2021/12/31

Último dia de vida, Inatingivel 2021!!!

os livros que não queria ler estavam
dispostos na mesa,
sangrei com demasiados saramagos
para os considerar,
rimbaud era sexual para mim,
e dostoyevski,
trilhei um caminho para fora
da sanidade com ele,...

comi um pouco,
com o sol a aquecer-me o espírito,
enquanto entrava por uma fina fresta
de tecido de reposteiro,
e levantei-me,
os livros continuaram dispostos na mesa




2021/12/30

Inatingivel 2021, you're about to die!!!

quando digo o meu nome,
a perceção de um acabar
traduz-se no mar,
o teu caminhar por
entre o definhar suave
das ondas,
e a minha voz emudece,
um entorpecer que sobe nos ares,
e confunde-se com a loucura
aflita das aves,
que vão e regressam das casas
imaginárias que deslizam pelos penhascos,...

será a inexistência de
uma alma,
o que me prende a
este entardecer sem data
e poiso definido



2021/12/29

Sentir de náufrago

 


Eu sonhei com o mar,

Parte cativava-me as veias,
Outra fazia o cerco da morte nos meus olhos,...

Com sentir de náufrago,
Perdido ajudava as ruas num lamurio sem cores,
Que normalmente antecede as noites,...

E ao acordar,
Foi o dia eterno nas imperfeições da tua pele,
Que me disse as horas certas para a felicidade

2021/12/28

Estas mãos


 Talvez a razão pela qual eu sobrevivo sempre,

Sejam estas mãos,

Ao vento elas perdem a cor de mentira,

Com que foram criadas,

E há uma novidade ao sol,

Depois desta revelação,...


Perco a idade,

As dúvidas,

As memórias até de como fui nocivo para os outros,

E sobrevivo,...


Não preciso de mais vidas anónimas,

Como as que me foram dando 

2021/12/27

Escrita de arte

 Um pequeno texto escrito à moda do

Desespero,

Haviam mulheres inofensivas,

A clamar por justiça com os filhos

Dependurados no cós das saias,

E os homens afastavam-se a passo

De novelo,

A quererem mais e mais,

Longe dali,…

 

Tantas crianças ansiavam,

Na dobra das páginas,

Como que a pedir por um desfecho honrado,

E acima de tudo anónimo,

Um pequeno texto insolvente,

E com laivos de honra inaudita



2021/12/26

Nova recitação do verbo saber

 se eu sei,
aparecem sinais invertidos
de amor no céu,
há um horizonte anulado,
uma brisa de velocidade
itinerante,
que penetra as árvores
e as desvirgina silenciosamente,...

talvez já soubesse,
mas agora,
consolidado este caminho
em que algures,
perderam-se as referências
do amor,
digo para mim
o óbvio,
o tempo odeia-me,
e eu retribuo a vontade
de morte


de: Pablo Neruda (2016)

 


sabe-se


mas sabe-se,

tão bem como a sujidade da água,

o que contribuo para haver letras menos

sinceras que o amor,

sabe-se que há uma conta de subtração,

e uma legislatura de enamoramento,

do silêncio amarfanhado,

e deixado como resto de um dia

acintoso,...


sabe-se que tudo isto já

deu frutos,

menos impressivos que a luz,

sabe-se, 

talvez menos que a dor

2021/12/25

2021/12/24

Natal desabrido

 

A gargalhada nervosa faz-me suor,
Como se imaginasse que não havia muitas regras,
Quase só escrever sem pontuação,
Um pouco de sexo sem compromisso antes do anoitecer,
E haveria sempre outro dia depois de uns uivos de iggy,
Com a sexy dispensa da razão antes de abdicares de tudo,...

E agora,
Assino por baixo de qualquer coisa que queiras,
Já não tenho força para sequer ter um nome que seja meu

2021/12/23

O inatingivel nascia há 14 anos, com o parto possivel..

Inatingivel 2021: Monta-me: As letras eram bem desenhadas. Perfeitas de mais. Um preto afirmador parecia realçar cada curva. Sete letras, e um tracinho pelo meio, escri...

Quadris em forma de criação

É proibida,

a anotação de irrelevâncias,

no teu corpo,

como que uma sombra,

perfeita feita pelo sol, 

com os mesmos seios irrelevantes,

os quadris em forma de criação,...


lá ao fundo,

cigarros fazem de vagalumes,

e mesmo que desse para refletir sobre

o problema da memória,

já não cabem falhanços neste quadro



2021/12/22

Nota musical de abandono

 


Seria meu,

Nosso,

Esse brilho espalhado por pegadas semi cravadas no areal molhado,

Das que deixam música,

E até uma vida própria por serpenteares flamejantes,

Em todas as praias de final de Verão que já conhecemos,...


Por isso a lactancia,

O desejo despido de voltar ao início,

Para que tudo recomece em nota musical de abandono 

2021/12/21

A folha onde choro e escrevo

 


soube quando estava de 

pé, 

e tudo rebentava à minha volta, 

o próprio som rebentava, 

e dava lugar a um silêncio 

insinuante, 

sob tantas formas 

de fémeas que por aqui 

se arrastaram, 

até o tempo ser a lama, 

que nos atasca os artelhos, ... 


e a forma do que resta, 

o terreno incerto, 

onde temos medo de pôr 

os pés, 

vai cedendo,... 


acho que lá no 

núcleo do ser, 

está a folha onde 

choro e escrevo

2021/12/20

Sexo de deitar fora



o que sei de ti,

está na forma como me 

puseste contra eles,

não chegámos juntos a esta

transversal,

e com a sabedoria ensaguentada

nas órbitas de quem nos olha,

para tudo acabar,

com as mãos para baixo,

e uma desistência de autor,

insuficiente para que a roupa permanecesse

nos nossos corpos,

e este sexo de deitar fora,

pudesse ter valido a pena,...


