2019/08/14

História de final indefinido

...só sentia saudades de contar uma história de final indefinido. Por isso sentei-me no degrau de entrada da minha casa, eu que de forma tão marcadamente irresponsável moro no campo, com a frontaria da minha habitação escondida por copas de árvores que de tão velhas, já cruzaram destinos, aguardando a morte de abraços fechados.
Inventei um homem de meia idade. Sozinho, desmazelado, que gostou de ler mas agora perdeu a vontade de impedir os neurónios de morrer. Não lhe dei nome, porque as pessoas sem futuro não têm nome,... perdem-no ao primeiro desgosto forte que os abana tanto até cairem. Não alimenta expetativas sobre nada. É assexuado, por razões que não explica.
Enchi um copo de vinho branco, quando chegou a altura de lhe moldar os pensamentos. Acreditava numa sociedade sem exploradores e explorados, porque o pai lhe tinha dito que isso era bom... Mas nada mais... A política deixava-o deprimido... Um dia conheceu uma mulher perdida. Tinha-se esquecido do caminho para casa, porque não tinha ninguém à espera... Era um dia de Verão menos quente que o habitual....


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