o que lhe resta,
E sai,
Sem certezas de que as coisas se poderão repetir porque sim




2020/07/27

A gerência do Inatingível celebra o aniversário hoje, mas festejou a 11 de junho

Parece um absurdo mas,
De braços alinhados,
Haveria ainda margem para o erro,
Sonhavamos todos o mesmo,
Apareciam os mesmos inconseguimentos às mesmas pessoas,
Em suma o irreal era palpável para todos,
Ao ponto de nunca mais a lonjura se assemelhar a um monstro,...

Os restos de civilidade eram acomodados debaixo de terra,
E as pessoas partilhavam experiências más,
Como se a razão se jogasse igual à bola mais escondida dos cantos do mundo,..

O papel de sacerdote coube ao moribundo,
De alma encomendada arrastou os pés pela lama azulada,
E acasalou com o luar até nascer um sossego comum para todos,...

A felicidade anotou provérbios nas mãos dos presentes,
E o tempo acabou como se a rotina se enegrecesse,
no sol que já despontava




2020/07/26

Ao lado do silêncio

estou no dia de hoje
como numa poesia,
não tolero discordâncias,
as minhas reposições
de suor cabem em poucos
argumentos,
só mesmo nas
frases curtas do desinteresse,....

a poesia abraçou-me
porque sim,
não encontro
outra explicação que
não a básica,
a que não faz pensar,...

não sou pessoa
que se vista para equivocar,
muito menos para
alumiar essa noite de
que tanto me falas,...

sou o que escrevo,
mas não escrevo tudo
aquilo que sou,
deixo-me arrastar
para que a poesia
faça de mim o que quer,....

e pronto,
acredito só em metade
do que me dizem,
devido a uma incredulidade
doentia


2020/07/25

A gerência do Inatingível sente-se apreensiva. Motivo? The big 44 is coming....


Som dissecado

o som da voz,
de contornos efetivos
desenhados pela traqueia,
a frase certa no
movimento gasto pelo cansaço,
num mundo de silêncio,
o afago que um murmúrio
só por vezes, consegue dar,...

e ela a repetir
apelos à luxúria,
como se fosse a sua natureza,
fazia-o com palavras
a agarrarem-se à pele,
desvendando nervos,
tendões,...

e rastejava de
ossos à mostra,
aos olhos molares
do desdém de qualquer um,
até chegar à parcela
solta da mudez,
que o mundo tem mas
esconde,....

lá a regeneração
chegava,
sob a forma
de uma flor,
com que desregulava
os cheiros e vícios do corpo,
e tudo recomeçava



2020/07/24

Conto raso

Uma noite que sentia como aqueles adesivos incómodos que se punha antigamente, antes de se ir para a praia. O sol ia descansar no horizonte, e a pele estava normal.
 Os primeiros urros de coruja, as que são meio de cidade meio de campo descrito num conto atravessado de alentejano, com a planura do escuro a assentar, e a pele já tapada com aquele picotado. Diziam que era para que respirasse, mas sentia-se sempre um sufoco a vestir-se por nós dentro, quase como se de um casaco dos nossos velhos estivéssemos a falar.
E os olhos semi cerravam. Como se fosse o convite que recusava. Como se a minha mãe ainda chamasse para ir tomar banho, e eu a começar a pensar que gostava de poder sair ainda mais sujo do que estava. E ouvi-la, ainda tão presente, a dizer-me para despachar. Porque havia pessoas à espera, porque o meu pai devia estar a chegar do trabalho, e havia um jantar para comer. E sentir-se a mais, com uma pele a começar a borbulhar. O passado pesa tanto nestas ocasiões. Pesa o que se espera dele, e o que haverá de crescer por entre os espaços que ele deixa.


2020/07/23

Tumblrando poético


https://akkiejkx.tumblr.com/post/612501475629875200/antonio-gregorio-%C3%A0s-vezes-sabes-sinto-me

Desejo de um esteta


não haveria nada de novo,
esperava-se talvez que o passado
respondesse com o som,
mas nada acontecia,
a firmeza era a suficiente de um
argumento,
e eles esperavam acomodados,
com medo de nada e de tudo
ao mesmo tempo,...

para que o registo da fatalidade fosse
efetivo,
as inocências de afeto teriam
de ser resolvidas,
as desprezíveis inconsequências
de uma ideologia fratricida,
eliminadas,...

talvez aí pudesse surgir
o belo,
o desejo de um esteta,
a pintura insuficiente
da minha alma,...

antes disso só a previsão,
e a demora

2020/07/22

Ladaínha apócrifa


a poesia que me proporcionas é fácil,
não tem idade,
nem princípios morais que a condicionem
à verdade,... 

gosto disso,
de não ter desafios que contornar,
sabendo que o desafio é o que falta
para que a mensagem desmaie,
e a provocação surja,...

por favor se me ressurgires como
ladaínha apócrifa,
tudo isto mudará,
e serei forçado a alterar uma
opinião com que me sinto bem