o que sei de ti,

é pois menos do que o que

me recuso a transcrever,

na tua pele

2021/12/19

Saudade reconvertida

 Olho para as mãos de sempre,

com os olhos de todos os dias,

e a pele desfaz-se, 

em gomos de laranja apodrecida,

tudo parece falsear o real,

e por mim passeia a invisível dissenção

da estranheza,...


com tudo a saber a refúgio,

e nada mas mesmo nada,

a poder salvar-se da mesma forma

que morreu,

no segundo anterior,...


quase como se falássemos de um documento

secreto,

assinado com nove letras,

que juntas escorregam pela encosta

abaixo,

e só lá longe se significam,

num grito de saudade




2021/12/18

Texto escorrido

 a história está escrita à velocidade que pensámos. Com os cueiros de um novo recomeço. Tem a perceção de um mundo novo. Com homens infelizes que se atiram ao mar sempre que ele renasce da seca, com que nos habituámos a viver. Há mesas fartas, imaginárias, repletas de pão das mais diversas formas. E sabores. E contextos. A bebida é a que o nosso espírito sempre anseia. De cores pútridas, com sabor a mel de todas as abelhas assassinas do mundo. Dei-lhe as páginas que merece. Sem ser excessiva, está contextualizada no estilo amorfo que sempre me caraterizou. A novena dos fins previstos. Dos reflexos condicionados daquelas mulheres que só se encontram mesmo entre as páginas amarelecidas de livros, ao fim de décadas de nos ter chegados às mãos. É assim. Quis este texto monolítico. Sem saída. Sem possibilidade de nos encontrarmos no meio de tanto pessimismo




2021/12/17

A normalidade

 há pequenas coisas na normalidade,

semelhantes a um namoro de consciências,...


os silêncios pouco claros,

os gestos incompreendidos,

murmúrios que só os espíritos ouvem,

e acima de tudo,

a necessidade de luz,

aflorada sempre que duas

vontades se cruzam,

e ficam presas para a eternidade,..


por isso eu gosto do normal,

rebaixava o que me é mais caro,

só para aqui ficar



2021/12/16

O Inatíngivel foi raspar o fundo do baú. E até valeu a pena

Inatingivel 2021: A herança como 'gancho': Tinha-me fartado de explicar as coisas como elas eram. As meninas de cabelos louros penteados, com as tranças assentes simetricamente nas g...

um homem de Deus

 de um registo muito antigo,

em que o tempo cabia num virar de página

inocente,

um homem de Deus ofereceu-se à solidão,

vestia cores de água,

com o olhar de inocência já morto,

a meio dos desastres do passar indolente

das questões,...


tudo ficou para o decoro dos movimentos 

naturais,

o vai-e-vem das notas soltas da temência

a uma razão superior,

não escondiam mais que uma linha solta

de ficção


 

2021/12/15

Lacustre omnipresença de um beijo

 


Aguardo a verdade,

Entigelada,

Na esperança que o sacar de palavras das ocasiões,

Do que é inovador,

Ajude a reescrever a ausência,...


Assim possa parar de ocultar a realidade,

Com cores pastel,

Corridas inconsequentes de peito aberto ao frio,... 


E a lacustre omnipresença de um beijo,

Serve para assombrar o final desta conversa 

2021/12/14

Luz solta

a luz, 

donos do silêncio, 

a presença rejuvenescida, 

com a frase certa, 

e a pausa possível,... 


era amanhã se hoje não tivesse 

sido ontem, 

e tantas vezes disse que 

o sentido possível, 

escurecia este dia de surdina, 

mais cedo que o que se pensava, 

e se chorares, 

caso os teus olhos ofendam a presença 

da vida esgotada, 

a luz voltará, 

irreconhecível




2021/12/13

Jazz nubente

 A música mudava a cada turno do dia,

Ao longe subia o braço velho daquele gira-discos sem preço,

O prato enferrujado amparava uma circunferência riscada,

E pelo ar subiam res

Tos de jazz nubente,

Flamenco inconsequente,

Tantas e

Tantas coisas sem sentido,...


Que as pessoas se desafiavam a elas próprias,

Antes até do arrazoado da religião



2021/12/12

Uma flor sem cheiro

 


Considerava-se um homem calmo,

Sete para cá,

Seis às costas,

Números tantos que nem lhe beliscavam a pose,...


A luz ténue era casa,

Um livro fútil sabia bem,

De vez em quando,

Tudo porque ser calmo,

Era um desígnio,

Uma flor sem cheiro 

2021/12/11

As mãos em altar

 Se permanecerem em mim,

As luzes,

O que fortuitamente não foi do nosso presente,

E morreu no nosso passado,

Serão números gentilmente despenhados do mais alto daquele, 

que era o nosso mundo de todos os dias,...


Tudo soará a esperança,

Os lamentos breves dos animais que evitam o círculo da vida,

Estas linhas,

As mesmas que sempre foram para ti,

Com as mãos em altar,

Será perene mais este momento 

2021/12/10

Opereta

quando se pede para deixar

tudo para trás,

os dedos,

as inquirições,

os desejos mal medidos

de uma noite partida a meio,

escreve-se numa parede vazia,

ao embalo de uma música ainda por inventar,...


e lá ao fundo,

com contornos mal feitos e desamparados

pela névoa de uma manhã,

indiscreta de Inverno,

qualquer coisa diz que está errada esta tendência,

e é preciso reinventar



2021/12/09

Ouve-me em Paris

ouve-me,
não vale esconder
os olhos porque eles
se escondem a eles próprios,
não adianta que as mãos
avancem por entre a
cacimba tosca das primeiras
horas de qualquer dia,
porque a noite vai seguir-se,...

nada adianta,
porque há sempre
um medo mal vestido,
dois passos mal dados que
o afastam,
para depois ele voltar,
assumido de amor consternado,
assustado com as lágrimas
escapadas de uma menina
que tem muitos em vez de um coração,...

