-Este é o teu prémio!
A forma como foi dita a sentença, obrigou o grupo a temer pelo futuro próximo. Esta afirmação saiu da boca de um homem que começava a perder o controlo. O ambiente era esconso. Uma sala escura, com um fio de luz que serpenteava tímido, até apunhalar os olhos de quem já sentia falta da liberdade.
Sentia-se a chuva. O que a chuva deixa de saudades quando acaba, e dá lugar ao cheiro da terra molhada, estava tudo ali no ar. Pronto a ser apanhado.
O receptor do prémio deu um passo em frente. Era um homem magro, com uma cicatriz imperceptível debaixo do olho direito. Apertou a mão ao 'premiador', ajoelhou-se, e começaram ambos a rezar. Falava-se de deuses mortos. De prestações ainda por pagar relativas ao fim do mundo. De desenhos imperceptíveis que escorriam de uma parede própria em cada cidade de todos os países com homens tementes à religião.
De um só golpe de faca no pescoço, percebeu-se o destino do breve felicitado. Começou com um fio, e depois um pequeno riacho, até que golfadas de vermelho começaram a escorrer pelo chão da sala.
Parou de chover. Absolutamente, tudo se imobilizou em redor da ideia de que tudo tem um fim. Antes até de se perceber porque começou.
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