2024/03/31

Separados pela memória


Faye Wei Wei
To Swell the Sky, 
2020

Tenho pouco tempo,
Escuta,
 o livro está preso por uma página,
Na gaveta do quarto virada para a parede,...

No prefácio,
Na parte onde o autor se queixa de uma perseguição dificil de definir,
Está uma nota em dinheiro,
Velha e mal tratada,
Pega nela e volta a escondê-la,
Onde te aprouver,...

A ideia é que não mais fiquemos separados pela memória,
Aquele pequeno pedaço de papel,
Não me recordo a origem,
Tem o magnético gravado nas rugas















2024/03/30

12:04, Saturday afternoon

 abres a janela. Nada to obriga, sentes só uma necessidade carnal, desejo de o fazeres. A brisa envolvente brinca com o teu espírito inquisitivo, o sol desenrola-se num corpo imperfeito, como a invasão incolor, mas perfeita, que precisavas naquele momento. Um pensamento sozinho, leva a que admires, observes o que tens de observar pelo tempo que a necessidade te obrigar. E depois, fim. Há uma escuridão infinda, de olhos fechados no silêncio de uma sala, para recuperar



Viela sem dono



Os teus lábios,
Como o som de uma voz perdida,
Um assombro numa viela sem dono,.  

Dizerem o mesmo que nada,
Soarem a todo o silêncio do mundo,
Os teus lábios a soarem a sexo já esquecido,....

Lá fora o vento,
A roçar nas paredes dos prédios vazios,
Assegura que entendo o desespero,...

E a música encaminha-
Nos para a derrota

2024/03/29

Recomendação de leitura


Admito que nunca tinha lido nada do autor. 

E digo só  que há algum tempo não me entusiasmava tanto a ler uma obra. De uma ideia simples, o autor fez um livro perfeitamente adaptável à ficção televisiva, teatral ou cinematográfica.

Recomendo vivamente... 

...relógio que não parava

 No inverno as silhuetas das árvores,

Não só das árvores de todas as criaturas vivas,

Custam mais a distinguir,

Parecem não ter cor,

Arrastam-se ou dissolvem-se até em formas dificeis de descrever,...


Habituado a reescrever tudo o que tinha decorado até aí,

Fixava-me na perspetiva sonora das coisas,

No amanhecer que comparava a um adagio sinfónico,

Na força das rotinas,

Que me escapavam como o ar desperdiçado pelas pessoas,.. 


E foi assim que deixei de acreditar nas rotinas,

Os sentimentos serviam-se a desoras,

As estações do ano passavam sem concórdia,

E era eu que me jogava como uma pedra,

Em sentido figurado,

Pelo espaço disforme do relógio que não parava

                                                                              Tirado daqui

2024/03/28

...a poesia a espraiar

Fazem-se paragens,
Subentendidos inexplicáveis quando o dedo,
Está a uma unha do coração,
Perto de fazer mal,...

É um gesto simples,
Que pode dar a entender que uma vida,
Está em jogo,...

Mas é só a poesia a espraiar um poder que não tem,
E um perigo que ganha,
Quando a virtude não se explica

2024/03/27

...que tudo recomeçasse?

se o tempo parasse,
o aqui e o agora
fossem cortes nos dedos,...

 com o sangue parado,
 sem cheiro,....

e uma leitura religiosa
atenuasse a dor,....

se o tempo parasse,
e uma reza desconhecida,
fosse a palavra,...

que tudo recomeçasse?

                                                                              Tirado daqui

2024/03/26

...a verdade e o medo

 Tirado daqui

a verdade,
o baile de todos os dias,
justificado com a fluência
de insultos,....

os braços cruzados em
disputa,
a voz amarga,
os olhos ensimesmados,....

sentamo-nos com o fogo,
o sono de volúpia,
e o acordar madrugador,
com saudades,
de um afago de mãe,
de uma corrida inocente onde seja,....

o medo,
faz daqui,
o antes,
sem que o depois,
 seja sequer sítio,
onde se possa duvidar


2024/03/25

Good morning

 

                            Tirado daqui

A virtude

 Tirado daqui

A virtude,

Sossega,

Desilude-te próximo do abismo,...


E o retorno será lento,

Abusivo,

Em desrespeito aos limites de som,

Que a dor nunca te impôs,...


É virtude sim,

À falta de melhor palavra,.. 


Em versos curtos como o que lês,

Abre o livro que melhor te assimila,

E tenta,

Aborda a tarefa de,...