ouve-me,
não adianta contornar Montmartre,
nem procurar a Torre
nas recitações indevidas da noite de Paris,
é simplesmente inútil



Ouvir o tempo



 ouve-me quando eu digo tempo,

luz,

os dois lados de um mesmo triângulo,

exercita a lonjura de uma retidão certa,

de um desnorte escrito,

com todas as letras,

sem números,

e de sentimentos renunciados ao silêncio,...


ouve-me se quiseres,

desliga-me se o sentimento zero,

for a razão de ser do nosso conto,

da nossa falta de poemas,

de tudo o que ladeia esta serra imensa

de granítico complemento,

à dor,

que fizeste prever ao deixares este verso

de nudez,

na minha cama

2021/12/08

Falar com as montanhas

foi ali falar
com as montanhas,
roupas periféricas,
coração andrajoso,
sobrepunham-se no áspero,
ao límpido no balbuciar,
de amor,
que parecia ripostar contra
o vento,
que lançava amarras
naquele sítio inóspito,...

não tinha nome,
perdera-o quando o
último fruto lhe tinha saltado do ventre,
estilhaçando os grilhões a este mundo,...

e por isso andou,
ensanguentou os pés outrora
alvos,
e chegou ali,
não mais se pode dizer,
só ouvir,
a Terra a fecundar o
que ali restava de saciedade



Risco


À espera de que tudo seja um risco,

Delineado,

Inofensivo até,

Mas algo que se reconheça,

Nos laivos de nevoeiro que ainda restem,

Sempre que abrirmos a janela do quarto,

A meio de uma manhã de inverno,…

 

E depois se fale de banalidades,

Mesmo que seja em cima de

Um caderno de resenhas,

Onde se faça o balanço da vida nos

Momentos considerados adequados,

Tudo tem de saber a indecisão,

Se não poderá tudo resumir-se a um equívoco

2021/12/07

Fome de amor

 


Repito os mesmos aquis, 

Os mesmos alis,

Tantas e frias palavras que pululam pelo meio das anormalidades do tempo,...


A mim não me sobram razões para nos pensar como um argumento finito,

Tal e qual a última impaciência de um velho que desespera,...


E há depois a fome de amor,

Há luta quando se percebe onde um corpo cabe entre estes intervalos 

2021/12/06

Observar uma janela


 

assumindo que cada minuto é a diagonal

que conseguimos suportar,

observava candidamente aquela sacada

de janela antiga,

triângulos simétricos,

defendiam os vidros embaciados e sujos

pelo tempo,

pedaços indolentes de tecido dançavam,

à cadência de um vento inofensivo,...


estava ali por razão nenhuma,

com um selo de dispensável nas mãos,

e o desejo que os dias namorassem

comigo o suficiente,

até a volatilidade do meu ser se

tornar uma realidade

2021/12/05

Soma dos dias

escorregava,

perdia o chão,

sentia o deslize da verdade,

por entre os dedos dos pés,

e tanto frio,

que fixava a abstração,...


as contas de somar perdiam-se

pela divisão dos argumentos,

o dia acabava,

e duas pessoas terminavam a conversa

anulada,

antes da recolha da noite



2021/12/04

Planeamento infantil

 


não há paz como antes,

a frase irradiava luz,

de uma forma assimétrica por entre

as ruas perdidas,

de uma cidade que,

ainda assim,

constava dos livros que

as crianças adoravam,...


restavam os pedaços esquecidos

dos dias,

em que um tempo aquecia-se a si próprio,

quase como se chocasse vida,

e havia a tragédia,

assim a conseguíssemos definir

2021/12/02

Anotações de idade

 Arriscar não trazer aquela flor,

A mesma que foi tanto tempo o cimento do livro mais assustador,
Que tínhamos,
Arriscar perceber que tudo serão passos desnivelados,
Num chão com marcas de sangue,
E pegadas indeterminadas de pecado,...

Arriscar tudo sem anotar a idade,
Os ódios enlatados,
O início de uma nova vida,
E levar o rabisco,
Para fazer coluna,
De um novo templo de adoração,
Do ser


2021/12/01

Dezembrando a 20 de agosto

 começa com um “estive algum tempo longe daqui”. e não havia capitulares nas frases. Nem murmúrios que furassem a fortaleza dos teus lábios. tudo se pintava da cor da tua pele quando, nua, era uma fortaleza de silêncio que te rodeava. e eu ficava ao longe, como o invasor que o povo rechaça, mas secretamente deseja.

agora voltei. não tenho nome. nem idade. desfiei-me, desintegrei o meu ser em tantos livros. bebi o suficiente para não voltar a ser o mesmo em cada dia, e ter uma idade e uma experiência de vida diferentes, em cada vez que me enfrentava ao acordar. 

chamo-me anónimo, agora, com a honra que consigo carregar às costas. e tu, como te chamas? não te conheço. sinto nos ossos que me expulsaste dos teus sonhos, e revejo-os agora, frame a frame, negros como a noite que me furava os olhos, por cada janela que espreitei ao longo de todo este tempo. 

não há virtude nisto que te digo, ou escrevo, conforme te adaptares melhor. Só o desespero suficiente para, se quiseres, espalhares no pó do chão desta casa, em versos que não façam sentido. já cá não estarei quando, e se, florescerem

2021/11/30

Herança de desenhos


 a minha herança são desenhos,

toscos,

no colarinho da camisa um homem

leva,

a fuligem dos dias,

na dobra da saia a mulher,

explica como dorme mal,

com o peso do mal que ainda

suporta,...


e há tantas manhãs,

que se anulam pelo sabor

acre do medo,

deixado nas bocas,

de quem observa,

a minha herança,

que são desenhos

2021/11/29

Templo de adoração do ser

 Arriscar não trazer aquela flor,

A mesma que foi tanto tempo o cimento do livro mais assustador,
Que tínhamos,
Arriscar perceber que tudo serão passos desnivelados,
Num chão com marcas de sangue,
E pegadas indeterminadas de pecado,...

