As pessoas entravam. Ninguém reparava no sentido menor das dúvidas. E cabiam nos nós dos dedos, pequenas porções do sangue invisível que as paredes falavam naquela sala. Diziam de tudo, sobre a infelicidade pintada da vida que ninguém consegue explicar. Eram muitas, sendo só uma. Todos queriam o mesmo, pensando que seria mais coerente deixar paralisar a roda viva do mundo, deixando-o flutuar. Pessoas de fé. Gente correcta, com o que de correcto tem a vida aos solavancos na perspectiva das crianças a sorrir antes de chorarem. Do muco invisível que sai do último suspiro antes da libertação final.
Falei com ninguém, conseguindo partilhar tudo, com todos.
- Sou o Sol
reconheci para o mais velho dos velhos que ali, a conta-gotas, desaguava.
Respondeu-me com a lua que, corporeamente, se assenhoreava do céu moldado a cinzento que se despegava do dia. Apontava para os contornos irregulares daquela forma branca que conseguia apagar de todos o sorriso normal do que parecia ser o cumprimento efectivo de um objectivo de vida.
- Sou o sol, já disse. E quero respeito
senti-me assim, o mandante das coisas findas. Nada do que alguma vez escrevi faz sentido. Muito menos consigo falar . Resta-me apetecer mandar. Efectivamente ordenar, sabendo que ninguém vai ouvir-me. Mas acabarei este relógio feito dia, pensando que o consegui simplesmente por estar aqui. Mesmo a sentir o sangue a retornar, imparável, para dentro das minhas veias de onde escapou.
Gostei!
ResponderEliminarSou o Sol
Quero respeito!
Eu respeito e gosto da sua escrita desassossegada e cheia de mataforas.
Beijo
:)