Reconstruir a vida,

Em cima destes pressupostos 

2024/03/24

...não saias de casa

 não tens de sair de casa,
primeiro o pó,
depois a vontade,
a lonjura,
sapatos por atar que te
fazem mal à postura,....

sexo barulhento que
não é contigo,
uma eucaristia duvidosa
num rádio que vai morrer,
um gato que se insinua moribundo,
no parapeito encardido,
pássaros exfusiantes que se
enganam na vida que trazem,...

e tu ainda por casa,
não saias,
o tempo pesa mais
que a ausência



2024/03/23

Viver para sempre

 Se vocês conseguirem,

As portas abrem-se,

Malraux descontrola-se,

Haverá sangue como troféu de consolação,...


Os desníveis vão acentuar-se,

Será noite mais cedo neste dia,

Basta que tentem,...


E um diamante pequeno,

Quase imperceptível,

Penderá do dedo disforme do louco da terra,....


Se conseguirem,

Haverá prémios no arregaçar de mangas dos trabalhadores,...


E não faz mal,

Já entardece por entre os dois pombos que agora me fazem refletir 



...a que espera

o tempo és tu,
a que espera,
por vezes há calor,
outras um frio que
assina como renúncia,...

esperas pelo outro,
por mim vestido de
velho,
esperas com um sorriso,
e um peso oriental
nas costas,
 deformadas pelo medo,....

e há música,
um dedo de Dylan,
a selvajaria de Dvorak,
o que se quiser da angústia de Cave,....

e esperas,
se conseguir,
um dia alcanço-te


                                                                             Tirado daqui

Anita Ekberg
Foto de Georg Oddner
Malmö, Suécia, 1953

2024/03/22

Poema meteorológico

 não se calam as primeiras chuvas,
a brisa de ti,
incomodada pelo sol que
aquece nos olhos,
e um tempo que anda de arrecuas,...

como as lições dos mais velhos,...

e de ti,
a torre mais alta
que vigia a aldeia
mais remota desta terra,
sobra a dúvida,...

árvores que medram na dor,
erva acastanhada de morte,...

sobram coisas que não devem,...
e o frio envolve-me
num manto de conforto

                                                                                         Tirado daqui
Asas do Desejo (1987)
Realizador: Wim Wenders

A beleza de um enredo



À procura de referências literárias,
Tinha a estabilidade dos escritores de inspiração judaica,
Como visão,...

Sem nenhum motivo nem ordem tinha lido este tipo de escrita,
E achava-se atraído pelas casas de cheiro normal,
As famílias barulhentas e dogmáticas,
Até a visão respeitosa e fundamentada do mundo,...

O realismo mágico por vezes também batia à porta,
As desilusões do coronel aureliano bondia acompanhavam-no,
Na procura de uma personagem credivel,...

E sempre que a luz se apagava,
 No entanto,
Adiava mais um dia o inicio de uma história cativante,
A beleza de um enredo não tinha necessariamente de ser igual para todos


2024/03/21

Mid Thursday afternoon chill

Dia mundial da poesia

 

Ei,

Tu aí,

Esta é a minha poesia,

Sem dias e muito menos mundos


Domingo, Manuel da Fonseca (repetido,porque genial,neste blog)

Quando se escreve a sublinhado....


o ruído,
a desilusão tosca de quem
esgravata paredes,
à espera não que caiam restos 
podres de qualquer coisa,
mas sim a vida,
a própria existência desfeita
em sonhos desapropriados,
gemidos falsos de sexo desaproveitado,...

a vontade excelsa de
mudar,
qualquer coisa,
o ruído faz pensar que sim,...

a filosofia pode deixar
de existir,
o tempo e o espaço
um dia sobreviverão,
mas o som desaparecerá,...

para voltar como conceito,
que ali interessa,
por ser subversivo

2024/03/20

Pessoa e Branca de Neve


Essa é uma possibilidade,
agora que sinto amor,
há duas visões no mesmo sol
na baixa de Lisboa,
sinto que mudei como pessoa
que já não sou,…

A felicidade passa por mim
como varina,
Uma velhota pede desculpa,
assustada,
apressando-se como pode para
sair da selva,…

já não sou do tempo,
nem o tempo é de mim,
observa os ponto e vírgulas
na verborreia que produzo,…

O Martinho da Arcada ainda abre,
quantas manhãs,
e tardes de calor absorto,
quanto passos passaram
desde que o homem de Durban
aqui andou 



2024/03/19

É assim que ainda te vejo, em sonhos, a olhar para mim. Saudades tuas, velhote:-(

 


Triptico do medo


Apocalypse Now
Realizador: Francis Ford Coppola (1979)

Talvez o medo,
As possibilidades toscas de resolver a situação,
Agravando-a a ponto de não retorno,.. 