Arriscar tudo sem anotar a idade,
Os ódios enlatados,
O início de uma nova vida,
E levar o rabisco,
Para fazer coluna,
De um novo templo de adoração,
Do ser



2021/11/28

perfil

 o sol desenha o meu perfil,

inofensivo,

na parede adormecida,

auxiliares de visão,

passos trôpegos,

até os restos de uma vida

mal vivida,....


passo ante passo,

a companhia mantém-se,

até se desfazer no vazio de um mundo

ilegível,




2021/11/27

Saturday evening desperation

o que sei do dia,
nada de mais,
que acalmas o tempo com duas
mãos,
pés de terra que revolvem a água
que já morreu,
e há tanto que imaginar se por
um lado,
se escrever o som no que
ficar implícito



Afirmar o som

 Não me lembro se com uma mão, se com a outra... se o teu sorriso teve influência. Se foi aquele projeto de biografia de um criador falhado. Tudo destoava. Havia um sabor a refeição incompleta na boca dos que em silêncio,...

Olhavam-me nos olhos a ponto de o dia parecer estar a acabar por,naquele momento, chover tanto em sitios onde nos habituámos a ser insignificantes.
Abrimos uma garrafa, de vidro rachado,e colheita duvidosa. Certifiquei-me de que,sozinhos, tudo acabava com uma oração inócua de anulação mútua. 


2021/11/26

Eletrólise do sol

 


esteve para ser a notícia,
a novidade quando
de coração aberto,
as pessoas alinhavam-se na mesma
‘Ágora’ de sempre,
e solucionavam problemas
aos poucos,
sem que o intervalo das palavras
se visse anotado na propícia alegria de todos,...

a finalidade de tudo,
o que se pretendia alcançar
com as infundadas perspetivas
de uma sociedade perfeita,
como o que parecia ser esta
experiência,
era ainda desconhecida,
talvez se se esperasse
por uma madrugada que
fosse diferente de outras,
surgissem respostas

2021/11/25

...os sonhos se escrevem a cores que já não existem

 Acredito que esteja tudo pronto,

a luz resplandece nas chávenas postas

na mesa,

a água pronta para o chá,

o que se espera tendo em conta

a neve que se acumula nos postigos

das varandas,

não queima ainda o pão pronto

a ser consumido,

o jornal do dia terá de ser retirado

da cadeira onde estás,

para chegares e logo eu saber

o que tem sido a tua ausência,...


e acho que será assim este final

de tarde,

até acordar e perceber

que os sonhos,

se escrevem a cores que já não

existem




2021/11/24

... Falhas deste processo sem nome

 


Já sabia que ia ser bom,

Estar imerso constantemente na tua estrutura mental,

E ver os dias de sol que passaram a chuva,

E voltaram a ser de sol,

Para depois ficarem obstruídos pela absorção pura do que não restava para me dizeres,...


São as horas que podem ser,

Espero e alinho as memórias de todas as falhas deste processo sem nome,

A que outrora posso ter chamado amor 

2021/11/22

Firma de venda de lágrimas

 Estou preso aqui de mãos indispostas,

O quociente social de inteligência de tudo isto,

Será próximo do zero,

O que indicia um anoitecer tranquilo,

Em redor de jornais dos últimos dias,

Como que a cultivar o isolamento das dores da solidão,...


Amanhã poderá ser outro dia,

Ou até uma firma de venda de lágrimas,

Tudo depende do ângulo certo do sol



2021/11/21

Voa, filho mais novo do Inatingivel. Já tens asas!!! No dia em que esta empresa já tem 400 seguidores






 

Pese menos que o próximo segundo

 


Passa tempo com uma mão ferida,

Porque ela gosta de te curar,

Aconselhar,

Estender aos teus pés aquele jardim de conflito,

Que te enriquece a volúpia,

E torna o prosseguimento do desejo,

Menos inconsequente,...


Se fores tu a desenhar o que se pretende,

Ela estará lá,

Com uma impressão digital de sangue,

Para que o amanhã pese menos que o próximo segundo 

2021/11/20

Barco de casquinha

 


A querer imaginar devaneios matemáticos,

O homem aplicava-se,

Além de inventar palavras,

Cruzava e descruzava os braços,

Como se um apóstolo tivesse sido,

E quisesse voltar a ser,...


O homem cultivava-se,

Ou pelo menos tencionava fazê-lo sempre que isto tivesse oportunidade de fazer,

Ao leme do barco de casquinha,

Que era a sua pouco precisa relevância,

Deixava-se ir,

Sempre que vento não havia,

E sol parecia deixar de haver 

2021/11/19

Roupa sempre comprometida

 No café,

Não me envergonhava dos meus antigos companheiros,
Roupa sempre comprometida,
Ilusão na ponta da lingua,
Um livro encharcado a servir de biblia,
E um erro de cabelo escanhuado e viçoso,
A entrar e sair do quarto,...

Hoje,
Eu era mais peso do que fui ontem,
E uma ilusão mais instruída do que amanhã,
Desta forma,
Ninguém mais se envergonhará de mim


2021/11/18

Esta imagem não pára de me assombrar...

Retirado do grupo de Facebook
'Old London Photographs'

 

Desnorte sensorial

 


As tuas mãos e a memória do que representam,

Está indefinido o que podes ainda dizer,
Memória de luto,
Do amor sem roupa e sem destino,...

E lá longe uma mentira,
Sem limite e em desnorte sensorial 

2021/11/16

Filho de carpinteiro

 De dedo em riste,

Argumento mal preparado,
Um presente iludido por entre botões de um passado por pesar,
Era um ano novo que surgia,
A nós que viesse a luz que tivesse de vir,
Para eles a especialidade,....

E ao mundo,
Acho que iria acabar o meu próximo livro assim,
Lustro suficiente para nascer,
Um novo filho de carpinteiro,
Por entre os anarcas indigentes,
E as manhãs que passam sem número 


2021/11/15

Pensar em espiral

 Ela dorme com os olhos envernizados,

Como se um salão de dança,
Espraiado,
Lhe pendesse do rosto,...