Brincar com a transgressão,
Com o problema do pavor contido,
E incapaz de se revelar,...

Este triptico como forma de o resolver,
Insipiente,
Auto desvalorizado,...

Escondido pela pobreza de conteúdos,
A que se impõe,
E de que não se liberta,...

O medo vendido como,
Remédio indestrutível,
E que falha sempre 

2024/03/18

Viver a desrespeitar

Viver,
Viver o sol,
As fases abstratas da vida,...

Viver de gato na mão quando o corpo pede solidão,
Viver como aminoácido,
A processar razões para entender o caminho que se desdobra,...

Viver a desrespeitar frases feitas,
Virgulas fora do sítio,
E entoaçôes falsas,
Como carne de sabor adulterado,...

Viver sem pedir as licenças que,
Se exigem,
Num texto que se quer,..

Sem fim 

                                                                    Tirado daqui
 

2024/03/17

Acabei de comer bolo de aniversário....

 

Fyodor Dostoyevsky, Uma criatura gentil

Linhas firmes



A todos os medos,
Os passos em falso para o passado,
A tudo o que não luz como uma ferida purulenta,
Chamamos evolução,...

A música explica-nos como mudar,
O silêncio como fazer mal,
Há lugares que não se sentem,
E quando assim é resta-nos dormir,
Esperar por lições do corpo apagado,...

E faz toda a diferença esperar,
Que a paixão mude tudo isto,
E o faça com linhas firmes,
Reduções de amor dentro do que se espera para amanhã,
Que nunca vai chegar 

2024/03/16

O senhor Ayoama

A casa do senhor Ayoama falava por si própria. Dizem que sim, pelo menos. Eu concordo, só de a observar de longe, enquanto espero que o sol baixe na rua contígua.
É uma construção antiga, com balaustrada íngreme e a aparentar instabilidade. Quase parece que a tragédia pode estar iminente. Tem janelas de tamanhos diferentes, todas com portadas e cortinados velhos e amarelecidos pelo tempo e a poluição da rua movimentada. O senhor Ayoama raramente se deixa mostrar. É uma figura preponderante da tradição japonesa que a minha rua sempre teve. Tinha chegado ali há uns 30, 40 anos, com o pretexto de abrir um negócio de quiropatia. Foi ficando, casou-se com duas mulheres que, segundo se diz, o deixaram por se terem consumido numa tristeza de razões que nunca foram realmente percebidas pelas pessoas.
O senhor Ayoama tinha raízes desconhecidas. Andava agora pelos 80 anos,
apesar de a aparência o levar para pouco mais de 60. Todos o cumprimentavam quando, manhã cedo, saía de casa para um passeio ao centro da cidade. Usava um chapéu de feltro, um sobretudo acastanhado a que aparentava ter um grande amor. Calças de tweed, e sapatos de bico fino, que lhe dificultavam um pouco a locomoção.
 Mas nem isso lhe tirava uma boa disposição que todos apreciavam. Após alguns minutos na rua, voltava a casa com um saco parco de compras. Mercearias para abastecer a casa, e flores. Todos os días flores, que usava com frequência para embelezar os parapeitos da janela de casa.
Outra atividade que se reconhecia ao senhor Ayoama era a pintura. Em especial quando o tempo aquecia. A meio da tarde, quando a brisa vinda da foz do rio lhe entrava pela casa dentro, envolvendo-se numa dança virginal com os cortinados envelhecidos, o idoso japonés era visto concentrado em frente a uma tela. Do exterior era impossível perceber o que pintava. Apenas que a arte lhe proporcionava alegría. Um sorriso insólito e permanente, que podía observar, e me deixava também feliz.
Um dia, o senhor Ayoama pareceu ter-se fartado do que tinha sido a sua vida das últimas décadas. As pessoas começaram a ver várias carrinhas paradas à porta de casa, com estafetas empenhados em carregar os parcos haveres do respeitoso oriental. Até que uma jovem de pele alva, olhos rasgados, e total discrição, surgiu em frente ao prédio. Pressionou a campainha que dizia respeito à casa do senhor Ayoama, este surgiu à janela sorridente, e mandou-a subir.
Por algum tempo, dedicado ao meu passatempo dos inícios de tarde de há muito, vi-os parados na janela da divisão de casa onde normalmente o senhor Ayoama pintava. Falavam, sem que percebesse sobre o quê. Ocasionalmente, ele punha-lhe a mão nos ombros, e abanava-a muito levemente. Talvez um aspeto do relacionamento pessoal oriental que desconheço. E fazia frio, uma súbita descida de temperatura naquele canto caldo do mundo, quando o senhor Ayoama saiu pela última vez do prédio onde tinha morado por tanto tempo. Veio acompanhado pela sua jovem e desconhecida amiga, Segurava uma mala de xadrez, com um pedaço de tecido, quase mínimo, a pender do fecho. Ela trazia dois vasos com flores. Quando chegaram à rua, olharam ambos para cima. Os primeiros pingos de chuva surgiram, e selaram a despedida do que foi um raio de sol que abraçou aquele canto do mundo. O senhor Ayoama. Desconheço onde possa andar agora.