Há os primeiros tempos da existência,
O remoinho de fogo,
De onde se ouvem choros consecutivos dos filhos que,
Nunca teremos,...

Ela dorme sem o descanso dos que sabem
Perder o futuro,
E não se arrepende,
Eu admiro e penso,
Em espiral 

Foto própria 


2021/11/13

Nariz mal desenhado

 Habituada a reconhecer as pessoas como podia,

Fazia-o de uma forma quase degradante,
Insultando,
Apta a apoucar,
Puxando pelos pequenos defeitos,
O nariz mal desenhado,
Os olhos sem brilho,...

Com qualquer coisa escondia,
Que era incapaz de racionalizar,
Só julgar,
E isso tornava o tempo mais difícil de ser guardado nos bolsos de renda,
Que insista em esquadrinhar por toda a roupa 

2021/11/12

Nada carregado de sombras

 


Palavras,

Reticências sem peso,
Que escorregam por entre a água suja,
Que corre para o rio,...

Palavras sem notas,
Ou sequer rostos felizes,
Só restos que,
Sabemos serem voláteis,
E são o que representam,...

Nada carregado de sombras

2021/11/10

O Inatingível está em condições de revelar que,....


 ..., vai outra vez projetar-se para o papel. A segunda em três anos.

As coordenadas para apresentação do livro estão acima indicadas. Todos serão bem vindos

:-)

A valsa do instante desejado

 


Reconheço as falhas,

A luz do poema,

O que me vem aos dedos depois da resistência,

Da água última que me cobre o corpo,

Antes de ser noite pelos poros da minha pele gasta,...


E agora,

Quando o presente são fios do cabelo desviados do rosto,

Inaudito de medo,

Não se faz a valsa do instante desejado

2021/11/09

Gato velho

 


Aclarar problemas no dorso de um gato,

Movimentos concêntricos,
O tempo passa por entre copos e talheres mal postos,
Há um som inédito de fim naquele local,
Onde ninguém vai para se encontrar,...

O suar extremo de um gato velho,
Anuncia que o renascer será a solução





2021/11/08

Pedras anuladas

 


O lado perfeito das silabas,

Comigo a ligar ainda assim mais luxaçoes,
Mais desejos,
Com pedras anuladas,
E sem peso,....

Saíam trabalhadores todas as manhãs,
Para dias contornados pelo sol,
Alguns nunca mais voltavam,...

E deixava-me ficar a escrever em códigos,
Que só vocês pareciam entender,
E anular perante a humidade,
De uma chuva que sempre persistia nas minhas ideias

2021/11/07

Jazz de primordios

 


Haveria uma razão,

Duas, três indecorosas propostas para morte,

Um recoletor de almas absortas,

À boa maneira do imperativo de Kant,

E soava a jazz de primórdios,

Inícios de amor,...


Seguia-se com atenção o bruxulear desta chama,

Para que os imprevistos não desvanecessem,

E ao fim e ao cabo,

Se voltasse a gerar vida,

Neste tubo de ensaio assumidamente relativista

2021/11/06

Colar torpe

 Poderá ser história,

   A raiva,
Os desejos todos enumerados,
Como contas,
   De um colar torpe de velha invejosa,...

São insultos os que hoje lemos,
E amanhã não contam mais nada,
À sombra das árvores de todos os dias,...

Ao longe vê-se a pilha de madeira,
    Alinhada à porta desta casa,
Que já não conta,...

Poderá ser história,
De três em três versos,
   Um rei ora para a bula religiosa da
Desdita


2021/11/05

Weekend mood


 

Luz como o silêncio

parecia ser o único indício de 

intimidade,

o odor que ficava,

as rosas que estiveram naquela cadeira,

e agora eram tu,

a tua aura,

os desejos que se te agarravam

à pele,

como um pecado mal explicado,...


para trás tudo era inofensivo,

de um tempo amorfo,

em que nada de inconcebível passava 

a rosto,

nem o que luzia,

se fazia silêncio



2021/11/04

Beleza insuportável

Olhou para lá do mar,
Das nuvens,
Do que idealizou ser o limite inocente do seu olhar,
E pensou que nada precisava naquele momento,
Tudo já existia com os erros de escrita,
A beleza insuportável,...

E até a vontade de recontar desesperos,
Que foram ficando pelo caminho,...

Focava-se assim na moléstia de querer o azul,
Tudo isto estava assente em linhas sem cor



2021/11/03

O dia mais feliz da minha vida,.... 13 anos depois

 Dez dias em que estivemos

em parte nenhuma,

o risco,

a vontade de sermos pedra,

tudo rejuvenescido a cada dor,

em todos os suspiros,...


sublinhado com a cor do barro,

com que sujámos os pés

anos a fio,

e ao regressar,

a dor inofensiva,

do ter deixado de pertencer




2021/11/02

Poema que saiu mal



 ainda hoje estranho a tensão,

que uma pele fria me causa no corpo

que oculto,...


habituado à lonjura,

ao desfazer dos dias inofensivo,

no envelhecer que se impõe,

anulo a frase,

admito o silêncio,...


e tudo acaba escrito na parede

escondida,

com a cor que a solidão permite

2021/11/01

O Inatingivel novembra a celebrar o aniversario da gerência

A identificação do livro estava na lombada,
A letras douradas,
Quase que a  pedir desculpa por qualquer coisa que nem sequer se podia encontrar nas páginas,
Escolho versos longos,
Pouca pontuação,
Para descrever o que me fez lembrar este episodio,...