Tirado daqui

2024/03/15

Um dia o mundo acaba em declive


Contos do Congo, Mbomo
República do Congo, 
Fotografia de Pieter Henket, 
2018. 

o ar,
a terra sem pássaros,
árvores de morte
espalhadas sem critério,...

 um caminhar pesado,
que se arrasta,
o mundo acaba em declive,
e o homem sorri,...

 desenha no ar as ideias
fortes de uma vida,
e o chapéu,
e a roupa que quer,....

chove,
a carne consome-se
em dor,
e o homem mantém-se,
erguido,
enquanto lê
o que o planeta escreve,
em fogo

2024/03/14

We don´t care about us

 


o meu amor tem dois
lados,
a vergonha é uma
cara,
o desespero a outra,....

o meu amor pesa arrobas,
tem o mundo todo
dentro do sorriso,
e o desejo esgotado pelo fogo,...

o meu amor
está na chama
que desvanece,
foge da chuva,
tem pés de alento,
e corpo de incúria,...

o meu amor somos nós,
eu e tu como balões,
que só param onde
este mundo acabar,
e aí num raio de luz,
faremos de nós
um amor que foi,
e talvez continue,
para sempre a ser

2024/03/13

Insinuante e erótico

 Finalmente o medo,

De todas as saídas possíveis,

Prefiro as formas desconhecidas,

O peso inocente e reconhecido da falta de virtude,...


O medo que chega sempre desacompanhado,

De roupas soltas,

Lábios deformados,

Insinuante e erótico nos atos,...


Por isso até o tolero,

Sentado imóvel à mercê do vento que,

Anuncia o inverno,

Permito que ele venha para ficar

2024/03/12

Formas geométricas invisíveis de ti

 Mentimos e as veias pulsam,

Há um caminho para ti que os jornais anunciam,

E o vento sopra de mim,...


Não tenho pele para a solidão,

Havia formas de desleixo,

Que só existem em mim na roupa que espalho para trás,

Nos sustos do gato quando fecho a porta para sair,

No teu cheiro,...


Há formas geométricas invisiveis de ti,

Que dormem comigo,

Fogem comigo,

E encimam esta amálgama de confusão,

Em que me vejo transformado

                                                                            Tirado daqui

2024/03/11

Eyes wide shut

comi, pedi um café. olhei nos meus próprios olhos, como se isso fosse possível. era capaz, de pálpebras coladas. uma habilidade que vinha de criança, quando queria voar, e as paredes brancas amarelecidas do meu quarto, que cheiravam sempre a qualquer coisa a apodrecer, funcionavam como prisão difícil de descrever. e naquele dia, vi o meu próprio arrependimento. desenhava corações numa areia suja. era uma praia, de um dia qualquer de final de Verão._um vento de letras grandes soprava, e afastava os resistentes daquele anfiteatro a céu aberto. a minha vontade, as pessoas que tinha conhecido até aí, os choros de madrugada que ninguém ouviu mas que os que me conheciam sempre perceberam, estavam ali. a morrer na espuma das ondas. reabri os olhos. Um indigente, de repugnância bem desenhada na barba, admirava-me como qualquer coisa de novo na sua rotina. Levantei-me, fui para um canto. Voltei a olhar para os meus próprios olhos, a pesar de sentir a luz a esmorecer como uma criatura que hiberna no inverno. e lá me encontrava. como o homem das letras minúsculas nos inícios de cada frase.que não suportava nem ventos, nem resplandecências mal definidas do sol que reaparece sempre por entre as nuvens carcereiras. o café ia fechar. Paguei, levantei-me, e saí. Tinha uma conta a pagar, antes de voltar ao reinício de tudo o que sempre me acontecia.