Coisas boas,
Dignas de um entardecer de há muito tempo,
Escondido por um nevoeiro de final de inverno macilento,
Prévio a um aniversário de juventude que nunca mais vai voltar


2021/10/31

Um escrever ocultado

 Depois deixa que a tristeza me
venha perguntar as horas,
insinuar que o dia é a a noite nua,
e a noite não tem roupa para
cobrir uma nudez que rejeita,...


deixa que a tua malfadada hesitação
se transvista de amor,
e desça a rua pronunciando a
latina versão da morte,
com as declinações erradas,
e um academismo que só ela
consegue deixar infundado,...

e agora,
soletrada que está a 
frase que me aterrorizava,
de tão escura que te sinto
sentada à esquina da lua,
talvez parta acomodado à espuma
do silêncio



Alcateias


um homem fica velho,

a ver o passar do vento entre

as frestas de um domingo,

os ossos desnivelam,

a razão aflora o que

já não é necessário,...


e saindo para um local estranho,

há números certos de ilusão,

o fim virá quando já não

houver semana,

para aclarar em cima da

mesa que se come

2021/10/30

Responsabilidade inalterada


 a noite passa quase como

se fazer estes trabalhos clandestinos,

de segurar a ilusão num estendal de roupa,

como se fossem os teus vestidos a balouçar

ao vento de meio de outono,

fosse algo normal,...


não é,

desafia-se a alegria com que as mulheres

entram nas maternidades,

e depois saem cooptadas como

alteradoras do mundo,

e por isso,

é uma enorme responsabilidade,

divulgar propaganda falaciosa de amor,

quando o mundo se enrosca sempre

em sentido contrário

2021/10/29

Poesia cinematográfica

Feios, Porcos e Maus, Filme de 1976,
de Pier Paolo Pasolini


pier paolo pasolini / who is me, poeta das cinzas

 
 
[…]
 
Vivi <…>
aquela página de romance, a única da minha vida:
quanto ao resto, <o que querem,>
tenho vivido dentro de uma lírica, como todos os atormentados.
Tinha entre os meus manuscritos também o meu primeiro
                                                                             [romance:
eram os tempos de «Ladrões de Bicicletas»
e os literatos descobriam a Itália.
(Eu agora já não sou um literato,
evito os outros, não tenho nada a ver
com os seus prémios e as suas publicações.)
Chegámos a Roma,
ajudados por um doce tio meu,
que me deu um pouco do seu sangue:
eu vivia como pode viver um condenado à morte
sempre com aquele pensamento como uma coisa atrás de mim,
– desonra, desocupação, miséria.
A minha mãe reduziu-se durante algum tempo ao trabalho
                                                                      [de servir.
E eu não me curarei jamais desta doença.
Porque sou um pequeno-burguês, e não sei sorrir…
como Mozart…
Num filme – a que chamei «Passarinhos e Passarões» –
Tentei, é verdade, a ópera buffa, ambição suprema de um escritor,
– mas só em parte o consegui,
porque sou um pequeno-burguês,
e tendo a dramatizar tudo..
 
[…]
 
 
pier paolo pasolini
who is me
poeta das cinzas
trad. de ana isabel soares
barco bêbado
202

Dionísio, o perdido

 dionísio gostava dos imprevistos 

de um bom copo sem fundo, 

sentado ao longo do 

correr de água, 

no mesmo improviso de sempre, 

repetia o troço irregular que o pai, 

o avô, 

o vizinho que morreu novo, 

e até a luz do sol, 

lhe tinham ensinado,... 


ser discreto, 

a sombra é amiga nossa 

em qualquer ocasião, 

mas nunca devemos confiar 

nela para confidências, 

e fora isso, 

as tripas que pagassem,.... 


gostava de contar cabeças, 

quando já as via em duplicado, 

e viu a minha um dia destes,... 


ele não me conhece, 

mas dionísio está no 

meu arrepiado de notas, 

consta em C, 

de choro compulsivo




2021/10/28

Um poema elétrico

se me quiseram,
com um corpo semi-condutor de tristeza,
e olhos como a lonjura alumiada e
desfeita,
estarei de pés plantados,
com raízes dolorosas que penetram a
Terra como ela merece,
de desdém silencioso e
raiva acondicionada no sangue,...


e sem que saiba ler o que as nuvens
me desenham,
como halo capaz de esmagar
com um torpor o crânio,...

e para que a mudança
venha,
serei a chave,
que abrirá o que restar
deste mundo que de inofensivo,
só tem a cor ocre de sangue



vazio lento do envelhecer

 Foi assim que um ano 

passou,

com mentiras,

desenhos imperfeitos de 

cadáveres impedidos,

de sonhar,....


sei que houve um relógio,

um passar do tempo descoordenado,

que nos fez separar,

ao invés de esperar por nós,

nas ravinas aprofundadas dos 

ondes em que nos perdíamos,...


e no fim,

quando chegou o momento

de gritarmos por nós,

já nem havia som,

só o vazio lento do

envelhecer


2021/10/27

A uma hora de mim

 


Ela perguntou o que era o passado,

A carne mal cortada,
Uma dor no peito e o ar que não ressoava,
Havia musica inconsequente,
E uma soma exagerada de mal entendidos,...

Quis saber se estarias lá,
A uma hora de mim,
A ajudar-me com a vida que vivo,
Sem dor,...

Mas já estavas num diário de lonjura,
Sem que o presente pudesse acolher as horas que desfaleciam abandonadas

2021/10/26

Dentro e fora

 lá fora desligam as luzes,

é uma bola irregular que

se forma,

em cima de um mundo desnivelado,

imutável,

que fala o suficiente por entre espinhos

que,

perfazem o sangue suficiente nas 

mãos dos que partem,...


cá dentro é novembro,

um vento assobia por entre

as parcelas da ausência,

e irrefletido,

a esquecer-se aos poucos




2021/10/25

Estante de livros mudos

 


Soube quando te trouxe para casa,

Que eras nos intervalos da areia que cobria a entrada do meu quarto,

Um resvalo,

Um gomo da idade vetusta de todas as memórias,

Que me doíam só para lá da porta do único sitio que tinha para descansar,...


Queria preservar-te,

Atribuir ao teu corpo lugar de pupilas curiosas, 

na estante de livros mudos daquele lugar,

E tentei-o,

Com dezenas infindas de recitares mudos de poesia,..


Só me apercebi de que o som já me impressionava mais que o amor,

Quando envelhecido recusei a juventude do teu tocar

2021/10/24

Ser lá o que seja

 


Seja lá o que isso fosse,

Escrever bem,
O melhor comparativo era,
Ou será sempre,
Tentar desenhar um rosto inocente,
No fim de um percurso de vida,...

Tem de se saltar contornos,
Evitar imperfeições que o amor morto realçou,
Até haver uma consonância,
Um desnível em relação à realidade,
E ao menos acaba por nunca se assemelhar a um verso discordico,
Seja lá o que isso significa

2021/10/23

Imprecisão

fomos escutados a desfazer pó

em cima dos pratos,

postos na mesa do jantar,

arejava-se a sala o possível,

suspeitavam-se das lágrimas incrédulas,

que empastavam não só os nossos olhos,

como o lacrimejar dos infelizes

da hora certa,...


anoto a imprecisão com que o medo,

se instala nos intervalos

disto tudo



2021/10/22

A pobreza inocenta

 


Há pedaços,

Pequenos pedaços,

Pedacinhos,

Eu diria indecisões,

Tudo intermitente no canto de uma sala,

O resto escurece o campo de visão,

Uma hipótese provada no meio do vazio,...


Arco certo do declínio,

Feito com tremores,

Tanto frio,

A solidão enriquece,

A pobreza inocenta,

A velhice transforma,

Até tudo ser escuro

2021/10/21

Versos digitais

 


Infelizmente é

Um poema a crescer,
Nas costas da minha mão,
Pelo meio de ossos,
Cartilagens,...

Sem rima,
Com magreza,
E esguio por entre,
Luvas que não me cabem,...

São versos,
Digitais

2021/10/20

Beira-mar


 o teu respirar,

compassado,

confundia-se com a vastidão 

de uma praia,

só nossa,

observava-te à medida que me sentia

perder no barulho,

intensivista,

do desdobrar das ondas nas 

rochas lambidas pelo tempo,...


tudo era nosso,

o lamento suicida da gaivota,

o fio de fumo que,

no horizonte,

Insinuava-se no final do côncavo

do espaço,...


na maior posição fetal que 

conseguia,

enrolava-me sobre mim mesmo,

absorvido pelo

teu sono desperto

2021/10/19

As mãos doem-me

 sim continuo a escrever,

as mãos doem-me,

não tenho fruição dos mesmos
sitios onde já estive,
mas continuo a escrever,
e continuarei mesmo que me repugne,....

ao lado desta certeza,
deixei uma pequena caixa de madeira,
debruada a diamante,
que encontrei no caminho para
casa,
no dia em que me 
informei que posso
ser especial



2021/10/18

E como o Inatingível de vez em quando dá dose dupla

No andar de cima morou o homem das promessas vãs,

Ao meu lado,
A resignação assentava arraiais sem dar os bons dias,
Sem sequer fazer da noite um manto para se abrigar do frio geométrico que caraterizava aquele sítio,...

A minha reserva de força,
A fruição,
O que me descreveu nos momentos em que soletrámos as novas formas de amor,
Talvez já não exista,
Só sei ainda o meu nome e pouco mais



O meu caminho terminou ali

 ao desiludir-me com a frustrada tentativa

de o conhecer,
o meu caminho terminou ali,
pensei em todas as indefinições de
que me lembrei,
como se para elas eu representasse
sempre qualquer coisa mais do que o silêncio,
do que a rua vazia de cheiros,
de insofismáveis quebras de amor,....

se calhar haverá mais do que o querer
ligar-me às pessoas,
as pessoas merecem-no, 
mas o medo de as perder não
faz com que iludamos a perfeita 
noção de uma corrida por fazer,
de uma discussão sem sentido por ter,
de tanta coisa que,
 se calhar,
por esta altura,
penso que terás algo
a ver com tudo isto,...

e a mais do que isto
não terei vontade de explicar



2021/10/17

Conta telefónica

 


As suas contas telefónicas por vezes

Excediam a página,

Alcançava a mão sempre que mais qualquer surgia para falar,

Sobre os desejos expressos em tons escuros,

Naquela voz de ébano,...


Decidiu falar menos,

E aprisionou a voz em madeira de pinho,

Ia remeter-se a um silêncio metálico para sempre

2021/10/16

acabou sem renúncia


 da rua viam-se as reticências,

hesitava-se tanto e tão pouco,

que os reposteiros dissipavam-se

a olhos vistos,

soava mal qualquer elite que ali

se prostrasse,..


eram do povo,

foram da resolução mais simples do ser,

as estórias todas daquele sítio,

que não tinham cheiro,

só postura,

ser,

dispensa de elogios à retidão,....


se chovesse,

prometiam-se músicas sem sentido à janela,

murmuradas e desditas como só a

pobreza consegue,

se fizesse sol,..


ali não havia sol,

por isso acabou sem renúncia,

esta indecisão

2021/10/15

dormia com a música


 

achava que por vezes os ponteiros do

relógio lhe contavam estórias,

sem 'h',

das que resultam em lágrimas inocentes

a rolar,

e a esconder-se na ruga transversal

que acaba no canto da boca,...


assumia que tudo na vida era

bom,

não havia encontros vazios,

pessoas a faltar à palavra,

ou até barcos que se liquefazem

no horizonte sem legado,...


enquanto isso,

dormia com a música

2021/10/14

...Dali possível


 pensar que posso descer,

onde há faces que se escondem

de uma mentira,...


içar bandeiras e ver como 

há olhos que nadam,

a braçada solta,

e se desviam de tudo

o que concebo como normal,...


deixar de reescrever esta cartilha,

surge como a fatalidade necessária,

para parar todo este surrealismo,

que me transforme no Dali possível,

se de tudo quiser que haja a pintura

que fique para sempre

2021/10/13

Magnânimo sofisma

 Cada retrato,

Cada postura errada e desafiadora,

Os inocentes,

Serão eles os que desfiam o magnânimo sofisma desta realidade,...