                                                                            Tirado daqui

2024/03/10

O que de pior, o real tem

como somos os que aceitamos
desfigurações,
rostos queimados,
um bolso vazio de amor,...

concebemos uma solução,
o que passe por equilibrar
uma notícia,
e uma morte,...

assim esperamos da manhã
uma vontade,
da tarde a ilusão,
e da noite o que vier,...

as pessoas anónimas,
o que somos,
os que aceitam
o que de pior,
o real tem


Arte de Bill Crisafi

2024/03/09

...talvez um beijo

pequena,
sincera,
devota,
uma pessoa sem rebordos,....

está vento,
admiro-te pela
inteligência,
para ti números
são corpos,
que importa desbravar,...

e o silêncio,
as noites perdidas algures,
são para pensar,
descredibilizar o ser,....

uma pessoa analítica,
e pensa-se tanto quando
tudo é sensorial,....

talvez um beijo,
perceba esta
conversa sem palavras

                                                                             Tirado daqui

2024/03/08

Um dia gostava de saber escrever assim

manuel antónio pina / o braço 


O braço que falta ao mendigo é que o sustenta –
É ele que na sombra mexe os cordelinhos
De milhões misteriosos de dedinhos
Com que o mendigo se coça e se alimenta.

 
                            O cego que toca violino na esqui-
                            na da Rua de Santa Teresa e da Ga-
                            leria de Paris

 
 
Entre o cego e a música é que o braço se coloca,
Tão célere que o cego não entende
Dos braços da música que toca
Qual o que abraça qual o que ele estende.

Desabafos de New Wave

 vamos passar por isto lentamente,
olhos no chão,
uma sensação de pele
eriçada,
como um animal assustado
e sem teto,...

revemos os silêncios,
as partes ofegantes,
em que o sexo se sobrepôs à necessidade,...

para falarmos das verdades,
enquanto em redor ainda
cheira a perfume dos nossos pais,
e há um som aparentando os desabafos de
New Wave


2024/03/07

Escrita de desassombro



Hoje chegámos do cinema,
 Não havia nada de novo,
A escuridão doente tomava conta da casa,,.. 

Faziam-se sortilégios de silêncio nos cantos daquele sitio perdido no tempo,
E com uma mão no teu ombro,
Direcionei-te para o quarto,...

Esta é a poesia literária que revela o que se passou,
E denota uma ligeira hipocrisia no olhar,
Frases curtas que tomaram conta do espaço,...

E deixaram a ambos sem renovação de ar,
Quase presos num sufoco que era ali habitual,...

E do qual só nos livravamos pela escrita de desassombro 

2024/03/06

numa história tosca...

 

Está esquecido,

o risco da história,

as frases inocentes que,

sendo outrora casa,

hoje são perdição vestida,

de velha com braços de maldade,...


habitamos nos intervalos das memórias,

é nosso o risco da vontade,

o desabamento que se segue ao orgasmo,...


é nosso,

sem retorno de precisão,

ou de lamentos,....


numa história tosca,

mas incrivelmente precisa,

e triste.


2024/03/05

Nuvens de basalto

às vezes,
a curva de um pé defeituoso,
a silha onde as abelhas zumbem,....

às vezes o pelouro dos políticos,
explicado aos desesperados,...

o que se repete de excessivo,
de ilusório,
as peças desperdiçadas da vitória,...

o corpo que se ergue,
às vezes é tudo,
quando nem horas são para a loucura


 The Two

Estação de comboios de Kiyevsky

Photo by Mikhail Trakhman

(Moscovo, 1960s).

Tirado daqui


2024/03/04

Bater no fundo

tem de ser bem redigido,
o amor não está aqui,
nos olhos fechados,
não decisões por assumir,...

naqueles erros de meio de madrugada,
desculpados com um corpo
suado e uma língua envergonhada,
e ao mesmo tempo sob sentença,....

pede-se um texto de devaneio,
a presença oculta de quem os outros
nos lembram,
a presença de versos ofensivos,
com copos de álcool rachados,
e que nos masturbam os lábios,....

eu penso em criação,
nas páginas douradas de
daqui a mil anos,
choradas por uma mente em formação,
se ainda houver chão para pisar,...

não penso em mais nada
que preste,
por isso terá de ser,
bem redigido








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