Por isso,

Antes que seja aquele dia dos olhos em vigília permanente,

Antes que o teu corpo ceda,

Antes até

Que para mim escrever seja um deslize para a perdição,

Que nos encontramos,

É de aproveitar este domingo que ainda tem laivos de Setembro de fim de verão 


2021/10/12

Um corpo perdido



os olhos, 

uma correnteza de 

prédios que conheci, 

no caminho desregrado 

para a perdição,... 


a boca, 

finalizava uma 

discussão,

 com os copos, 

sujos e entorpecidos, 

que desvirginaram aqueles lábios,... 


os seios, 

custa escrever diferente, 

do que foi o sono 

feliz que desfrutei entre eles,.... 


um colo, 

lembrar desespero 

com sabor a eternidade, 

prazer em dia de chuva protegida,... 


e ao longe uma fuga, 

desenhada,... 


não tenho idade 

para assumir que errei ao partir

2021/10/11

sol fálico

 Presença e ausência,

estranhas e irregulares marcas de 

penetração na pele,

amo-vos sempre mais do que a mim próprio,

tanto mais que o sol

fálico,

diz-me o pior do que o futuro

anula do passado,

que nunca concebi,...


assim está desenhada,

a incongruência do meu ser,

e do meu desejo



2021/10/10

História decente


Peço licença para entrar,

três toques na janela enferrujada,

a ponto de lascar os nós dos dedos,

lá dentro a velhice almoça,

não a vejo por estar vestida de cinzento,

e confundir-se com as paredes bolorentas

de uma casa,

que não fica em lado nenhum,...


como mensageiro de anotações breves nas

palmas das mãos,

sento-me no chão,

e observo o sem fim de infiltrações de amor

que dançam lá fora,

à chuva,...


estou decidido a escrever

uma história decente aqui

2021/10/09

Interlúdio despropositado

 Este era o fantasma de uma mulher desastrada, a mesna que se espreguiçava sem pedir licenca, que amparava os genitais com medo que eles escrevessem o que não deviam, enquanto respiravam só o suficiente para se manterem vivos,...

A mulher que indelicada, anulava a prosapia propria dos dias de nevoeiro, com um acidente em que um comboio esmagava os despojos de um momento que se queria anular,...

Uma mulher que tendo todos os nomes, não se abeirava de nenhum mais que uma renovada missão de estranheza, em estrangeiro,...

Pensei que descrevė-la, talvez encerrasse um capítulo,...

Mas só acrescento versos onde não devo

Ajuda dissecada

 


Se eu pudesse ter ajudado aquela pessoa,

Antes tombar morto,

Do que dúzias e dúzias de vezes de arrependimento,...


Sentir toda esta vulgaridade inscrita no vento que me contou a notícia,

Dá conta de mim,

Da sombra falsa deste poema que existe só por imposição da necessidade 

2021/10/08

Epicurismo pessoal

 


O efeito esteta,

Gosto da palavra,

Repito-a nos espaços que me sobram do silêncio,

E entretanto é noite,...


A ajuda que me presta ao epicurismo pessoal que,

Sempre tendo tido,

Guardo ocultado por entre os olhos adormecidos,

É assinalável,...


Só por isso desenho-te a tons de ausência de luz 

2021/10/07

Garanto-te

 


Tenho a certeza de que isto não estava aqui,

Havia duas flores sobre o canto da casa,

Algumas folhas pobremente redigidas,

 um poema quiçá a soar mal,

E batiam à porta,...


Lembro-me que deram a notícia da morte da música,

E eu procurei,

Vi tudo o que te disse,

Mas a minha solidão não estava aqui,

Garanto-te

2021/10/06

Do soar do sino na capela

 


Adivinhei-lhes as palavras,

Tudo era indissociável do soar do sino na capela,

Eles arredondavam as vogais,

Sublinhavam verbos desconhecidos,

E tudo assim me soava familiar,

Como se estivesse a afastar-me de terra,

Num barco periclitante,

Com a ideia de nunca mais voltar,...


Vim sentar-me junto deles,

E beber dos mesmos desatinos que eles aprovavam,

Talvez assim o mundo me magoasse menos 

2021/10/05

111 anos de República


 na maior parte do tempo está calmo,

com a tranquilidade reescrita a limpo,

em folhas imaginárias de merceeiro,

mas com o homem,

sempre se soube que há uma desconfiança

permanente,

nunca está bem,

sempre tem mais ilusões do que 

força para ressuscitar ódios,...


está há uma eternidade sem saber

se a volta a ver,

e por isso não está bem,

porque ela,

é o farol

2021/10/04

Faites vos jeux

Ferreira Gullar: Traduzir-se  

 

Acalmar no estio

 

esperar-te,

quando já nem há espaço suficiente,

para que se roubem sorrisos,

se discutam anseios,

só resta o retorno dos dias

que baloiçam no horizonte,

e serve minimamente para adormeceres,

em série,

feitos sobre a solidão,...


descobrir o restolho dos teus passos,

sim,

isso restar-me-à, 

assim este entardecer acalme

no estio

2021/10/03

quando se rejuvenesce

 Esperar pela mudança,

De noite tudo é histriónico,

E ao mesmo tempo que está sujo

o caminho do afastamento,

são louras as decisões de

quando se rejuvenesce,

a regressar,…

 

doem as mãos vazias,

e inúteis,

e esperar que tudo mude,

não oferece dúvida,

mas há dias que doem,

sem se saber a quem,

sem se notar porquê,…

 

e há mais qualquer

coisa a anotar,

aqui debaixo da poeira




La baie des anges (1963), Jacques Demy






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